Maria de Fátima Gomes Medeiros
publicado em 17/12/2008 como <www.partes.com.br/aessencia.asp>
Estando mergulhada nas reminiscências do mundo da minha infância, voltei-me para um dos períodos marcantes de minha história, em que descobri e aprendi as letras. Quando aos sete anos minha mãe, Dalila Vale, minha primeira professora, me conduzia pela mão à escola, já conhecendo o alfabeto que nos ensinara se utilizando da “Carta de ABC” e, depois, matriculava na escola que ficava próxima a nossa casa. Um prédio acolhedor e bonito, porém simples, que se chamava Círculo Operário, onde funcionava a Associação dos Trabalhadores Rurais da cidade de Caicó/RN, que atendia crianças que moravam em seu entorno e bairros circunvizinhos.
Chegando à escola pela primeira vez me deparei com a professora, morena, olhos verdes, cabelos encaracolados, com ares amáveis de uma acolhida agradável às crianças. Não a conhecia. Aquele momento me parecia temeroso, pois estava diante de um ambiente diferente. Mas, logo a professora me conquistou ao fazer uma leitura que falava de uma menina por de nome de Sarita, se tratava da cartilha “Sarita e Seus Amiguinhos”, de Cecy Cordeiro Thoferhrn e Janira Cardias Szechir.
Até hoje, sei exatamente qual a professora que despertou em mim o prazer em ler o mundo e seguir os caminhos da leitura e da escrita, onde pudesse ver e compreender o contexto social, cultural e histórico ao qual estava inserida. Naqueles momentos de construção em que os rabiscos (garatujas) representavam os meus primeiros escritos, a professora Francisca Luzia guiou-me na trajetória do processo de alfabetização, como uma estrela que guia os caminhos dos aprendizes.
É a você Francisca, ou melhor, Dona Francisca, como era chamada naquela época, que homenageio com essas palavras impressas, que aprendi com a senhora, mesmo não sendo mágicas, expressam e demonstram o meu apreço por você, minha gratidão e meus agradecimentos, através delas estão a essência do que é ser PROFESSOR. Cada um a sua maneira, mas mostrando seu potencial, como funciona a magia do ato de ensinar e de aprender para ajudar a milhares de crianças e jovens a desabrocharem e se expressarem, aprenderem e se transformarem, construírem e sonharem com um mundo melhor, fazendo com que se torne realidade.
A professora marcou não somente aqueles momentos de infância, mas minha vida estudantil, quando me conduziu para os caminhos da leitura e da escrita, deixando belas recordações em minha memória, e que até hoje as guardo e com certeza não a esquecerei, pois, os anos se passaram e aquela imagem de “SER PROFESSORA” permanece presente, primeiro, como a professorinha que me ensinou o “bê-á-bá”, depois, como colega de profissão ao nos encontrarmos na Escola Estadual Profª Calpúrnia Caldas de Amorim – EECCAM/Caicó-RN, dividindo os problemas da educação, ou seja, de sala de aula, com colegas e alunos do ensino fundamental e médio.
Hoje, parabenizo pelos seus 70 anos de existência, a quem dedicou, ensinou e aprendeu com muitas crianças, jovens e adultos as mazelas, as belezas e as alegrias da vida fazendo parte da história de cada um de seus alunos, a quem dedico todo o meu aprendizado. É com carinho que faço essa homenagem contando um pouco de sua história.
Francisca Luzia do Nascimento, menina simples, porém, com grande generosidade, de muita luz que iluminou e ilumina e que se deixa iluminar, ao ensinar e aprender com sabedoria os seus conhecimentos. Assim foi sua caminhada como educadora, com seus ensinamentos. Como o próprio Jesus nos diz que somos a luz do mundo e que nossa luz deve brilhar (MT 5, 14), esta foi sua missão, tornar possível a caminhada em busca de uma educação melhor.
Nasceu aos 13 de dezembro de 1938, na cidade de Santa Luzia, no estado da Paraíba, abençoada e protegida pela santa de seu nome, bem escolhido pelos seus pais, Sérvulo Amâncio do Nascimento e Neonízia Mônica de Jesus. Até o momento irradia raios de luzes a quem se aproxima com seu jeito simples e carinhoso.
Não sei muito sobre sua história, mas o que posso narrar é que na sua infância costumava brincar de João Galamate, roda, esconde-esconde, pula-corda, ciranda, anel, entre outras brincadeiras folclóricas da época, em que se divertia com suas colegas, nos terreiros de sua vizinhança. Entre umas de suas traquinices, ainda menina, muito travessa, numa noite de São João ao redor da fogueira, queimou com fogos uma senhora por nome de Cristina, e que com muito medo dos castigos de seu pai foi se esconder debaixo da cama, lá permanecendo por muitas horas, pois sabia que seria castigada, saindo somente após seu pai adormecer. Mas, não ficou por isso, recebeu repreensão no dia seguinte.
Iniciou sua vida escolar no sítio Salãozinho, no município de Jardim do Seridó/RN, sendo sua primeira professora a senhora Nair Belo, estudando com a Carta de ABC, depois foi transferida para a Escola Isolada São Sebastião, na fazenda Umari, no município de Caicó/RN, tendo como professora a senhora Belkissy Medeiros, estudando na cartilha “Sarita e Seus Amiguinhos”.
Mais tarde, na sua juventude, viveu momentos que não foram fáceis, enfrentando dificuldades, trabalhava e estudava para ajudar seus familiares, não tendo, portanto, lazer. Sua primeira festa foi a Colação de grau do 5º ano, no Grupo Escolar Senador Guerra. Depois cursou a Escola Doméstica Darcy Vargas, no Colégio Santa Teresinha e fazendo o curso ginasial no Ginásio Estadual de Caicó, hoje, Centro Educacional José Augusto – CEJA. Dando continuidade aos seus estudos, cursou o antigo Pedagógico, na Escola Normal de Caicó, no período de 1971 a 1973, e guarda boas recordações de seus professores e colegas. Cursou Licenciatura em Disciplinas Especializadas de 2º grau na Universidade Federal do Ceará, indo em seguida lecionar na EECCAM, onde permanece até os dias atuais.
Como profissional, iniciou sua carreira de magistério em 1954 com uma escolinha particular em casa. Ao concluir o 1º grau substituiu a professora Eunice de Medeiros Dantas na Escola São Nicolau, no período de 1956 a 1958. Em 1959, começou a lecionar pela prefeitura de Caicó. Em 1960 fez o curso de treinamento para professores e foi contratada pelo Estado, sendo em seguida nomeada.
Hoje, aos seus 70 anos e com 51 anos de regência de classe – sala de aula – pediu a sua aposentadoria. Esse não era o seu desejo, pois, o espírito vocacional ainda aquece o coração. Ser professora foi gratificante, possibilitou bem-estar, alegria e vibração, apesar da desvalorização das políticas públicas para com o exercício da profissão do magistério.
Dona Francisca, se assim posso chamá-la ao assinar o pedido da aposentadoria, chorou e agradeceu a Deus pelo dom e as virtudes que lhe concedeu. Isso é que chamo de paixão e dedicação por aquilo que fez e se faz, o importante é produzir e ter sempre o prazer pelo que está fazendo por si e pelos outros sem olhar a quem.
O que lhe seduz é a arte de ensinar a lutar por mudanças, reconhecendo falhas e tentando se transformar, acreditando na força da união entre as pessoas e na força do fraco, para a professora, é o melhor aprendizado na vida do ser humano. O seu maior desejo é conhecer Roma, por ser católica. Acredita que Jesus Cristo é filho de Deus feito homem que foi crucificado pelos nossos pecados. Confia em Deus, porque só ele pode lhe mostrar o caminho certo, a verdade, o amor e a fé.
Uma professora como você é inesquecível, que, sem dúvida, influenciou a todos que receberam os seus ensinamentos. É com você que me alegro e solidarizo neste dia. A sua confiança, a sua dedicação, a sua experiência e seu conhecimento construído “tijolo a tijolo” reforçaram o alicerce da minha vida. Parabéns! Professora Francisca Luzia pelo o seu aniversário. São 70 anos de glória!