SERÁ FRESCURA?
Margarete Hülsendeger
Publicado originalmente em publicado em 06/01/2009 como <www.partes.com.br/cronicas/mhulsendeger/frescura.asp>
Tentar explicar a um homem o que é o transtorno disfórico pré-menstrual, vulgo TPM, é como tentar explicar a um marciano a regra do impedimento do futebol. São dois universos tão diferentes que a compreensão se torna quase impossível. Quase.
Alguns homens, infelizmente, ainda acreditam que é tudo um grande exagero. Uma espécie de conspiração feminina. Afinal, como eles também já passaram por períodos de alterações hormonais não conseguem entender a razão para tanto rebuliço. A explosão de testosterona, que ocorre durante a adolescência, aumenta temporariamente o tamanho da amígdala, um componente do sistema límbico, a zona do cérebro responsável relacionada com os sentimentos de ira e medo. Por esse motivo, nessa fase os rapazes se tornam, muitas vezes, briguentos e irascíveis.
Tudo bem. Isso é mesmo verdade. Contudo, é preciso lembrar que esse processo ocorre uma única vez. Eles dificilmente terão de lidar com circunstâncias semelhantes em outras épocas de suas vidas. No entanto, a questão é: e se eles tivessem de passar por isso todos os meses? Repito: todos os meses!
Hoje se sabe que a TPM é um conjunto de sintomas semelhante a uma roleta russa: nunca se sabe quando o gatilho irá disparar. Cada mês pode ser diferente ou dolorosamente igual.
Há diversos sintomas, físicos e psíquicos, que podem variar de mulher para mulher. Entre os físicos, os mais frequentes são inchaço nas pernas, seios sensíveis e doloridos, insônia, dores de cabeça. E, entre os psíquicos, a irritabilidade, a agressividade, o nervosismo e até a depressão. É possível dizer que, em questão de poucas horas, uma mulher normal pode ir de uma euforia cataclísmica a uma depressão catastrófica.
Enquanto isso, os homens, assustados, a tudo assistem sem saber o que pensar ou como agir. É uma época difícil, na qual eles literalmente pisam em ovos. Todavia, é bom esclarecer que essa é uma fase complicada para os dois. Os homens porque, estando debaixo de fogo pesado, não entendem bem o que está acontecendo. E as mulheres porque, sendo reféns de seus hormônios, não conseguem controlar suas reações.
A boa notícia, no entanto, é que nos últimos anos a medicina tem avançado no sentido de encontrar formas de diminuir esses sintomas. Até o momento, muito já se conquistou, não só na área medicamentosa, mas também na forma de tratamentos alternativos. O objetivo é melhorar a qualidade de vida da mulher e daqueles que vivem com ela, pois todos são, de alguma maneira, afetados.
Do mesmo modo, é preciso reconhecer que, apesar de todas as dificuldades, muitos homens já começaram a encarar esse período das vidas de suas mulheres de uma forma totalmente diferente. Eles já se conscientizaram que carinho e paciência, demonstrados de forma explicita, podem ser mais eficazes que qualquer analgésico ou calmante. Essa conquista da compreensão masculina e do respectivo apoio nas épocas de crise tem tornado esse período mais suportável para muitas mulheres e, é claro, para os seus respectivos companheiros.
Simone de Beauvoir já dizia: “Não se nasce mulher: torna-se”. E é justamente esse esforço diário de ser e de se tornar mulher que nos dá o potencial para driblar as dificuldades que nos são impostas todos os meses pela mãe natureza. Afinal, essa é a nossa essência. E, com certeza, não é frescura.