Por Gilberto da Silva
As relações no mundo do trabalho vêm mudando constantemente. A solidariedade perde espaço para atitudes individualistas, ações de desprezo, provocações, inveja, perseguições, boataria e clima de terror nas repartições de trabalho. Os que têm emprego sofrem cada vez mais a pressão da flexibilidade, do fantasma do desemprego e trabalham cada dia mais intensamente, num círculo de medo, competição e terror.
É sabido que trabalhar vem do latim vulgar “tripaliare”, que significa torturar e derivado do latim clássico “tripalium”, antigo instrumento de tortura para aumentar a produção. Mais tarde, a palavra foi ganhando outros significados, como esforçar-se, lutar, pugnar, e até recentemente, realizar-se.
Surge, com isso, novas formas de patologias ligadas ao problema: doenças ocasionadas por esforços repetitivos, stress, falta de auto estima, etc. Tal guerra, cujos efeitos muitas vezes se restringem aos consultórios de médicos e psicólogos, ganhou recentemente um novo front quando na França a psicoterapeuta Marie-France Hirigoyen, autora do livro Assédio Moral – a violência perversa do cotidiano, apresentou os números de um “novo” fenômeno nocivo a saúde do trabalhador denominado assédio moral. Em sua definição, considera-se assédio moral todo tipo de ação, gesto ou palavra que atinja, pela repetição, a autoestima e a segurança de um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira profissional ou à estabilidade do vínculo empregatício do funcionário, tais como: marcar tarefas com prazos impossíveis; passar alguém de uma área de responsabilidade para funções triviais; tomar crédito de ideias de outros; ignorar ou excluir um funcionário só se dirigindo a ele através de terceiros; sonegar informações de forma insistente; espalhar rumores maliciosos; criticar com persistência; e subestimar esforços.
A pesquisa feita por Hirigoyen constatou que só na França 2 milhões de pessoas se dizem vítimas de assédio moral. Os resultados dessa “guerra invisível” são destrutivos ao ambiente de trabalho. Uma vítima de assédio moral não atinge mais seu pleno potencial de trabalho, torna-se inativo, ineficiente, perde a autoestima, começa a duvidar de si mesmo, sente-se humilhado e aterrorizado com a perseguição psicológica em que está sendo submetido. Dificilmente encontra a solidariedade de outros colegas, pois se o assediador é o chefe, é natural que todos sintam medo de ser o “próximo”.
No Brasil, a médica do trabalho e mestre em psicologia Social pela PUC, Dra Margarida Barreto, realizou uma pesquisa com 2072 trabalhadores e chegou a conclusão que 870 sofreram casos de humilhação no trabalho. Um número extremamente alto!
Faz-se necessário, diante de um cenário repleto de humilhações, adotarmos limites legais que preservem a integridade física e mental dos trabalhadores, sob pena de perpetuarmos uma “guerra invisível”, de difícil diagnóstico e, às vezes, travestida de puro jogo de poder, nas relações de trabalho.
Sabemos que a nossa iniciativa não é a solução definitiva do problema, pois é bem verdade que o sistema de trabalho hoje propicia esse tipo de comportamento ao tratar o trabalhador como um objeto descartável. E se o problema existe é nosso função criarmos condições mais harmônicas nas repartições e resguardar a saúde do trabalhador.