Márcio Balbino Cavalcante[*]
publicado em 17/12/2008 como www.partes.com.br/socioambiental/verdadeinconveniente.asp
O Documentário “Uma Verdade Inconveniente”, dirigido por Davis Guggenheim e apresentado pelo ex-vice-presidente americano Al Gore, criado em 2006, apresenta uma realista e impressionante visão do futuro do nosso planeta decorrente da relação histórica do homem com a natureza, e a partir disso discute a evolução do aquecimento global, bem como suas causas, consequências e possíveis soluções. Trata-se na realidade, de um alerta que derruba mitos e conceitos, revelando a mensagem que o superaquecimento global é um perigo real e imediato.
É certo que recentes e preocupantes eventos na natureza, perceptíveis a todos, como o furacão Katrina em New Orleans, EUA, em 2005, têm, por trás, a degradação do meio ambiente feita pelo homem. Com a aceleração de atos destruidores por parte de grandes empresas, indústrias, grandes propriedades agrícolas e mesmo por indivíduos, ocorridas mais precisamente após a Revolução Industrial e, principalmente durante todo o século XX, uma bomba-relógio com efeitos devastadores foi montada.
A fim de tentar informar a população em geral a respeito dos riscos e da necessidade de se fazer algo a respeito, o filme alerta que a menos que diminuam as emissões de dióxido de carbono e outros gases decorrentes das chaminés das indústrias, dos automóveis, das queimadas e o mau gerenciamento dos recursos naturais tem impactado no aquecimento global e nos demais problemas ambientais interligados causarão uma mudança climática irreversível, que acabará com a vida como a conhecemos. Esta é a mensagem do filme, que inclui também exemplos preocupantes dos efeitos catastróficos do aquecimento global, como as rachaduras no Ártico, as geleiras que desaparecem provocando inundações e a previsão no desaparecimento das neves do monte Kilimanjaro.
Sabemos que Os Estados Unidos são os grandes responsáveis por mais de 25% da produção de gases do efeito estufa. Entretanto, no contexto mundial, somos todos responsáveis. É necessária uma mudança radical de atitudes no cotidiano de cada indivíduo, com a procura de alternativas efetivas, ecologicamente corretas para manter o equilíbrio ambiental, e a busca de opções de transporte e de consumo ecologicamente sustentáveis.
Através de uma linguagem simples e direta, o filme de Al Gore envolve o público com os dados e as imagens em slides, reforçadas por gráficos, fotografias, e animações. As fotos apresentadas são alarmantes e mostram, principalmente, como o gelo e a água estão desaparecendo, de forma nítida, de diversas paisagens da Terra. Elas comprovam ainda que não há segredos e lados obscuros envolvendo o aquecimento global. É simplesmente algo incontestável do ponto de vista científico, mas também a olho nu notáveis no nosso dia-a-dia, como o aumento da temperatura, a elevação do nível do mar, a desertificação, a irregularidade no regime das chuvas, e tantos outros eventos ambientais vistos e sentidos por nós.
O documentário “Uma Verdade Inconveniente” é uma oportunidade imperdível de despertar a consciência para a iminência da extinção da raça humana, que até bem recentemente os cientistas só esperavam para os próximos milhares de anos. Mostra que devemos ficar atento às questões socioambientais da atualidade, especialmente ao aquecimento global, que é uma das mais urgentes, e refletir sobre o nosso próprio papel nisso tudo, ocasionando, quem sabe, uma mudança de postura e atitude individuais ecologicamente corretas, a partir da filosofia do desenvolvimento sustentável e da educação ambiental.
Nos últimos segundos do filme, a frase “Você está pronto para mudar seu modo de vida?”, surge em meio a diversas ações fáceis e palpáveis, que já poderiam ter sido incorporadas ao cotidiano e à cultura dos cidadãos de qualquer parte do planeta Terra, promovendo mudanças profundas e significativas, relacionadas aos valores morais, culturais e ideológicos das pessoas, e destas com o ambiente, promovendo uma sociedade socialmente justa e ecologicamente viável. Pois é assim que se transformam as ações, primeiramente as locais, posteriormente, as globalizadas. E é nisso que pode estar toda a solução para um problema aparentemente sem saída.
[*] Geógrafo – Universidade Estadual da Paraíba – UEPB. Pós-graduado em Ciências Ambientais – FIP/PB. Pesquisador do Terra – Grupo de Pesquisa Urbana, Rural e Ambiental da UEPB/CNPq. e Coordenador de Projetos Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Passa e Fica – RN. E-mail: cavalcantegeo@bol.com.br