Gilberto da Silva
Vejamos algumas palavras a respeito dos políticos (alguns) e de suas milagrosas obras (se é que elas realizam milagres!).
Obra é construção, trabalho, produção. Mas no vocabulário político obra é visibilidade, matéria de publicidade quase que infinita, repleta de concreticidade (a do concreto), um out-door permanente. As obras dos políticos são geralmente dotadas de superfaturamento com estilos faraônicos e imponentes. Diríamos, em alguns casos, até que repletas de negociações paralelas: UM LEILÃO AMBULANTE. Quem dá mais? Leva!
As obras legitimam o dinheiro público. Os políticos e seus gastos exorbitantes realizam a passagem espetacular do público para o privado!
E tome concreto, ferro, cimento… E tome propaganda, placas comemorativas. Viadutos, estradas, calçadas, obras inaugurais que nunca terminam. Haja cimento para tanta civilização!
O maior prazer do político obreiro é construir, reconstruir, reformar, derrubar, erguer, reerguer, mudar e transformar. É o político em construção. O político obreiro parece ser alicerçado pelas guias da corrupção, plantado e alimentado pelo sistema, que ele mesmo controla. Seremos felizes com tantas obras?
Washington Luis, ex-presidente do Brasil, o mesmo que (dizem) criou a frase “a questão social é caso de Polícia” elaborou uma obra prima do pensamento nacional: “governar é abrir estradas.” Desde então nossos audazes políticos obreiros de plantão teimam em conduzir radicalmente essa máxima. “É cobrir águas”, dirão alguns olhando para as águas lamacentas dos rios poluídos das cidades. A questão social – a obra social – não é obra?
A política social é invisível, não permanente, requer manutenção a todo instante. Política social não ganha eleição. São obras de ficção as implantadas na saúde e educação, você lê, olha os projetos, pensa que é verdade, real, mas é pura obras dos sonhos. A invisibilidade não ganha governos, não produz líderes, impossibilita o domínio do poder.
As obras são urnas fixas, latentes, imponentes. Para o “político obreiro”, as obras não são meios, são fins. Retrato fiel de um objetivo claro: dar aparência ao real. É como o homem que só se satisfaz na vida ao ter um filho, produto do seu ser, reprodução do seu EU. Mais Narciso impossível. Um político insinuava que o oceano era sua obra, se houvesse uma construção na lua seria possível reivindicar para si a autoria. Mas ele tentou ser esperto: inventou uma obra humana, um mal sucedido clone. A obra é do homem e o bicho não come.
O político -e suas obras, matreiramente refaz milagres, transforma água em vinho, despolui rios, transforma a natureza e os bolsos, os nossos e os dele.
Ao colocar as “mãos à obras” condenam à degradação a natureza e os seres mortais.
Gilberto da Silva, editor de Partes, é jornalista e sociólogo
publicado em http://www.partes.com.br/reflexao02.html