Ailton Ramalho[*]
publicado em 01/05/2009
www.partes.com.br/contos/tremodoro.asp
Tum-tum-tum.
Lá vai o trem cuspindo fumaça e fagulhas, refletido no olhinho brilhante do menino.
Cabecinha repousando no bracinho dobrado, pescocinho espichado acompanhando a curva a esconder os vagões coloridos.
Sono, intervalo a trazer o trem.
Trem com nome de trem: Trem.
Menino com nome esquisito: Teodoro.
Teodorinho porque pequenino?
Teodoro porque gente?
Um dia o menino desceu de sua janela azul, envidraçada, e pôs o pezinho descalço no trilho reluzente do caminhar do trem.
Tremodoro na mistura de sangue e óleo.
Nunca mais se separaram, menino e trem.
[*] Ailton Ramalho, recifense erradicado na Paraíba desde 1975, é poeta, autor dos livros Poemetria, Obsagem e Grigri (poesia) e Beco de Morar no Medo (contos), escultor, pintor e desenhista. Sua participação no movimento artístico paraibano inclui a conspiração cultural, Cooperativa dos Artistas da Paraíba (Cooperarte) e Nação Maracahyba. Tem artigos publicados em jornais da Paraíba e Pernambuco.