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A prática da pesquisa em educação: História, desafios e possibilidades

Franciele Roos da Silva Ilha

publicado em 01/09/2008 como www.partes.com.br/educacao/praticadapesquisa.asp

Franciele Roos da Silva Ilha – Licenciada em Educação Física pela UFSM; Especializanda em Educação Física Escolar e Gestão Educacional pela UFSM; Mestranda em Educação pela UFSM

Ao situar a Educação no contexto da pesquisa realiza-se uma reflexão bastante recente, pois esta ganhou foco há pouco tempo em relação aos estudos que vem sendo realizados na área das ciências naturais. Assim sendo, não é em vão que as questões referentes à melhora da qualidade dos meios sociais e educacionais caminham tão lentamente, e são colocados em segundo plano pelas autoridades do nosso país, bem como o financiamento de estudos referentes a esse âmbito.

 Nesse sentido, as angústias e inquietações surgem devido à consciência de profissionais que atuam no contexto social e compreendem a importância da pesquisa para a formação dos alunos e o desenvolvimento profissional dos docentes. Complementando essa ideia, Nóvoa (apud LÜDKE, 1995) defende que a pesquisa na atividade do professor precisa transformar não só sua prática, mas também o seu contexto. Para se atingir tais objetivos, tornam-se importante constituir-se como um profissional reflexivo, que reflete antes, durante e após sua atuação, buscando avaliar sua própria prática (PÉREZ GÓMEZ apud LÜDKE, 1995).

Comprometida com essas questões instigantes, Gatti (2002) relata que a pesquisa pode ser realizada de forma simples em nosso cotidiano, quando pesquisamos uma palavra no dicionário ou tentamos descobrir o melhor tempero para temperar determinada comida. Porém, quando buscamos ultrapassar a compreensão imediata de certo conhecimento, que pode até mesmo negar o entendido anteriormente, procurando ir além dos fatos e descobrir o que está implícito, tendo como base um referencial teórico, estaremos fazendo pesquisa científica.

         Dessa forma, segue a compreensão da autora, percorremos certos caminhos que nos dão certa segurança, porque não há conhecimento absoluto e definitivo, eles são sempre relativizados sintetizados sob certas condições, dependendo das teorias e métodos que o pesquisador escolhe, devendo essas ter coerência entre si. Fazer pesquisa é fazer escolhas. Não há um modelo de pesquisa científica, nem o método científico, há sim caminhos já trilhados por pesquisadores experientes que nos ajudam a trilhar os nossos com maior segurança. Tendo em vista que o próprio pesquisador apresenta em seu trabalho comportamentos e visões peculiares. Assim, o conhecimento obtido pela pesquisa é um conhecimento situado – através de momentos históricos e das escolhas e olhares do pesquisador, qualquer que seja a natureza desses dados.

         Diante disso, o aluno ao ingressar na universidade depara-se com duas situações: ser acadêmico e ter que fazer ciência (DALAROSA, 2000). Sendo que, o conhecimento nesta instituição não pode ficar restrito ao senso comum, pois para tudo que fazemos é necessário determinado método, e em se tratando de ciência esse método deve ser científico (BONIN, 2006). Dalarosa (2000) diz que se não exercitarmos a pesquisa científica na universidade, corremos o risco de não termos contato com esta ao longo de nossa vida. Uma questão complicada é o resultado de três aspectos relevantes que abordam esse contexto: a concepção de que uma “certa ciência” é a dona da verdade; de que a pesquisa é tida como algo a par do contexto do currículo e das disciplinas e; a concepção equivocada de que metodologia é um mero caminho técnico para ser seguido em uma investigação.

         Assim, a pesquisa precisa ser contemplada como definição inerente à prática pedagógica, consistindo-se num compromisso intrínseco ao ofício de mestre, já que se entende que “o professor que não constrói conhecimento, como atitude cotidiana, nunca foi. Quem pesquisa, teria o que transmitir. Quem não pesquisa, sequer para transmitir serve, pois não vai além da cópia da cópia” (DEMO, 1994, p.34).

         Dessa forma, segundo Dalarosa (2000) a ciência representa o resultado do processo de elaboração do conhecimento científico exercida pelo ser humano, podendo estar marcada de riquezas e precariedades inerentes ao seu pesquisador. Ela constitui um mundo a construir, parte de uma realidade e de um questionamento. Para o autor a pesquisa como um meio de construir conhecimento, uma investigação para solucionar um problema, sendo que existe uma ordem na elaboração e no seu desenvolvimento, pois se faz ciência (fim) através da pesquisa (processo) e com a utilização da metodologia (caminhos). Tendo em vista esse processo de complexo de construção, pesquisar em Educação requer comprometimento, já que “significa trabalhar com algo relativo a seres humanos ou eles mesmos” (GATTI, 2002, p.12).

No contexto educativo geralmente desenvolvem-se pesquisas qualitativas, sendo que segundo Gamboa (1995, p.61) esta “proporciona a busca de novas alternativas para o conhecimento de uma realidade tão dinâmica e polifacética como a problemática estudada”. Santos (2006) se une a esse pensamento ao dizer que a pesquisa qualitativa ao estar inserida nas ciências sociais será sempre subjetiva, imbricada na busca de compreender fenômenos sociais a partir de atitudes e sentidos que os agentes conferem as suas ações, com vista a construir um conhecimento intersubjetivo, descritivo e compreensivo.

  

 

            Em busca de transformar essa realidade, a partir dos anos 90 começa-se a pensar no professor que ensina e ao mesmo tempo faz pesquisa, como forma deste profissional formar-se enquanto investigador da sua própria prática e reconstruir constantemente sua atividade e seus saberes docentes. Sendo que, “a formação do professor começa antes mesmo de sua formação acadêmica e prossegue durante toda a vida profissional” (SANTOS APUD PEREIRA, 2000, p.49).

Diante disso, cada vez mais se pesquisa em Educação, tendo em vista a necessidade de se responder às angústias e indagações que a sociedade a todo o momento nos faz. Além da tentativa de se promover uma Educação que acompanhe aos novos desafios da sociedade moderna.

         É importante destacar que, se parece inviável conquistarmos grandes resultados no âmbito educacional, existe sim, a possibilidade de interferimos e desequilibrarmos o tradicional, o instituído, o hegemônico, através da atuação docente e da gestão escolar, pois, dessa forma estaremos contribuindo com as armas que ainda nos permitem utilizar.

 

REFERÊNCIAS

BONIN, Joana Adriana. Nos bastidores da pesquisa: a instância metodológica experenciada nos fazeres e nas processualidades de construção de um projeto. In: Metodologias de pesquisa em comunicação: olhares, trilhas e processos. Porto Alegre: Editora Sulina, 2006.

DEMO, Pedro. Pesquisa e Construção do conhecimento. Rio de Janeiro: Templo Brasileiro, 1994.

DALAROSA, Adair Ângelo. Ciência, Pesquisa e Metodologia na Universidade. In: LOMBARDI, José Claudinei (Org.). Pesquisa em educação: história, filosofia e temas transversais. 2ed. Campinas: Autores Associados/Caçador: HISTERDBR-UnC, p.95-104, 2000.

GAMBOA, Sílvio Sanches (Org.). Pesquisa educacional: quantidade-qualidade. São Paulo: Cortez, 1995.

GATTI, Bernadetti. A construção da pesquisa em educação no Brasil. Brasília: Plano Editora, 2002.

LÜDKE, Menga. A pesquisa na formação do professor. In: FAZENDA, Ivani. (Org.) A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. 7ed. Campinas: Papirus, p.111-119, 1995.

PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. Formação de professores: pesquisas, representações e poder. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

SANTOS, Boa Ventura de Souza. Um discurso sobre as ciências. 4ed. São Paulo: Cortez, 2006.

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