A DIFÍCIL ARTE DE ENVELHECER
Margarete Hülsendeger
Publicada originalmente em publicado em 02/03/2009 como <www.partes.com.br/
Imaginem a cena. É noite, no quarto um casal dorme. De repente, a mulher desperta e joga todas as cobertas para o chão. O homem acorda, coloca as cobertas de volta na cama e tenta retomar o sono. Pouco tempo depois a mesma mulher puxa todas as cobertas para si resmungando que está sentindo frio. O homem suspira e resignado procura se cobrir da melhor maneira possível. Ele sabe que não adianta reclamar; afinal, a situação já vem repetindo-se há alguns meses.
A cena descrita procura ilustrar apenas um dos vários sintomas de uma velha conhecida das mulheres: a menopausa. Todos os profissionais da saúde são unânimes em afirmar que a menopausa não é uma doença, mas um estágio natural da vida pelo qual todas as mulheres passam quando envelhecem. No entanto, para quem a está vivendo, ou já a viveu, com certeza esse não foi um período nada normal. Ao contrário.
Assim como na TPM, durante a menopausa as mulheres passam a ser controladas por seus hormônios, só que desta vez no sentido inverso. Agora, os problemas não estão mais relacionados à flutuação mensal de hormônios na corrente sanguínea, mas à queda das suas taxas. Enquanto na TPM a mulher sofre porque menstrua, na menopausa o sofrimento se deve à iminente interrupção desse mesmo ciclo.
Não há preparação para essa nova etapa. Simplesmente, um dia acorda-se e descobre-se que o tempo passou. As reações a essa constatação variam de mulher para mulher. Algumas encaram essa fase de maneira tranquila, vendo nela apenas um novo estágio em suas vidas. Outras, no entanto, sofrem. Sofrem muito. Sofrem com os sintomas e com a possibilidade, agora concreta, do envelhecimento. Não é por nada que a depressão passa a ser um dos sintomas mais frequentes durante esse período.
Atualmente, existe toda uma série de tratamentos com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da mulher em menopausa: desde a reposição hormonal até o emprego de fitoterápicos. No entanto, sabe-se que para muitas delas a questão está além dos tratamentos. Tudo se resume à dificuldade de encarar o envelhecimento como algo natural.
Ninguém quer envelhecer. Assim como ninguém quer morrer. Contudo, envelhecer e morrer faz parte do ciclo natural da vida. Exercitar a sua aceitação desde cedo é o caminho mais seguro para se manter o corpo e a mente saudáveis. Entretanto, nem todos estão preparados para assumir essa verdade. Ela é um exercício diário que, no caso das mulheres, deveria começar quando ela percebe o quanto o funcionamento do seu corpo é repleto de sutilezas. Sutilezas que os homens, na maioria das vezes, não conseguem compreender.
A confusão masculina é compreensível, afinal eles não passam mensalmente pela TPM e, apesar de vivenciarem algo semelhante à menopausa, conhecida como andropausa, seus sintomas não chegam nem perto dos observados durante aquele período. Portanto, para eles o universo feminino é, em muitos momentos, uma incógnita.
No entanto, assim como na TPM, o apoio masculino é de fundamental importância. Poderia dizer, sem medo de errar, que na menopausa ele é vital. A mulher nesse período precisa se sentir amada e protegida. A insegurança sobre o seu corpo se eleva à enésima potência. Seu desejo sexual fica enormemente reduzido, aumentando ainda mais a falta de confiança em si mesma. Ter ao seu lado um companheiro apoiando-a pode ser a diferença entre uma mulher saudável e outra doente.
É claro que sempre é possível recorrer aos antidepressivos, mas nem mesmo eles irão ajudar se a mulher estiver sentindo-se sozinha. Nesses momentos, ela precisa reconhecer no seu parceiro alguém que esteja disposto a ajudá-la incondicionalmente, sem alarde e, principalmente, sem perder a paciência. A isso se chama amor. E é nele que a mulher, com seus ciclos, suas oscilações hormonais e suas crises, se alimenta e fortalece. E será por meio dele que ela conseguirá ultrapassar mais essa etapa de sua vida. Afinal, como escreve Lya Luft, uma mulher, não importando a idade ou período de vida no qual se encontre, não deve desejar ser uma mulher-maravilha, mas, “apenas uma pessoa vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa… uma mulher”.