Clézio dos Santos[*]
publicado em 01/09/2008
O Atlas Escolar, um material didático presente nas aulas de geografia, mas pouco explorado. Ele é um importante instrumento de ensino aprendizagem da geografia no ambiente escolar. Novos estudos vêm sendo desenvolvidos pela área de cartografia escolar no Brasil, onde novos formatos de Atlas escolares estão sendo construídos e testados.
Segundo AGUIAR (1997) Um Atlas pode ser definido como uma publicação formada por um conjunto de mapas acompanhada, ou não, de diagramas, textos explicativos, glossário, bibliografia e outros documentos anexos, tais como bandeiras, informações a respeito de alguns países ou orientações sobre como usá-lo. Os Atlas podem ser mundiais, regionais, nacionais, escolares ou ainda, temáticos (climático, de vegetação, da fauna…).
O Atlas escolar serve como apoio ao ensino nas aulas de Geografia e no desenvolvimento de trabalhos. Em muitas escolas fazem parte da lista de materiais a serem adquiridos e raramente faltam nas bibliotecas escolares até mesmo nas pouco equipadas. Os Atlas escolares apareceram no século XIX com a inclusão da Geografia nos currículos escolares. Porém, “na maior parte das vezes, ele ainda é um peso na mochila”, ou mesmo “um objeto pouco folheado nas bibliotecas”. Isto porque muitos professores ainda não sabem utilizar esse precioso instrumento para enriquecer suas aulas.
“Os Atlas geográficos vinculam-se a uma interface entre Geografia e Cartografia e sua definição usual é a de uma coleção ordenada de mapas com o propósito de representar um dado e expor um ou vários temas.” (AGUIAR,1997, p.12).
Em seu Atlas Général, publicado na França em 1894, Vidal de la Blache já tinha incluído encartes e diagramas em grande quantidade para seguir a seguinte concepção: um Atlas que facilite as comparações e, conseqüentemente, o entendimento e o conhecimento do espaço geográfico.
LE SANN & ALMEIDA (2002) apresentam algumas idéias para o ensino com Atlas geográficos. Como todo compêndio, um Atlas apresenta uma organização dada por seu conteúdo. Os Atlas trazem, geralmente, uma seqüência de pranchas que apresentam mapas temáticos, partindo de planisférios para mapas continentais e, depois, regionais. Então, o trabalho didático com Atlas deve começar por levar os estudantes a aprender como “entrar” em um Atlas e saber o que podem encontrar aí. Os mais completos possuem um índice analítico que possibilita localizar rapidamente o que se deseja, indicando um nome, a que se refere, em que país fica, a página e a quadrícula onde se encontra. Por exemplo, a seqüência “Guaratuba Cid BRA (PR) 109 3B” pode ser assim entendida: “Guaratuba Cid” significa que é o nome de uma cidade; “BRA (PR)” refere-se ao Brasil (estado do Paraná); 109 é o número da página onde se encontra essa cidade e 3B indica em que quadrícula.
As práticas de sala de aula devem possibilitar aos alunos:
– aprender a manusear o Atlas, iniciando pela consulta do índice;
– identificar as diferentes seções e seu conteúdo;
– perceber que o Atlas apresenta primeiro mapas de toda a superfície da Terra, depois mapas que abrangem áreas menores, como continentes, países e regiões;
– comparar mapas e estabelecer relações entre eles;
– perceber a distribuição geográfica dos fenômenos ou dos dados mapeados.
Uma sugestão de atividade interessante e simples é pedir para os alunos formarem grupos, usando vários exemplares do mesmo Atlas. Eles devem abri-los nas páginas que apresentam os seguintes mapas políticos: planisfério, continente americano, América do Sul, Brasil, mapa da região brasileira onde se localiza a cidade na qual os alunos moram. Os alunos devem justapor os Atlas nessa seqüência e discutir as seguintes perguntas: O que acontece com as áreas abrangidas, do primeiro para o último mapa? O que acontece com os detalhes apresentados em cada um dos mapas? Irão perceber que os detalhes aumentam conforme a área abrangida diminui. Por exemplo, no mapa regional é possível ver cidades, rios, estradas etc. que não apareciam nos mapas anteriores. Isso é chamado de generalização cartográfica, que consiste na relação entre a área abrangida pelo mapa e a quantidade de informação que ele apresenta. Esse conceito está vinculado ao de escala, isto é, quanto mais uma área é reduzida, menos detalhes podem ser incluídos e maior é a área abrangida pelo mapa.
Em 1997, Valéria Aguiar chamava a atenção da comunidade científica para a necessidade de produzir Atlas locais e municipais para atender às necessidades de trabalhar os conceitos geográficos, partindo do espaço vivido pelo aluno.
Nesse sentido, diversos professores e pesquisadores ligados ao grupo de cartografia escolar no Brasil elaboraram Atlas locais. Desde o início da década de 1990, vários foram os Atlas municipais escolares produzidos no Brasil, destacamos Atlas Escolar Ijuí (1994), Atlas Escolar de Gouveia (1997), Atlas Geográfico de Juiz de Fora (2000), Atlas Escolar da Cidade do Rio de Janeiro (2002), Atlas Geográfico, Histórico e Ambiental de Rio Claro (2002), e Atlas escolar de Santo André (2005).
Com a intenção de contribuir para que outros também desenvolvam Atlas para sua cidade, LE SANN & ALMEIDA (2002) apresentaram em seu texto, disponível no site: www.saltoparaofuturo.gov.br, duas experiências brasileiras de produção de Atlas escolares municipais interativos, valem à pena conferir.
Os Atlas escolares devem estar mais presentes dentro da sala de aula na disciplina escolar de geografia, seja no ensino fundamental como no médio.
O desafio de produzir Atlas locais e municipais próprios se transforma num grande desafio metodológico que pode envolver toda a escola num trabalho interdisciplinar propiciando um ambiente de ensino-aprendizagem ainda mais rico.
Referências
AGUIAR, V.T.B., Valéria. Atlas Geográfico Escolar de Juiz de Fora. Juiz de Fora; ED. UFJF, 2000.
AGUIAR, V.T.B., Valéria. Os Atlas de Geografia: Peso na mochila do aluno? In: Revista Geografia e Ensino, Belo Horizonte, v. 6, n. 1. p. 39-42, 1997.
ALMEIDA, Rosângela Doin de. (Org.) Cartografia Escolar. São Paulo, Contexto, 2007.
ALMEIDA, Rosângela Doin de. Atlas Municipal Escolar. Geográfico, histórico, ambiental. Rio Claro – SP. Rio Claro: FAPESP: Prefeitura Municipal de Rio Claro: UNESP – Campus de Rio Claro, 2002.
FERREIRA, Graça Maria Lemos; MARTINELLI, Marcello. Atlas geográfico. Espaço mundial. São Paulo: Editora Moderna. 1999.
GECART-FSA. Atlas escolar de Santo André. Santo André, FSA, 2005.
LA BLACHE, Vidal de. Atlas Général. Paris: Librairie Armand Colin, 1921. (Primeira edição: 1984).
LESANN, J. G. Dar o peixe ou ensinar a pescar? Do papel do Atlas escolar no Ensino Fundamental. Anais do II Colóquio Cartografia para Crianças. In: Revista Geografia e Ensino, Belo Horizonte, v. 6, n.1. p. 31-34, março de 1997.
LESANN, Janine Gisèle; SILVA, Míriam Aparecida Bueno, MOURA, Ana Clara Mourão. Atlas escolar de Gouveia. Diamantina: Prefeitura Municipal de Gouveia, 1997. 2a ed., 1998. 3a ed., 1999.
RIO DE JANEIRO. Prefeitura Municipal. Atlas Escolar da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Educação, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, Gráfica da Cidade, 2000.
[*] Graduado e mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutorando em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é professor titular do Colegiado de Geografia do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA) e do Centro Universitário Assunção (UNIFAI). Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Ensino de Geografia e em Cartografia, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de geografia, geografia, cartografia, cartografia escolar, turismo e formação de professores.