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O jogo como conteúdo da Educação Física Escolar

Marta Nascimento Marques *; Hugo Norberto Krug *

publicado em 18/07/2009 como <<www.partes.com.br/educacao/ojogocomoconteudo.asp.asp>.

 

Marta Nascimento Marques é especialista em Ciência do Movimento Humano pela UNICRUZ e em Esporte Escolar pela UNB; Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS; Mestranda em Educação – UFSM. martinhanm@yahoo.com.br
Hugo Norberto Krug é Doutor em Educação pela UNICAMP/UFSM e Doutor em Ciência do Movimento Humano pela UFSM; Professor Adjunto do MEN/CE/UFSM; Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (GEPEF). hnkrug@bol.com.br

Resumo: O significado e a importância do jogo na vida humana tem sido objeto de estudos de diferentes áreas de conhecimento. Também sabemos que desde os tempos mais remotos o jogo é uma atividade típica do homem, por isso sempre fez parte dos conteúdos da Educação Física Escolar e cada vez ganha mais espaço nestas aulas, pois é uma atividade da qual as crianças sentem prazer em praticar. O jogo simboliza as mais diversas vivências do nosso dia-a-dia, sendo então uma atividade livre através da qual demonstramos nossa forma de lidar com o mundo, com o outro e com nós mesmos. Desta forma, este ensaio tem como objetivo abordar o jogo como conteúdo da Educação Física Escolar.

Palavras-chave: jogo, aulas, Educação Física Escolar.

Considerações Iniciais

Nas aulas de Educação Física Escolar, observamos que o jogo se manifesta nas crianças de maneira espontânea e descontraída, aliviando a tensão interior, bem como demonstrando expressão de contentamento. As crianças agem sem medo e com educação no comportamento, assim o jogo favorece o desenvolvimento físico, mental, emocional e social.

Nas palavras de Rodrigues (1993) o jogo constitui um veículo educacional muito importante. É um fenômeno cultural e biológico; constitui atividade livre, alegre que encerra um sentido, uma significação; favorece o desenvolvimento corporal; estimula a vida psíquica e a inteligência; contribui para a adaptação ao grupo, preparando a criança para viver em sociedade.

O jogo também assegura o espaço de prazer e aprendizagem, pois aprender com o outro é mais rápido e mais efetivo porque é mais prazeroso. Por isso temos que ter o cuidado para que em nossas aulas este seja mais voltado para o lúdico, pois se o jogo vira obrigação, ou é usado como finalidade de instrução apenas e seguimento de regras, perde seu caráter de espontaneidade e deixa de ser jogo.

O significado dos jogos nas aulas de Educação Física Escolar

Somos conhecedores da importância do jogo como ação pedagógica na escola, desde que este esteja inserido dentro de um planejamento educacional, pois de acordo com Freire (1989), num contexto de educação escolar, o jogo proposto como forma de ensinar conteúdos às crianças aproxima-se muito do trabalho. Não se trata de um jogo qualquer, mas sim de um jogo transformado em um instrumento pedagógico, em um meio de ensino.

É notável que sempre que falamos em jogo nas aulas de Educação Física, há um grande interesse e motivação por parte dos alunos, pois o jogo faz parte da nossa cultura e do nosso dia-a-dia, ele é movimento, e sendo movimento trabalha com o corpo e representa valores sociais e culturais.

Segundo o Coletivo de Autores (1992) o jogo satisfaz as necessidades das crianças, especialmente a necessidade de “ação”. Assim, para entender o avanço da criança no seu desenvolvimento, o professor deve conhecer quais as motivações, tendências e incentivos que a colocam em ação. Não sendo o jogo aspecto dominante da infância, ele deve ser entendido como “fator de desenvolvimento” por estimular a criança no exercício do pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la a agir independente do que ela vê.

De acordo com a ideia do Coletivo de Autores (1992), quando a criança joga, ela opera com o significado de suas ações, o que faz desenvolver sua vontade e, ao mesmo tempo, tornar-se consciente das suas escolhas e decisões. Por isso, o jogo apresenta-se como elemento básico para mudança das necessidades e da consciência.

Ainda num contexto de Educação Física Escolar, o jogo deve ser proposto como uma forma de ensinar, educar e desenvolver no aluno o seu crescimento cognitivo, afetivo-social e psicomotor, facilitando e permitindo a interação com o grupo.

Para Brotto (1999) o jogo é um meio para o desenvolvimento integral do ser humano e de aprimoramento da qualidade de vida.

Por isso quando o conteúdo for jogos nas aulas de Educação Física devemos ter o cuidado para não colocar os alunos a jogar simplesmente para existir um ganhador ou perdedor, mas que através do jogo se busque o crescimento do aluno, como pessoa, como ser humano, que este seja motivado para a aula, que participe do grupo, que se sinta valorizado e acolhido em todos os momentos, com oportunidade de livre expressão, respeitando suas limitações e valorizando suas experiências.

Ainda nesse sentido, segundo Brotto (1999), podemos aprender que o verdadeiro valor do jogo, não está em somente vencer ou perder, mas está também, fundamentalmente, na oportunidade de jogar juntos para transcender a ilusão de sermos separados uns dos outros, e para aperfeiçoar nossa vida em comunidade.

Vale ressaltar a importância de que a metodologia utilizada pelos professores de Educação Física esteja vinculada ao sistema educacional e a uma prática pedagógica intencionalizada de tal modo que quando o conteúdo ministrado for jogos, não tenha simplesmente o objetivo de passar o tempo da aula ou de fazê-lo porque os alunos gostam.

Ao encontro dessa perspectiva, Stumpf (2000) diz que o jogo como parte integrante do conjunto de conteúdos que devem compor a disciplina de Educação Física, caracteriza-se como um conhecimento de indiscutível importância, que não pode ser considerado simplesmente como uma mera atividade utilitária e espontaneísta, desprovido de sentido educativo.

Assim implica dizer que o professor junto com o aluno deverá buscar a construção de novas formas de ensinar e aprender, lembrando que a aprendizagem só acontece quando o aluno começa a buscar por si mesmo o saber, sentindo nele o sabor da descoberta.

Jogos competitivos ou cooperativos: definição que faz a diferença

Brotto (1997) traça algumas diferenças entre os “estilos” dos jogos competitivos e cooperativos. Os jogos competitivos são divertidos apenas para alguns, pois muitos passam a ter um sentimento de derrota e acabam sendo excluídos por falta de habilidade, tornando-se apenas expectadores; em alguns, desenvolve-se um sentimento de desistência face às dificuldades e poucos se tornam bem sucedidos. O autor ainda afirma que, ao praticar jogos cooperativos, todos no grupo são aceitos e por isso, desenvolve-se a autoconfiança e a habilidade, que face às dificuldades é fortalecida, pois o jogo para cada jogador é um caminho de co-evolução.

Neste viés, Orlick (1982) enumera alguns valores para se jogar cooperativamente. Ele nos coloca que entre esses valores encontra-se: aprender a responsabilizar-se por si mesmo e pelo bem-estar dos outros, junto com o jogar limpo, respeitar os outros, alternar formas de vencer, aprender a perder, eleger o objetivo apropriado, e introduzir estratégias para o controle da ansiedade e o desenvolvimento de técnicas básicas de relaxamento.

Para esse autor, o mais importante é ajudar as crianças e adolescentes a verem a si mesmos e os outros como seres humanos igualmente valiosos, tanto na vitória como na derrota. O segredo é ajudar a criança e o adolescente a introduzirem valores adequados no jogo e a controlar a competição e não o contrário.

Complementando esta idéia, Silva (2000) diz que, para praticar os jogos cooperativos na Educação Física Escolar, deve-se aprender a harmonizar conflitos, crises e confrontos, aperfeiçoando a habilidade de viver em sociedade, criando solidariedade, cooperação e companheirismo. Por esse motivo, é que devemos defender a aplicação de jogos cooperativos nas aulas de Educação Física Escolar como instrumento de educação e de transformação social.

Palavras finais sobre o jogo

Após o abordado, faz-se necessário refletir sobre o papel do jogo numa sociedade que está em transformação, valorizando-o como uma parte para a mudança de valores e atitudes do cotidiano, ressaltando que a educação é um processo que precisa atingir a pessoa em sua totalidade, na busca de tudo aquilo que a faz crescer. Assim, a aulas de Educação Física na escola nos parece um ótimo espaço pedagógico para se trabalhar estes propósitos.

Referências

BROTTO, F.O. Jogos cooperativos: se o importante é competir o fundamental é cooperar. Santos: Projeto Cooperação, 1997.

BROTTO, F.O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. Campinas, 1999.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

FREIRE, J.B. Educação de corpo inteiro. São Paulo: Scipioni, 1989.

Orlick, T. The second cooperative sports and games books. New York: Pantheon, 1982.

RODRIGUES, M. Manual teórico e prático de Educação Física infantil. 6. ed. São Paulo: Ícone, 1993.

Silva, C.A.C. da . Jogos cooperativos no contexto das relações sociais – sua aplicação no cotidiano como instrumento de educação social. Brasília: Faculdade de Educação Física/Universidade de Brasília, 2000. Monografia de Especialização.

STUMPF, J.M. O jogo nos dizeres e fazeres dos professores de Educação Física que atuam nas Séries Iniciais de Ensino Fundamental. Caxias do Sul: UCS, 2000. Monografia de Especialização.

* Especialista em Ciência do Movimento Humano pela UNICRUZ e em Esporte Escolar pela UNB; Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS; Mestranda em Educação – UFSM. martinhanm@yahoo.com.br

* Doutor em Educação pela UNICAMP/UFSM e Doutor em Ciência do Movimento Humano pela UFSM; Professor Adjunto do PPGE/MEN/CE/UFSM; Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (GEPEF). hnkrug@bol.com.br

Como citar este artigo:

MARQUES, Marta Nascimento; KRUG, Hugo Norberto. O jogo como conteúdo da Educação Física Escolar. P@rtes (São Paulo). V.00 p.eletrônica. Julho de 2009. Disponível em Acesso em _/_/_.

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