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Costurando saberes através da colcha de retalhos: aprendendo a dialogar com diferentes áreas do saber

Fernanda Gabriela Soares dos Santos*[1]
Décio Luciano Squarcieri de Oliveira**

publicado em 04/10/2008 como www.partes.com.br/educacao/costurandosaberes.asp

Fernanda Gabriela Soares dos Santos Mestre em Educação pelo PPGE/UFSM, professora da FISMA( Faculdade Integrada de Santa Maria). fernandagssantos@yahoo.com.br

A interdisciplinariedade parece que tem sido assunto em voga nas rodas de debate sobre educação. Não raro nos deparamos com discursos na academia fazendo uma defesa concisa sobre a importância de mostrarmos aos nossos alunos o diálogo entre as áreas de saber das mais diferentes disciplinas. A pergunta norteadora é: como esse passeio deve ser feito? Quais os caminhos a serem percorridos? Como mostrar metaforicamente aos nossos alunos que os conhecimentos estão interligados?

Em uma tentativa lançada por dois educadores advindos da Filosofia e da História, respectivamente, mostramos através da Colcha de retalhos o que deve ser esse caminho interdisciplinar. Para além de um discurso que nos molda, uma prática que nos constitui. Ao invés de um livro pesado de teoria, uma tarde de pura vivência de arte com alunos de diferentes licenciaturas que no Fórum mundial de educação, em alguns momentos não se disseram professores, mas alunos também compartilhando espaços e aprendendo através do lúdico: em um pedaço qualquer de tecido transcendendo sua disciplina e brincando com o material disponível.

O título da oficina era esse: “Colcha de retalhos: significações de um momento compartilhado com um grupo de educadores”. Nós, oficineiros, imaginávamos que apareceriam para nosso trabalho-brincadeira professores das ciências humanas, sobretudo. Nossa surpresa maior se deu com uma professora de matemática, que ao longo da atividade se mostrou a mais motivada com o trabalho. Nenhum homem se dispôs a compartilhar a oficina conosco.

De alguma maneira e em diferentes momentos a oficina mostrou nossas áreas dialogando, quando sérios contávamos nossas vivências em salas de aula e ríamos das brincadeiras de alunos: além dos educadores que somos a oficina também mostrava as pessoas que somos: quando escolhemos o tecido escuro e não o claro, quando escolhemos tinta ou canetinha, ou quando simplesmente torcemos o nariz para o resultado, pois esperávamos uma colcha de retalhos mais refinada e não desorganizada e levemente alinhavada, tal como fica o resultado final.

Décio Luciano Squarcieri de Oliveira é Graduado em História – Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Santa Maria. Especialista em História do Brasil/UFSM, Mestrando em Educação/UFSM, Professor Pesquisador I da Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFSM, Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Imaginário Social – GEPEIS – UFSM. decioluciano@yahoo.com.br

Para FREIRE (1987, p.22): ”Através de sua permanente ação transformadora da realidade objetiva, os homens, simultaneamente, criam a história e se fazem seres histórico – sociais.”

Expusemos para os educadores que se fazemos um discurso sobre a importância do diálogo entre as disciplinas também devemos fazê-lo e não apenas adorná-lo.

            Muitos de nós jamais precisaremos deste discurso, pois em nossas aulas sempre contextualizamos com um filme, uma poesia, um trecho de música. A intertextualidade, a costura entre os saberes se mostra de forma tão natural, que não se faz necessária uma discussão separada. Contudo, vários de nós viemos de uma formação mais rígida em que a aula era restritamente uma transmissão de conteúdos e possuímos uma dificuldade muito grande de nos desligarmos de certos vícios.

          É para estes que a colcha serve: para uma tarde fria como a que a confeccionamos nos sentirmos próximos. Sabermos que mesmo com diferentes olhares, histórias de vida e visões de mundo estamos todos trilhando um mesmo caminho: lutando por uma educação mais digna e justa do que a que tivemos.. Lutando para que nossos alunos não evadam, não tenham fracasso, não abandonem para sempre os bancos escolares. É por estes motivos que devemos nos unir.

        Para CHAUÍ ( 2002, p. 11):

Como se pode notar, nossa vida cotidiana é toda feita de crenças religiosas, da aceitação tácita de evidencias que [2]nunca questionamos porque nos parecem naturais, óbvias. Cremos no espaço, no tempo, na realidade, na qualidade, na quantidade, na verdade, na diferença entre realidade e sonho ou loucura, entre verdade e mentira; cremos também na objetividade e na diferença entre ela e a subjetividade, na existência da vontade, da liberdade, do bem e do mal, da moral, da sociedade.

Também sob este olhar a Colcha pode ser considerada: espaço habitado por diferentes pessoas, cada qual com sua maneira única de ver o mundo, entrecruzando estes diferentes caminhos a colcha é tecida, a partir de aceitações e negações, valores que se unem e se dissociam, vidas que se cruzam, olhares que vão para além da ótica que a escola oferece. E, para não perder a ternura, a inesquecível frase do Caetano: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

Referências

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, SP: Editora Ática, 12ª ed., 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, JR: Editora Paz e Terra, 17ª Edição, 1987.

* Professora de Filosofia da Rede Municipal de Formigueiro, RS e mestranda em Educação pelo PPGE/UFSM- fernandagssantos@yahoo.com.br

** Professor de História, Especialista em História do Brasil, Professor Substituto do Departamento de Metodologia do Ensino – MEN –CE-UFSM- decioluciano@yahoo.com.br

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