Valdicleia Gleise da Silva Costa
publicado em 26/02/2009 como www.partes.com.br/cronicas/estante.asp
Menino arteiro,subiu na estante, pendurando-se aqui e ali.
buscava lá alto o que não encontrava, dependurava-se
Que cara sapeca!
-Encontrou? …
-Não! Procurou, revirou escarafunchou.
beummmmm!!!
Um estrondo e…
Ploc, plac, ploc, ploc, brummmm!!!
Virou a estante sobre o menino.
Menino arteiro ficou espremido entre livros e caixas.
parado, sem lágrimas de olhos arregalados imóvel não se mexia.
Toc ,ToC ,TAm, TAm,TAm, só seu coração.
Uma banda completa acelerada batucando bem alto.
Toc tuc, tuc toc, tram-tram,tram-tram…
-Respira menino! gritou sua mãe!
-Está machucado? Todos em volta e o menino imóvel sem reação.
Repentinamente!!! nada mais que de repente!
Haaaaa!
Achei! achei! Grita o menino com um livro na mão.
Menino arteiro não tem jeito, não!!!
De ponta cabeça, revira o menino toda bagunça que acabara de fazer, não estava satisfeito, queria mais?
O que o menino pretendia?
Apenas escolher… Entre figuras coloridas, letras grandonas, rimas enredo.
Eu quero escolher, o livro certo para o que sinto hoje !
Estou alegre como chuva ligeira que vem correndo atrás da gente nas tardes quentes.
Estou leve como pluma de ninho que caiu devagarzinho empurrada pelo vento rodopiando em círculos, girando subindo lentamente e caindo ligeira no ar.
Estou saltitante como pipoca em microondas louca para pular fora do saco e me esparramar.
Estou quente igualzinho a bolo feito por vovô nas férias de Janeiro nas tardes sem fim de riso e gargalhadas , sem tarefas, sem hora certa só o agora, o agora mais agorinha ainda pro bolo partido na frente do ventilador esfriar.
E o cheiro invadindo o ar…na espera eterna do agora … Já, já!
Estou elétrico feito carrinho novo, barulhento cheio de luzes sirenes e motores, rompendo a sala entre as pernas das cadeiras, bate e volta no tapete rodopia e se enrosca na cortina, até topar no pé de alguém apressado emburrado cheio de “trabalho na cabeça” que ameaça desligar, mas que acaba dando de ombros e desenrosca-o da cortina e outra trilha pela casa sai a agitar.
Hoje estou cheio de força igual formiga posso o mundo carregar, daqui pra lá de lá pra cá.
Que cara tenho hoje? É a cara do livro que quero !
Quero imagens grandes e alegres, quero ler feito quem devora cocada de duas bocanhadas.
Quero uma história emocionante que em seus braços me carregue sem meus pés no chão tocar,e me deixe sonhando me reencontre a cada página que eu folhear.
Quero palavras fáceis! Que as engula ligeira uma a uma sem me chatear , sem a obrigação de ter obrigação de aprender ou depois ter de explicar. Quando não quero falar.
Quero curtir o momento por ser gostoso bebê-los a grades goles, saboreando o que vem depois e depois.
Quero a qualquer momento fechar as páginas por um breve instante e planos traçar, imaginas caminhos cheio de possibilidades inesperadas.
E sem levantar do canto viajar o mundo inteiro, galáxias novas descobrir, ao me enfiar numa gota d’água e novos mundos reencontrar.
Quero escolher pois sei o que quero, não quero uma caixa fechada sem possibilidades.
Se agora sou herói daqui a pouco sou espaçonave, se ontem fui caubói, amanhã luto de espadas.
Ser mutante e não poder mudar de opinião? Ser humano e fazer minhas escolhas dependendo da ocasião.
Que cara tem o livro que quero? É a cara que tenho no momento que escolho. Pois agora é agora e sei o que agora eu quero .
É muito simples o que quero, você não acha?