Água potável: desafios e dilemas no século XXI[1]
Márcio Balbino Cavalcante[2]
publicado em 22/03/2009 como www.partes.com.br/socioambiental/aguapotavel.asp
A ideia de que a água é o recurso mais abundante no Planeta Terra não é incorreta, porém, pouco destaque dava-se ao fato de que desta grande abundância, apenas 0,007 % está disponível ao consumo humano, o restante é constituído por águas salgadas, geleiras e águas subterrâneas de difícil captação. A escassez de
água potável é hoje um problema crônico em diversas regiões do mundo, como na África e Ásia.
O Brasil é privilegiado em recursos hídricos. Com 17% de toda a água doce do planeta, conta com a maior área continental úmida do mundo, o Pantanal, e a mais extensa floresta alagada, a várzea amazônica. Teoricamente, cada brasileiro tem cerca de 34 milhões de litros de água à sua disposição. Apesar de todo esse potencial, o país
ainda sofre com a falta de água, o risco de desabastecimento em larga escala pode surgir, tanto no País, decorrente principalmente da utilização inadequada da água.
O Brasil apresenta uma situação de exploração e uso predatório de seus recursos. A poluição das águas, o assoreamento dos rios e o desperdício contribuem para o problema da escassez. Conforme dados do IBGE (2009), as empresas de abastecimento de água brasileiras apresentam índices de perda de água tratada de até 60%. Nas nações desenvolvidas, esses números chegam a no máximo 20%. Por isso, o Brasil é considerado um dos campeões de desperdício de água no mundo.
A constatação geral, nesse início de século, é que a água potável do planeta está acabando e num futuro próximo será um recurso extremamente valioso, capaz de sustentar potências mundiais ou provocar guerras, a exemplo do que acontece hoje com o petróleo. No meio dessa discussão, quando o mais sensato seria conservar essa riqueza a todo custo, estudos apontam para a contaminação do maior reservatório subterrâneo de água doce conhecido no mundo, o nosso Aqüífero Guarani, localizado no sudeste e norte do país, são 45 mil quilômetros cúbicos de água subterrânea, num total de aproximadamente 1,2 milhões de km2 quadrados de área. Em termos de abastecimento, significa dizer que ele pode suprir as necessidades de uma população de 150 milhões de pessoas durante 2,5 mil anos. Com a vantagem adicional de que a água subterrânea, geralmente, não precisa ser tratada para o consumo, pois a filtragem natural das rochas pode alcançar um nível de qualidade que dificilmente seria atingido pelos processos tradicionais.
As causas básicas do crescimento da demanda de água são: o crescimento da população, a urbanização e a expansão da agroindústria, e as perspectivas para o futuro são preocupantes.
Com as perspectivas existentes para as primeiras décadas do século XXI, quanto ao crescimento populacional, o desenvolvimento das cidades deverá respeitar os limites da natureza. As esferas governamentais deverão impor restrições ao crescimento desordenado das cidades, distribuindo de forma racional os centros urbanos, com vistas a minimizar os impactos sobre os recursos hídricos e bens naturais, evitando assim, uma elevação nos custos da manutenção das necessidades básicas de água das populações.
Além das fontes comumente utilizadas para o abastecimento, como é o caso dos nossos rios e nascentes, primeiros a sofrer a sofrer ações negativas da nossa urbanização, condenados a serem depósitos de lixo.
As alternativas exitosas que poderão ser utilizadas para o abastecimento no futuro, podem ser elencadas: a reutilização da água resultante do tratamento de esgotos, também conhecida como água de reuso (esta alternativa por receber um tratamento mais simples e barato que a água potável, possui um preço final menor).
Uma outra alternativa que podemos citar é a utilização da água da chuva para fins alternativos. Essa possibilidade somente será viável em aplicações que dispensam o tratamento de potabilidade, e somente terá eficiência se adotada em locais onde houver incidência de chuvas periódicas. Com a adoção desta medida, obteríamos reduções nos volumes consumidos de água potável, trazendo benefícios econômicos para os consumidores e benefícios ambientais para a sociedade em geral.
A educação ambiental como forma de preservar e demonstrar a importância dos recursos hídricos é um assunto que somente começou a ser abordado no final da década de 70. Até hoje, em pleno século XXI, não é difícil encontrar pessoas que não consideram a importância do problema da escassez da água potável.
A educação ambiental surge como um forte aliado na luta pelo desenvolvimento de uma nova consciência social, política e ecológica comprometida com a preservação das gerações futuras, que passa pelo reconhecimento da fragilidade da Terra, dos limites finitos dos recursos naturais, da nossa dependência do ar, da água, da luz, do calor, da afinidade com todas as formas de vida do planeta, em especial a espécie humana.
Faz-se necessário ressaltar, que embora a água seja a substância mais abundante do planeta, apenas uma pequena parte do total existente no mundo é viável à captação e ao consumo, não estando presente na forma de geleiras, água salgada ou no subsolo a grandes profundidades. A poluição ocasionada pelo uso irresponsável dos recursos hídricos e o crescimento populacional vêm agravando esta realidade.
Contudo, conclui-se que as perspectivas para a gestão da água potável no Brasil são preocupantes, uma vez que o crescimento demográfico e a expansão urbana desordenada vêm atingindo índices muito superiores, se comparados às possibilidades de utilização das fontes de abastecimento, fazendo com que a água seja qualificada como o petróleo do século XXI e consequentemente, motivo de disputas entre os países do globo, ocasionando a geopolítica da água.
Para concluir, saliento que para o problema da escassez da água seja minimizado deve ocorrer a união de esforços, cabendo, portanto, à população conscientizar-se sobre o tema, participando das discussões junto aos comitês de bacias. Às empresas cabe a adoção de tecnologias capazes de reduzir a demanda e o despejo de efluentes nos corpos hídricos. Ao governo, resta a aplicação da legislação existente através da fiscalização do uso dos recursos hídricos e coibindo sua degradação. Somente desta forma se conseguirá reduzir os efeitos deste problema.
[1] Texto produzido para fins de reflexão ao 22 de Março – Dia Mundial da Água, 22 de março de 2009.
[2] Geógrafo – Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Pós-graduado em Ciências Ambientais – FIP/PB. Pesquisador do Terra – Grupo de Pesquisa Urbana, Rural e Ambiental da UEPB/CNPq. É Professor visitante do Instituto Superior de Educação de Cajazeiras – ISEC e Coordenador de Projetos Educacionais da Secretaria Municipal de Educação. cavalcantegeo@bol.com.br