Educação Educação

Investigação em ambientes virtuais de aprendizagem

Daniele da Silva Martins e Vanessa dos Santos Nogueira

publicado em 01/11/2008 <www.partes.com.br/educacao/ambientesvirtuais.asp>

RESUMO

Daniele da Silva Martins é licenciada em Pedagogia (UNIFRA) – Pós-Graduanda em Gestão Educacional (UFSM)
snvanessa@gmail.com

Neste trabalho utilizamos o blog como ambiente virtual de aprendizagem, sendo este uma ferramenta complementar nas aulas de Educação para o Pensar em uma turma de 2ª série do ensino fundamental. A metodologia constou de atividades que envolveram os alunos em sala de aula e no laboratório de tecnologias, onde foram utilizadas diversos recursos para trabalhar Filosofia em sala e utilizando ambientes virtuais de aprendizagem como forma de interação em comunidades de investigação. Os resultados mostraram que o uso de ambientes virtuais para dar continuidade as comunidades de investigação filosóficas iniciadas em aula levou a uma aprendizagem mais significativa e uma maior reflexão dos alunos em relação ao seu pensamento e dos outros.

Palavras-chaves: Filosofia, Comunidades de Investigação, Ambientes Virtuais de Aprendizagem, Blogs

INTRODUÇÃO

As crianças estão assumindo responsabilidades cada vez mais cedo, apresentando dificuldades de atenção nas aulas, de saber ouvir e saber falar em momentos adequados, de expor e formular opinião crítica dos fatos que lhes são apresentados. Para reverter esse contexto buscamos aliar as aulas de Educação para o Pensar as ferramentas oferecidas pela tecnologia, um espaço online onde as crianças podem além de expor sua opinião, contemplar e intervir nas contribuições dos colegas. O espaço virtual permite que alunos e professores possam visualizar de forma clara as percepções e intervenções dos alunos frente aos temas trabalhos em aula.

Lipman (1990) põe em questão isto, pois por um longo período de anos trabalhou com a lógica com estudantes universitários, assim começou a se preocupar com o valor do curso, fazendo indagações “qual seria o possível benefício que seus alunos obteriam ao estudar regras para determinar a validade dos silogismos ou ao aprender a construir orações contrapositivas.” (FÁVERO, 2002, p. 102)

Vanessa dos Santos Nogueira é licenciada em Pedagogia (URCAMP) – Pós-Graduanda em Gestão Educacional (UFSM)
snvanessa@gmail.com

E ele continuou a se perguntar se o resultado seria o mais importante, foi neste sentido de muitas dúvidas e questionamentos que “[…] levaram Lipman a pensar, hipoteticamente, que o problema não estava propriamente na universidade, mas na educação básica que esses alunos haviam tido. Ele constatou que era possível ajudar as crianças a pensar com maior habilidade.” (FÁVERO, 2002, P. 102)

Então, a partir destas constatações que surgiu a Filosofia para Crianças como uma maneira de repensar a educação e como uma possibilidade de cultivar e desenvolver a excelência no pensar, auxiliando o aluno a pensar por si, num diálogo reflexivo sobre suas relações na realidade em que está inserido. Nessa perspectiva o aluno compreende melhor os fatos e formula conceitos a partir das vivências que possui, analisando e refletindo sobre isso. A Filosofia precisa ser entendida como uma prática reflexiva, já que toda e qualquer decisão consciente requer um ato reflexivo ou uma atitude filosófica.

É necessário e fundamental o aluno ter a oportunidade de se manifestar com opinião própria e formada, favorecendo a aprendizagem na sala de aula e nas decisões da escola no dia-a-dia.

Educação para o Pensar

As aulas de Educação para o Pensar acontecem uma vez por semana mas não se limitam somente a este tempo, seguindo o pensamento de Luft (2000, p.239) quando fala que Filosofia significa “1. Ciência da busca do conhecimento, da origem e do sentido da existência. 2. Sistema ou conjunto de estudos que reúne um determinado ramo do conhecimento (filosofia da história, filosofia grega). 3. Razão, sabedoria.” Assim a busca pelo conhecimento acontece em todos os momentos.

Segundo Lipman (1990, p.28) com a reforma educacional a Filosofia tornou-se supérflua na formação de cientistas e homens de negócios . Deixando, então a Filosofia longe das crianças para assim protegê-las da desordem. A Filosofia foi deixada das crianças devido a sua motivação buscar o sentido verdadeiro das coisas, a questionar, perguntar e isto é a desordem, pois causa problemas. E é realmente o problemático que gera o pensamento, o uso do raciocínio e uso da lógica.

Percebendo esta preocupação de alguns pensadores em subverter as crianças, Lipman (1990) diz que fazer com que os alunos filosofem é um exemplo de como o pensamento de ordem superior pode ser estimulado em uma sala de aula, fazendo uso da comunidade de investigação. Dessa forma, acredita na importância da Filosofia para a formação e que apesar da filosofia ser um caso de paradigma, não é necessário empregá-la para promover o pensamento de ordem superior. E que é possível utilizar a comunidade de investigação a fim de provocar o debate e a reflexão acerca do tema da disciplina. Além disso, uma metodologia de pensamento crítico pode ser usada enquanto uma estrutura para que o conteúdo da disciplina se faça presente na discussão.

É preciso estar sempre buscando formas de promover o desenvolvimento das habilidades cognitivas, nesse sentido estamos em consonância com Lipman (1990, p.38) que nos fala que, quando o espírito de investigação, de descoberta predominar na sala de aula, as crianças por si mesmas, irão trabalhar qualquer conteúdo com vontade e irão se apropriar dos mesmos.

O advento da Filosofia para Crianças exige que o conjunto massivo das obras de filosofia […] seja revisto em linhas gerais para determinar como pode ser seqüenciada ao longo do 1 e 2 graus. Isto deve ser feito sem prejuízo da intensa curiosidade e prontidão para a discussão que as crianças tem em relação com temas filosóficos. (LIPMAN, 1990, p. 39)

Dessa forma, Lipman coloca que este trabalho com a Filosofia e as discussões através de comunidades de investigação precisa favorecer relações e o melhor entendimento e compreensão entre os alunos.

A Filosofia para Crianças surge para problematizar a educação e este é o grande desafio. A partir do momento em que os alunos tiverem formado a sua opinião crítica, quando estiverem lutando pelo que acreditam e usando argumentos coerentes, as salas de aulas e a sociedade não serão mais as mesmas. Lipman (1990) diz que a Filosofia para Crianças é de fundamental importância, pois desenvolve o pensamento crítico, sugerindo que o raciocínio é essencial. Segundo ele, “o maior desapontamento da educação tradicional é “o seu fracasso em produzir pessoas que se aproximem do ideal de racionalidade” (p.34). Para que a educação tenha avanços é preciso formar em nossa sociedade sujeitos pensantes, que possam lutar por uma sociedade igualitária, que raciocinem e tenham excelência neste fazer.

A Filosofia busca o pensar com excelência, o raciocínio, também requer a ressignificação de valores e virtudes possibilitando momentos para discutir. Nesse enfoque, Lipman (1990, p.13) coloca que “[…] a filosofia oferece às crianças a oportunidade de discutir conceitos, tais como o de verdade, que existem em todas as outras disciplinas, mas que não são abertamente examinadas por nenhuma delas”. É preciso dar oportunidades para que as crianças possam viver a sua própria vida, sendo agentes ativos, esclarecidos, que busquem transformar a realidade sem ter medo do diferente, formando conceitos relacionados ao dia-a-dia favorecendo a formação pessoal.

A escola deve ser ativa, participativa e coletiva, pois é através da participação que podemos promover uma educação que propicie o desenvolvimento de um aluno reflexivo, como nos diz Libâneo (2004, p.120) que “Na concepção sócio-crítica, a organização escolar é concebida como sistema que agrega pessoas destacando-se o caráter intencional de suas ações, a importância das interações sociais no seio do grupo e as relações da escola com o contexto sociocultural e político.”

Sendo assim é de muita importância que a função social da escola seja de aproveitar todas as oportunidades e recursos indo atrás e buscando uma melhor qualidade de ensino. E que haja um pensar de ordem superior sobre o que se quer para escola. Conforme Libâneo (2002, p. 55), “ reflexividade é uma característica dos seres racionais conscientes; todos os seres humanos são reflexivos, todos pensamos sobre o que fazemos. A reflexividade é uma auto análise sobre nossas próprias ações, que pode ser feita comigo mesmo ou com os outros”.

Para isso, é necessário que a reflexão seja mais estimulada e desenvolvida vendo-a como algo essencial para o progresso da educação. Se os professores em formação forem melhores capacitados será possível formar alunos comprometidos, reflexivos e críticos. Libâneo, também, faz alusão a “reflexividade como consciência dos meus próprios atos, isto é da reflexão como conhecimento do conhecimento, o ato de eu pensar sobre min mesmo, pensar sobre o conteúdo da minha mente” ( 2002, p. 56). Nesse enfoque, salienta-se que só se chegará a educação e escola ideal se realmente houver um comprometimento com o que se propõe e a autoanálise cotidianamente da prática pedagógica docente.

O trabalho da Filosofia para as Crianças será possível, onde os alunos e os educadores se comprometem com o mesmo, percebendo que é possível trabalhar com a educação para o pensar. Para isto é necessário que os gestores sintam-se instigados a buscar alternativas de aprimorar o processo de ensino-aprendizagem da criança pela reflexão. Assim, sendo possível haver uma mudança na educação, no sentido de formar homens críticos, reflexivos e preparados para viver numa sociedade conturbada.

METODOLOGIA

O trabalho tem início com uma atividade de leitura de um texto problematizador pela professora em sala de aula uma vez por semana, esse texto é apresentado as crianças sempre utilizando um recurso visual como cartazes, fantoches, reportagens, caixa surpresa, histórias em quadrinhos…a partir disto é realizada a compreensão e problematização do texto com uma discussão filosófica. Após a discussão filosófica é feito o registro pelos alunos, esse registro pode ser feito com desenhos, poesias, teatro, produção de texto coletivo ou individual.

Depois que é realizado o trabalho em sala de aula é postado no blog da turma o registro da atividade com fotos e imagens que possibilitem a visualização dos alunos, permitindo que eles expressem sua opinião crítica e se posicionem sobre o pensamento dos colegas.

Podemos observar os comentários dos alunos no Blog Nossa Turma na Internet (2008)

Ontem quando nós chegamos na aula a professora Daniele disse que ia contar uma história que era o segredo da lagartixa e também eu e o meu colega gostamos da história e agora o meu colega vai contar um pouco da história. Foi muito legal a história o segredo da lagartixa e também aprendemos que nós devemos repartir o amor. (Comentário A)

Nós gostamos muito da aula de educação para o pensar… O nome da história era o segredo da lagartixa e nós gostamos da aula, porque ela ensinou a não ser egoísta e não ser ruim para as pessoas. (Comentário B)

Nós concordamos com você e também aprendemos a não ser egoístas. (Comentário C)

Figura 1 – Blog da turma com o registro da aula de Educação para o Pensar. (Fonte: ref. [6]).

Figura 1 – Blog da turma com o registro da aula de Educação para o Pensar.

(Fonte: ref. [6]).

 

Ao observar os comentários dos alunos podemos afirmar que o blog é usado como ambiente virtual de aprendizagem que oferece aos alunos a possibilidade de expressar seus pensamentos livremente, podendo visualizar as produções de toda a turma e interagir com seus colegas.

Essa afirmação segue o pensamento de Vieira & Luciano (2006):

O estudante deixa de ser ensinado, pois o ambiente virtual de aprendizagem oferece condições para que ele possa aprender e construir seu conhecimento. O uso de novas tecnologias, dentro desta perspectiva, deverá ser o de explorar as particularidades e possibilidades de trocas qualitativas no ambiente de aprendizagem, entre aluno e professor, aluno-aluno e aluno- ambiente. As trocas serão a essência, e não somente uma apresentação mais agradável de conteúdos.

Destacamos que a utilização de um ambiente virtual de aprendizagem não é garantia de uma aprendizagem significativa, esse trabalho deve estar entrelaçado com os conhecimentos e competências que são desenvolvidas pelo professor.

DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

Para realizar um trabalho de qualidade é preciso transformar a sala de aula num palco de debates, onde os educandos deverão ser estimulados a investigar, buscar e construir os seus próprios conceitos, formular hipóteses e realizar análises acerca de acontecimentos. O essencial para que isto ocorra é o diálogo, pois depende dos objetivos, motivos, interesses da comunidade de investigação.

O professor precisa ter uma postura crítica, emancipatória e ter uma visão diferenciada do enfoque tradicional da educação, no sentido de favorecer uma formação significativa ao educando. Tendo a função de mediar o acontecimento da aula, pois a turma precisa sentir segurança na sua atuação e vê-lo como alguém que é parte integrante da comunidade de investigação; que está ali para orientar e auxiliar nas discussões usando estratégias adequadas de diálogo e disposto a crescer junto.

Nessa perspectiva o professor deve se apropriar das diversas possibilidades disponibilizadas pela tecnologia, a fim de oferecer ao aluno um trabalho diversificado. As atividades desenvolvidas em um ambiente virtual de aprendizagem direciona a utilização da internet para a transformação de informações em conhecimento, onde o professor passa a mediar esse processo. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem, segundo Vieira & Luciano (2006):

São cenários que envolvem interfaces instrucionais para a interação de aprendizes. Incluem ferramentas para atuação autônoma e automonitorada, oferecendo recursos para aprendizagem coletiva e individual. O foco desse ambiente é a aprendizagem. Não é suficiente “escrever páginas”, é preciso programar interações, reflexões e o estabelecimento de relações que conduzam a reconstrução de conceitos.

Esse trabalho nos mostra que a utilização de ambientes virtuais de aprendizagem para desenvolver comunidades de investigação contribuindo para a concentração, atenção, bem como para respeitar a opinião do outro. Abandonando o saber individual, desvelando a Filosofia para crianças como algo a ser partilhado por todos, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem significativo em rede.

REFERÊNCIAS

[1] FÁVERO, A . RAUBER, J.; KOHAN, W. Um olhar sobre o ensino de Filosofia. Ijuí: Editora Unijuí, 2002.

[2] LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

[3] LUFT, C. P. Minidicionário Luft. São Paulo: Ática, 2000.

[4] LIPMAN, M. A Filosofia vai à escola. São Paulo: Summus, 1990

[5] LIBÂNEO, J. C. Reflexividade e formação de professores: outra oscilação do pensamento lógico? In: Pimenta, S. G. (org.) Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conselho. SP: Cortez, 2002.

[6] NOSSA TURMA NA INTERNET. Educação para o Pensar. Disponível em <http://nossaturmanainternet.blogspot.com/2008/09/educao-para-o-pensar.html>. Acesso em 29 de setembro de 2008.

[7] VIEIRA, Martha Barcellos & LUCIANO, Naura Andrade. Construção e Reconstrução de um Ambiente de Aprendizagem para Educação à Distância. Disponível em <http://www2.abed.org.br/visualizaDocumento.asp?Documento_ID=28>. Acesso em 17 de julho de 2008.

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