Recursos Hipermídia e os Modelos Mentais: uma Experiência no Ensino de História
Nayara B. de Almeida Vieira e Niltom Vieira Junior
Resumo
Para a produção do aprendizado ocorre a criação de um modelo mental que precede o registro das informações, uma forma de captar e representar internamente tudo aquilo que acontece no mundo externo. Estas representações ganham destaque no imaginário humano para os processos que envolvem a compreensão e imersão em fatos históricos. Este trabalho apresenta o desenvolvimento de recursos hipermídia como suporte ao ensino de história e construção dos modelos mentais, onde resultados experimentais são discutidos.
1. Introdução
Em diversas ocasiões durante uma aula expositiva cujos artifícios se limitam ao formato descritivo e discursivo perde-se a razão do entendimento ou a motivação em acompanhar o que é apresentado. Trata-se de um problema didático comumente identificado onde não há uma melhor estruturação do conhecimento e também não se aplicam estruturas semânticas apoiadas por simbologias que facilitem trabalhar com grandes quantidades de informações (VIEIRA JUNIOR e COLVARA, 2006).
Aliado a isto, existem inúmeros fatores que são comumente apontados como responsáveis pelo desinteresse dos alunos no estudo de história. Stumpf (2009), por exemplo, afirma que o desinteresse pela história do Brasil é reflexo da falta de patriotismo atual. Como forma de contribuir com este quadro, este trabalho incorpora às aulas de história do ensino fundamental a tecnologia como ferramenta de suporte.
2. Tecnologia educacional aplicada ao ensino de história
De acordo com Marcushi (2002) o meio virtual é um campo propício às mudanças e que atualmente encontra-se ao mesmo nível de importância, na esfera das comunicações, que o papel e o som. Isso se deve ao fato de que esta nova abordagem une várias características (texto, som e imagem) em um único mecanismo, flexibilizando a introdução de inúmeras semióticas.
Deve-se ressaltar também que um dos aspectos indispensáveis deste tipo de mídia é a sua ligação direta com a escrita como, por exemplo, no hipertexto que:
…como o próprio nome já diz é algo que está numa posição superior a do texto, que vai além do texto. Dentro do hipertexto existem vários links que permitem tecer o caminho para outras janelas, conectando algumas expressões com novos textos, fazendo com que estes se distanciem da linearidade da página e se pareçam mais com uma rede (RAMAL, 2000).
Hipertexto, portanto, é uma forma não-linear de apresentar informações (texto eletrônico) cuja manipulação depende da ciência e interesse do leitor, onde seus dados podem ser acessados de maneira aleatória, por intermédio de links, dando ao aluno a liberdade de buscar informações conforme suas necessidades. Hipermídia, por sua vez, é a combinação de diversos formatos de apresentação (hipertexto, sons, animações, recursos interativos e etc.) COSTA et al. (1998).
O hipertexto informático deve ser considerado como uma forma de produção textual e dentre as suas principais funções podemos destacar a seleção e ligação de determinadas áreas de sentido, assim como sua conexão a outros documentos relacionados ao texto (LÉVY, 1994). Assim, entende-se que a tecnologia enquanto meio de comunicação, pode inferir diretamente nos processos de aprendizagem.
Para Lévy (1996) os atores da comunicação produzem continuamente o universo de sentido que os une ou que os separa. Na comunicação verbal, por exemplo, uma palavra ativa na mente uma rede de imagens e conceitos que pré-existem na memória. Entretanto quando definida em um contexto lógico, como em uma frase, os nós desta rede são ativados com força suficiente para emergir na consciência e construir um modelo mental que dê sentido e contexto a palavra. Em outras palavras, este processo envolve a criação e a representação na mente de modelos simplificados da realidade, tratados na literatura como modelos mentais, que entre outras características buscam explicar o raciocínio dedutivo e os processos de aprendizagem.
Nesse sentido, cada palavra transforma o estado de excitação da rede semântica e contribui para construir ou reconstruir os modelos, os nós e com isto a própria topologia da rede de significados.
Portanto o uso de recursos hipermídias como slides-show e hipertextos oferecem atalhos para a composição desta rede o que, além, de agilizar a formação de conceitos evita que estruturas errôneas (ou deficientes) possam ser construídas fundadas apenas em experiências prévias dos alunos. Esta hipótese baseia-se no fato de que a memória estrutura-se de modo a compreender e reter melhor tudo aquilo que esteja organizado de acordo com relações espaciais (LÉVY, 1996). Assim, a tecnologia hipermídia retrata um tipo de linguagem propensa a oferecer vias de acesso às redes e modelos mentais de forma rápida e dinâmica, adequando-se com êxito as aplicações no ensino de história.
3. Os modelos mentais
Estudos da psicologia cognitiva demonstram que o homem não capta o mundo exterior diretamente, na realidade constrói representações mentais dele. Segundo MOREIRA (1997) tais representações podem ser classificadas como:
• Analógicas: não-discretas, concretas e não organizadas por regras rígidas. São determinadas pelos sentidos como audição, olfato, tato e visão;
• Proposicionais: discretas, abstratas e organizadas por regras rígidas. Definidas, de modo sucinto, como verbalmente expressáveis.
A síntese de ambas as abordagens configura uma terceira via de representação proposta por Johnson-Laird (1983), denominada modelos mentais. Assim como para a percepção generalizada de eventos externos, para a produção do aprendizado ocorre também a criação de um modelo mental que precede o registro de novas informações (MELEIRO e GIORDAN, 2003). Tem-se, então, que as estruturas criadas para assimilação de um conteúdo a partir das informações apresentadas pelo professor, dão origem aos modelos mentais apresentados. Essa criação é um meio de realizar ações internas e processá-las como se fossem externas, organizando o conhecimento sobre determinado assunto e simulando os processos, fenômenos ou fatos históricos na imaginação humana (BORGES, 1999).
É importante destacar a distinção entre modelos mentais e modelos conceituais apresentados pelo professor (NORMAN, 1983). A existência de uma conexão direta entre um modelo mental e um modelo conceitual é função da experiência prévia do aluno e de sua habilidade em adquirir tal conhecimento associada a do professor em transmiti-lo. Assim, a metodologia e estratégias de ensino são decisivas para propiciar a formulação consistente dos modelos mentais e, por consequência, do aprendizado.
Portanto a utilização da tecnologia educacional, sempre que acompanhada de consciência didática na relação ensino-aprendizagem, aprimora e torna mais eficiente os métodos tradicionais de ensino, considerando que para interpretar e assimilar fatos históricos constantemente é necessário criar estruturas mentais que representem uma viagem no tempo.
4. Experiência
Com o intuito de aprimorar e motivar as aulas de história para alunos do ensino fundamental desenvolveu-se nesse trabalho um recurso hipermídia abordando todo processo de independência do Brasil (Figura 1).
Figura 1 – Recurso hipermídia.
Imagens, textos e áudio deram origem a slides-show editados com o Windows Movie Maker, utilitário disponível no próprio Windows®, entretanto, há também a possibilidade do uso de softwares livres para outras plataformas.
Aliados aos vídeos foram desenvolvidos tutoriais hipertexto com todo suporte teórico necessário ao estudo (Figura 2).
Figura 2 – Material hipertexto.
Este material foi criado no conhecido editor de textos Word (do pacote Office®) e compilado no HTML Help Workshop, um aplicativo para criação de arquivos de ajuda (hipertexto) disponibilizado gratuitamente no site da Microsoft®.
Para motivar a aprendizagem, foi criado ainda um professor virtual que além de instruir a utilização dos recursos, apresenta todo o conteúdo de forma dinâmica e interativa (Figura 3).
Figura 3 – Professor virtual.
Para esta animação utilizou-se o Crazy Talk®, ferramenta que insere fala em imagens ou fotos pessoais. Destaca-se, também, a existência de similares gratuitos disponibilizados na web.
Para fins de avaliação foi feito um estudo de caso com as turmas de 8º ano em uma escola municipal da cidade de Formiga MG onde a primeira autora leciona a disciplina de história. Um grupo de 56 alunos pertencentes a duas turmas participou do experimento, sendo que uma delas utilizou a metodologia tradicional (livros-texto e exercícios de fixação) e na outra se aplicou além dos métodos convencionais, aulas no laboratório de informática. Os alunos foram incentivados a assistir os slides-show e interagir com as informações hipertextuais (Figura 4).
Figura 4 – Experiência.
Para ambas as turmas foram aplicadas as mesmas avaliações objetivas e dissertativas. Os resultados para o aproveitamento médio dos alunos indicaram que o rendimento do grupo que utilizou o computador foi 45% melhor que o primeiro.
5. Conclusão
Com foco na importância da inovação no contexto escolar e incentivo a inclusão, este trabalho objetivou a utilização de redes semânticas melhor elaboradas e o uso de recursos hipermídia como meio de construir modelos mentais consistentes à compreensão e absorção de fatos históricos.
Mostrou, também, que com o uso de recursos disponíveis a maioria das escolas e professores é possível desenvolver ferramentas simples e diferenciadas de apoio a aprendizagem que se adaptem as novas tecnologias e expectativas dos alunos.
6. Referências
BORGES, Antonio Tarciso. Como evoluem os modelos mentais. Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v.1, n.1, set. 1999. Disponível em: <http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v1_n1/1_5.pdf>. Acessado em: 5 jun. 2009.
COSTA, R. M. E. M. ; CARVALHO, Luis Alfredo ; ARAGON, D. Explorando as possibilidades dos Ambientes Virtuais para a Reabilitação Cognitiva. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO, 9, 1998, Fortaleza. Anais… Fortaleza: SBC, 1998.
JOHNSON-LAIRD, P. (1983). Mental models. Cambridge, MA: Harvard University Press. 513p.
LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Tradução Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996.
LÉVY, Pierre. Tecnologias da Inteligência. Tradução Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1994.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In:_______ (Org).Hipertexto e Gêneros Digitais.Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. p.13-67.
MOREIRA, Marco Antonio. Modelos Mentais. In: ENCONTRO SOBRE TEORIA E PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIA – LINGUAGEM, CULTURA E COGNIÇÃO, 1997, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte: FAE/UFMG, 1997.
RAMAL, Andrea Cecilia. Ler e escrever na cultura digital. Porto Alegre: Revista Pátio, ano 4, n. 14, agosto-outubro 2000.
STUMPF, Roberta. TV Câmara. Câmara agora. Desinteresse pela história do país. 2009. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?selecao=MAT&velocidade=100k&Materia=17810>. Acessado em: 01 jun. 2009.
VIEIRA JUNIOR, Niltom; COLVARA, L. D. A importância do professor conforme estilos de aprendizagem e modelos mentais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENSINO DE ENGENHARIA, 34, 2006, Passo Fundo. Anais… Passo Fundo: Associação Brasileira de Ensino de Engenharia, 2006. p. 1239-1250.
VIEIRA, N. B. A. ; VIEIRA JUNIOR , Niltom . Recursos hipermídia e os modelos mentais: uma experiência no ensino de história. P@rtes (São Paulo), v. online, p. 05 jul, 2009.