Vicente Martins
publicado em 02/11/2008
Os modelos behavioristas de intervenções em crianças disléxicas, disgráficas e disortográficas teriam uma base em teoria e método em duas abordagens: (1) psicológica, cuja intervenção psicopedagógica procura examinar do modo mais objetivo o comportamento humano e dos animais, com ênfase nos fatos objetivos (estímulos e reações), sem fazer recurso à introspecção e (2) linguística, cuja intervenção psicopedagógica é apoiada na psicologia behaviorista e proposta inicialmente por L. Bloomfield (1887-1949) e depois por B.F. Skinner (1904-), que busca explicar os fenômenos de erros da comunicação linguística e da significação na língua em termos de estímulos observáveis e respostas produzidas pelos falantes em situações específicas de uso da linguagem escrita.
Esta visão tem caráter empirista, isto é, os profissionais trabalham na perspectiva filosófica de aliar suas atividades, no programa de treinamento, à doutrina segundo a qual todo conhecimento provém unicamente da experiência, limitando-se ao que pode ser captado do mundo externo, pelos sentidos, ou do mundo subjetivo, pela introspecção, sendo geralmente descartadas as verdades reveladas e transcendentes do misticismo, ou apriorísticas e inatas do racionalismo. É, na verdade, o empirismo uma atitude de quem se atém a conhecimentos práticos. No campo da psicopedagogia, especialmente clínica, a abordagem empirista ocorre quando a intervenção se orienta pela experiência, com desprezo por qualquer metodologia científica.
Os modelos inatistas de intervenções em crianças disléxicas, disgráficas e disortográficas teriam uma base a concepção de inato e inatismo. Aqui, as atividades ou programas de treinamento reconheceriam que os disléxicos não são uma tabula rasa, isto é, teriam condições de dar respostas compensatórias, com seu esforço próprio, de suas dificuldades na linguagem escrita.
Os modelos inatistas de intervenção se afirmam na ideia de um caráter inato das ideias no homem, sustentando que independem daquilo que ele experimentou e percebeu após o seu nascimento . Os modelos de intervenção se apoiam na linguística gerativa, hipótese segundo a qual a estrutura da linguagem estaria inscrita no código genético da natureza humana e seria ativada pelo meio após o nascimento do homem.
Numa perspectiva psicolinguística, os modelos de intervenção fazem à teoria de que a criança nasce com uma predisposição biológica para aprender uma língua. Segundo a hipótese do inatismo, o rápido e complexo desenvolvimento da competência gramatical da criança só pode ser explicado pela hipótese de que ela nasceu com uma conhecimento inato de pelo menos alguns dos princípios estruturais universais da linguagem humana. O inatismo se baseia na doutrina que privilegia a razão como meio de conhecimento e explicação da realidade.
O racionalismo é o conjunto de teorias filosóficas (eleatismo, platonismo, cartesianismo etc.) fundamentadas na suposição de que a investigação da verdade, conduzida pelo pensamento puro, ultrapassa em grande medida os dados imediatos oferecidos pelos sentidos e pela experiência.
Exemplo de modelos behavioristas bem sucedidos durante a intervenção dislexiológica podemos extrair entre as sugestões presentes no livro Dislexia: manual de leitura corretiva (Artes Médicas, 1989), de Mabel Condemarín e Marlys Blomquist.
Os profissionais devem ter, preferencialmente, um olha r racionalista sobre as atividades abaixo, apostando que os disléxicos têm competência para responderem, com seus esforços, às propostas de atividades do programa de treinamento.
Segundo Mabel Condemarín e Marlys Blomquist, os elementos fonéticos nos quais os disléxicos tendem a apresentar maior número de problemas referem-se à discriminação de vogais, de letras de grafia similar e de letras de sons próximos.
Com base nas autoras, vamos propor a seguir exercícios para discriminar vogais. A lista de palavras que expomos pode ser utilizada pelo reeducador para grafar as vogais orais iniciais e para ampliar os exemplos de outros exercícios.
Os timbres das vogais indicadas para leitura poderão ser abertos (´) ou fechados (^), conforme a variação regional. Uma observação importante é que elegemos palavras cognatas, isto é, palavras que vêm de uma mesma raiz que outra(s).
Uma vez que os disléxicos apresentam déficit de memória de trabalho as palavras cognatas favorecem a memorização dos itens lexicais. Também os itens lexicais são organizados na forma alfabética exatamente para facilitar a memorização dos mesmos, recursos disponível em programa de word (em tabela, classificar as palavras).
Batizamos aqui esta atividade de atividade de discriminação dos elementos fonéticos das palavras, uma vez que trabalhamos duas habilidades: a consciência fonológica e a memória de trabalho. Podendo, assim, ser aplicada tanto para exercício de leitura em voz (decodificação leitora) como treinamento ortográfico (codificação escritora)
Lista de palavras para serem lidas em voz e levaram os educandos a terem a percepção do sistema vocálico da língua portuguesa: anedota, eletricista, Imortalizar, Ouvidor, Último, Amoroso, Eletricidade, Imortalidade, Ouvido, Úmido, Amor, Eletivo, Imortal, Ouvinte, Universal, Ameixeira, Elenco, Imobilizar, Ouvir, Universalismo, Amável, Elementar, Imobiliária, Ovelha, Universalista, Ameixa, Elemento, Imobilismo, Overdose, Universalizar, Arrastão, Eletrocutar, Imigração, Ovo, Universidade,Anedotário, Elétrico, Imitação, Oxigenar, Universitário, Arrastar, Eletrocussão, Imigrante, Oxigênio, Universo, arrastamento, Eletrizante, Imitar, Oxítono, Urna
No campo da expressão oral, em geral, os disléxicos, disgráficos e disortográficos tendem a confundir auditivamente aqueles fonemas, representados em letras ou grupos de letras (dígrafos), que possuem um ponto de articulação comum. Três conceitos são fundamentais para esta tarefa:
(1) Letra, entendida como cada um dos sinais gráficos que representam, na transcrição de uma língua, um fonema ou grupo de fonemas;
(2) dígrafo, definido como grupo de duas letras us. para representar um único fonema; digrama, monotongo [No português são dígrafos: ch, lh, nh, rr, ss, sc, sç, xc;incluem-se tb. am, an, em, en, im, in, on, om, um, un (que representam vogais nasais), gu e qu antes de e de , e tb. ha, he, hi, ho, hu e, em palavras estrangeiras, th, ph, nn, dd, ck, oo etc.] e
(3) Grafema, definido como unidade de um sistema de escrita que, na escrita alfabética, corresponde às letras (e tb. a outros sinais distintivos, como o hífen, o til, sinais de pontuação, os números etc.), e, na escrita ideográfica, corresponde aos ideogramas.
As letras com sons acusticamente próximos que são mais susceptíveis de ser confundidos são as seguintes: b-p; x-j; d-t; c-j; em menor grau confunde-se m-p-b. As listas de palavras figurativas que apresentamos a seguir podem ser empregadas para ilustrar exercícios.
Lista de signos alfabéticos: d,b, p,t, v,f,c, g,m
Lista de palavras: Dado, Bata, Pau, Taco, Vela, Farol,Cara, Gato, Mapa, Dedo,Bote, Puma,Táxi, Vaso, Foca, Casa, Gola, Macaco, Dois, Boca, Pipa, Touro, Vaca
Fila, Copa, Gota, Mesa, Disco, Baú, Peru, Tubo, Vale, Folha
Calha, Galo, Marco, Ducha, Bala, Parede, teto, Vila, Fogo
Carta, Gordo, Muleta,
As crianças com dislexia, disgrafia e disortografia, geralmente, apresentam dificuldades para o reconhecimento rápido da sílaba com ditongo. Por ditongo, o reeducador deve entender, foneticamente, emissão de dois fonemas vocálicos (vogal e semivogal ou vice-versa) numa mesma sílaba, caracterizada pela vogal, que nela representa o pico de sonoridade, enquanto a semivogal é enfraquecida. Além do ditongo intraverbal – no interior da palavra, como pai, muito -, ocorre em português tb. o ditongo interverbal, entre duas palavras, como p.ex.: Ana e Maria, que exerce papel importante na versificação portuguesa.
Dentro da tradição do ensino gramatical do português, existem dois tipos de ditongo: (1) ditongo crescente, o que tem a semivogal como primeiro som (p.ex., quadro) e (2) ditongo decrescente, aquele que tem a semivogal como segundo som (p.ex., mau).
A lista de palavras com ditongos que apresentamos abaixo pode ser utilizada em diferentes exercícios: leitura em voz alta e treinamento ortográfico.
Lista dos ditongos: ÃE,ÃO,ÕI,OU,EI,EA,IO,IA,ÕE
Lista de palavras a serem trabalhadas em voz alta: Mãe, Pão, Dói, Dou, Hem, Área, Lírio, Várias, Põe, Pães, Mãos, Herói, Louco,Vivem, Áurea, Curioso, Sábia, Limões, capitães, Falam, Constrói, Estoura, Têm, Orquídea, ópio, Constância, Ações.
Vicente Martins é professor da Universidade Estadual vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará. E-mail: vicente.martins@uol.com.br