Poliana Fabíula Cardozo Turismo

Espaços urbanos frente à atividade turística

Diogo Lüders Fernandes[1]
Poliana Fabíula Cardozo[2]
Ronaldo Ferreira Maganhotto[3]

publicado em 29/06/2008 como <www.partes.com.br/urismo/poliana/espacosurbanos.asp>

 

Poliana Fabiula Cardozo é bacharel e Mestre em Turismo (Unioeste/UCS), doutoranda em Geografia (UFPR). Docente da disciplina de Planejamento e Organização do Turismo para a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Irati, Pr) e pesquisadora na modalidade continuada na mesma IES.

Para Boullón (2002, p. 189) as cidades são ambientes cridos pelo homem, portanto um espaço cultural, cujo objetivo é a vida em sociedade. Assim como para Castrogiovanni (2001, p. 23) que compreende as cidades como uma representação fiel dos “macromovimentos sociais”, entendendo as cidades como “um recorte do mundo, onde independentemente de suas dimensões ou relevância regional, vibram e transformam-se de acordo com as necessidades e solicitações das políticas e movimentos sociais locais, atrelados aos universais”. Isso explica as singularidades de cada cidade por ser um ambiente artificial criado e construído pelo homem, pode-se concluir assim como Boullón (2002, p. 189) que homens diferentes construíram cidades diferentes, conforme suas necessidades e características naturais do local. Portanto para Castrogiovanni (2001, p. 23) as cidades devem ser compreendidas como representações das condições humanas, que são representadas na arquitetura e na ordenação dos elementos urbanos, desta forma deixando testemunhos na paisagem de tais espaços.
As cidades, cada qual com suas características arquitetônicas e de urbanismo, se mostram como produtos diferenciados para o turista que ao se deparar com uma paisagem cheia de simbolismo e códigos, muitas vezes se sentem agredidos e ao mesmo tempo impulsionados a decodificar esta paisagem. Para Wainberg (2001, p. 13) “a percepção é estimulada pelo estranhamento causado por sua arquitetura, vias limites, bairros, pontos nodais, marcos, avenidas, cafés e bares; Há cores e odores. Hábitos e costumes. História e memória. No campo estranho, todo detalhe é relevante na composição do todo.” O mesmo autor ainda complementa, “a semiótica do ambiente urbano nos ensina que a cidade deve ser vista como uma escrita, uma fala a ser interpretada pelo transeunte.”
Como pode-se aferir, as cidades são muito mais que simplesmente aspectos políticos ou as sedes administrativas dos municípios, elas são “o espaço territorializado, apropriado pelas sociedades.” (CASTROGIOVANNI, 2001, p.24). Portanto tais espaços são um resultado da evolução social, onde os espaços são produzidos e reproduzidos, através do tempo, pelas suas sociedades, segundo o autor este espaço são “instâncias da sociedade”, portanto o espaço é influenciado e influência o desenvolvimento não só da sociedade do período que foi produzido mas sim das demais sociedade e das outras instâncias da sociedade.
“O tecido urbano é dinâmico e inserido no processo histórico de uma sociedade.”( CASTROGIOVANNI, 2001, p. 25) Este dinamismo transforma as cidades a cada momento modificando as paisagens e dando novos valores aos espaços.

A cada instante há mais do que os olhos podem ver, do que o olfato pode sentir ou do que os ouvidos podem escutar. Cada momento é repleto de sentimentos e associações a significados, portanto, há uma constante construção de significações. A cidade é o que é visto, mas mais ainda, o que se pode ser sentido. É com esse olhar que devem agir os profissionais do turismo a fim de serem especulativos e com isto, mais criativos. Sendo assim, é possível sempre descobrir novas possibilidades para a oferta de atrativos turísticos urbanos. (CASTROGIOVANNI, 2001, p. 25)

Isto porque uma cidade é muito mais do que simplesmente os olhos podem ver é preciso conhecer profundamente sua história para que se possa ver as cidades com verdadeiros “olhos de ver”, não ver simplesmente suas formas, mas o que estas formas representam e representaram para uma determinada sociedade em um determinado período de tempo.
Mas a percepção de uma cidade não se dá de forma imediata na realidade ela é uma soma de imagens que o ser humano captura e retêm em sua memória, portanto a formação da imagem de uma cidade “se realiza no transcurso do tempo, pela soma das imagens parciais que o espaço físico transmite que o homem registra em sucessivas vivências (visão em série)” (BOULLÓN, 2002, p. 193). E assim se constrói a imagem da paisagem urbana.

Nem todas as cidade apresentam o mesmo grau de dificuldade de captação de sua paisagem urbana. Em primeiro lugar, o tamanho é principal obstáculo para se conhecer uma grande cidade, o traçado é o segundo, e a topografia e o tipo de arquitetura o terceiro e o quarto. (BOULLÓN, 2002, p.194)

Portanto muitas vezes o turismo não consegue captar o real significado de um determinado espaço para a comunidade local, pois a imagem da cidade segundo Lynch é vista da seguinte forma:

as imagens ambientais são o resultado de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente. Este último sugere especificidades e relações, e o observador – com grande capacidade de adaptação e à luz de seus próprios objetivos – seleciona, organiza e confere significado àquilo que vê. (SILVA, 2004, p. 25).

Desta forma pode-se perceber que a imagem formada de uma cidade pelo visitante depende muito de seus valores, formação e sensibilidade de cada observador sendo assim cada turista forma uma imagem do local observado, portanto a satisfação do turista muitas vezes está nos objetivos do visitante.
Na leitura urbana não se pode deixar de considerar as singularidades étnicas e o comportamento da comunidade local. “A coexistência de manifestações, documentos, agentes e processos, os mais díspares ou similares possíveis conferem à vida urbana diversidades, portanto uma riqueza de possibilidade na oferta turística.”. Sua identidade sua originalidade seus hábitos e costumes, sendo estes diferentes dos já conhecidos pelo turista e tal estranhamento aguça o interesse do visitante a interpretar e conhecer tal espaço. Para Wainberg (2001, p. 18) esta identidade bem definida torna um elemento fundamental para que a cidade se torne uma cidade turística onde o turista possa identificar seus símbolos, e assim incentivando esta a sua exploração.
Portanto todo estranhamento é fundamental, pois tais detalhes se encontram nas paisagens das cidades que devem ser lidas e interpretadas. O fenômeno turístico nos ambientes urbanos é fortemente visual. Assim pode-se salientar que a cidade é local do olhar, onde cada turista observa e assimila a cidade de uma forma diferente.

como dito, a cidade é o lugar do olhar. É o que ensina Massino Canessi. Cada cidade fala diferente. Os olhares transeuntes captam esse discurso sem vozes. Algumas dessas falas icônicas emocionam, outras causam repulsa. O olhar se fixa numa seleção de diferenças que provocam e que se tornam ela próprias a razão mesma da peregrinação. Wainberg (2001, p. 15)

O turista ao decidir por uma localidade como sua destinação turística é influenciado por diversos fatores, que transformam a atividade do turismo em algo complexo, entre os fatores destaca-se a contemplação e o imaginário coletivo, a mídia de uma forma geral que valoriza e repassa ao seu usuário informações sobre destinações turística, que afetam diretamente os turistas, desenvolvendo suas motivações.

Destas motivações é possível comentar que o ser humano é insaciável, principalmente em se tratando de curiosidades, a forma como se tem para sanar tais motivações é por meio do conhecimento dos aspectos culturais, históricos e sociais dos locais visitados. Este conhecimento muitas vezes pode ser adquirido nos centros das sedes das destinações turísticas. “As atratividades nos centros urbanos muitas vezes não são aproveitadas a contento, ou nem mesmo é entendido que sejam de importância para a atividade turística.” (RIBEIRO, 2002, p. 145). Assim o que é comum em muitos casos é a não utilização de uma série de artefatos localizados nestes espaços, de valor histórico e cultural, devido a sua história e arquitetura, que acabam se degradando ou então sendo utilizados para outras atividades de gosto duvidoso.
Tais prédios ou espaços fazem parte da atratividade dos centros urbanos brasileiros, que está “centrada no grau de interesse arquitetônico, histórico e cultural que o patrimônio histórico e demais componentes da paisagem urbana geram na visitação e nos serviços existentes, enquanto atração de “consumo cultural”. (RIBEIRO, 2002, p.146)
Para tanto é preciso que tais patrimônios sejam revitalizados com o objetivo de resgate da memória, para que estes possam ser inseridos como espaços de lazer, cultura e prestação de serviços para a sua comunidade e para seus visitantes,

o passado é que torna o lugar mais que um espaço; que herança é a possessão que os atuais fazem de eventos do passado; que sendo o patrimônio de uns razão de contrariedade de outros, há dissonância, o que demanda resolução do conflito em torno da memória para que os presentes se apropriem de um ou mais de um patrimônio capaz de proporcionar desfrute; que tal desfrute não é físico em essência, mas que proporciona ideias intangíveis e sentimentos sob controle antes de tudo. E uma experiência com sabor cultural, em primeiro lugar. Wainberg (2001, p. 14)

Portanto ao se analisar desde o ponto econômico e cultural, a revitalização de lugares que apresentam estas características, pode vir a ser um bom negócio, mas há a necessidade de firmar parcerias entre a empresa privada e pública, para que a revitalização e o restauro seja possível.
Portanto suas edificações e espaços abertos ainda existentes que possuem alguma característica de atratividade turística acabaram perdendo seu valor, sendo necessário projetos de revitalização e restauração de tais espaços para que estes possam servir para o propósito de lazer, convivência e atração turística.
“A atividade turística passou a representar uma nova alternativa na luta pela preservação do acervo arquitetônico, vista como uma estratégia no próprio convencimento em se tratando de leis de tombamento e manutenção.” (RIBEIRO, 2002, p. 146)

Por outro lado, não podemos caracterizar somente edificações e conjuntos arquitetônicos como atratividades destinadas ao Turismo. Pensar e planejar áreas de lazer aliadas a espaços ociosos da urbe e sua posterior valorização através de parques e praças com motivos culturais e históricos são formas de resgate da cultura e homenagem a etnias que habitam as cidades.(RIBEIRO, 2002, p.148-149)

Assim transformando lugares degradados em espaços com uma “proposta de cultura e lazer voltada para os habitantes da cidade bem como para turistas[…].”(RIBEIRO, 2002, p. 149).
Portanto o turismo pode vir a ser para as cidades uma alternativa de desenvolvimento e revitalização de alguns espaços degradados, criando assim não só um novo produto turístico mas uma nova área de lazer para sua própria comunidade
Segundo Scherer (2002, p. 103) “A melhor coisa que uma cidade tem a oferecer ao turista é ela mesma, na medida em que cada cidade tem sua feição, seus sons, aromas e paisagens, seus encantos explícitos ou reservados aos poucos que se dispõe a buscá-los, cristalizados ao longo do tempo que a tornam única.”
Para concluir deve-se considerar : “A cidade é um mundo de representações. Pode ser pequena ou uma metrópole; ela pulsa, vive, seduz, agride, transforma-se e transforma aqueles que nela interagem.” (CASTROGIOVANNI, 2001, p.31)

A cidade é viva, possui a sua própria identidade, apresenta um dinamismo de relações que se alteram ao ritmo de diferentes circunstâncias, portanto sempre é possível a renovação urbana. A cidade deve ser vista como um bem cultural, em que devem ser valorizadas funções culturais que atendam à qualidade de vida dos seus habitantes. (CASTROGIOVANNI, 2001, p.31)

As cidades possuem uma atratividade ao turismo como lugares com níveis variados de motivação, sendo assim tais espaços se encontram na equação do turismo como sendo a oferta turística. Assim ao se tratar de um planejamento urbano voltado ao turismo nos espaços urbanos deve-se adotar uma hierarquização de atrativos e de caminhos para que a experiência vivida pelo turista seja a mais agradável possível.

Referências:
Boullón, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Trad. Josely Vianna Batista. Bauru: EDUSC, 2002
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Turismo e ordenação no espaço urbano. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Turismo urbano. São Paulo: Contexto, 2001
RIBEIRO, Marcelo. A atratividade dos centros urbanos e o turismo. In: GASTAL, Susana. Turismo: 9 proposta para um saber-fazer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
SCHERER, Rebeca. Paisagem urbanística, urbanização pós-moderna e turismo. In: YAZIGI, Eduardo (org.). Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002
SILVA, Maria da Glória Lanci da. Cidades turísticas: identidades e cenários de lazer. São Paulo: Aleph, 2004
WAINBERG, Jacques. Cidades como sites de excitação turística. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Turismo urbano. São Paulo: Contexto, 2001

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