Diogo Lüders Fernandes[1]
Poliana Fabíula Cardozo[2]
Ronaldo Ferreira Maganhotto[3]
É incontestável, que atualmente os eventos se tornaram uma alternativa de lazer e de renda para muitas pessoas, sendo que vários governos apoiam a realização dos mesmos como estratégia para o desenvolvimento local. Tais acontecimentos têm a capacidade de atrair para cidade sede um número significativo de pessoas motivadas a participar de algum tipo de evento, este movimento de pessoas a uma determinada comunidade, acaba afetando praticamente toda a sociedade destas cidades sedes, proporcionando mudanças em âmbito sociais, culturais, econômicos e ambientais em toda a localidade.
No sentido mais amplo, evento é o sinônimo de um acontecimento não rotineiro, fato que desperta atenção. Devido ao dinamismo da atividade, estes acontecimentos possuem uma grande gama de definições, entre elas a de que os eventos
são atividades de entretenimento, com grande valor social, cultural e, sobretudo, histórico. Suas atividades constituem um verdadeiro mix de marketing, entretenimento, lazer, arte e negócios. Tal a sua importância com contexto social, cultural, econômico e político da cidade e região e em alguns casos até mesmo do país, podemos denominá-los agente do patrimônio histórico-cultural. (MELO NETO, 2000)
Segundo Goidanich e Moletta (2003)
são acontecimentos criados ou planejados para ocorrer em um lugar determinado e com espaço de tempo predefinido, tem finalidade específica, visando a apresentação, a conquista ou a recuperação do público-alvo. Podem ser artificiais, ocorrer espontaneamente ou ainda provocado.
Já para Zanella (2004) evento é
uma concentração ou reunião formal e solene de pessoas e/ou entidades realizada em data e local especial, com o objetivo de celebrar acontecimentos importantes e significativos e estabelecer contatos de natureza comercial, cultural, esportivo, social, familiar, religioso, científico, etc.
Ainda segundo Tenan (2004)eventopode ser definido como “acontecimento especial, antecipadamente planejado e organizado, que reúne pessoas ligadas a interesses comuns.”
Com base nestas definições pode-se compreender que os eventos em sua maioria consistem em acontecimentos eventuais, planejados e organizados antecipadamente, com local e data pré-definidos, possui em geral objetivo de atingir um determinado público-alvo que possuem um interesse em comum.
No ano de 1997 segundo dados da ICCA (International Congress & Convention Association) apud Matias (2004), o Brasil recebeu 27.279 participantes de eventos, podem ser rotulados de turistas, todos estes visitantes que se deslocam à alguma localidade, com objetivo de participar de determinado evento. E a tendência é que o número de visitantes cresça ainda mais a cada ano. Promovendo desta forma um crescimento econômico e o desenvolvimento para as cidades sedes dos eventos.
Os impactos financeiros dos eventos tendem a ser amplamente enfatizados, em razão de serem muito mais fáceis de serem mensurados e o que mais chama a atenção de governos e investidores, portanto é muito comum que haja a confusão quando se discute os eventos como uma proposta de desenvolvimento.
Ao se tratar de desenvolvimento não se está referindo simplesmente à quantidade de renda, impostos, ou demanda que participou do evento, pois ao tratar de desenvolvimento refere-se muito além do que suas simples relações econômicas, trata de um processo de melhorias na qualidade de vida da comunidade anfitriã em um processo de superação de problemas e conquistas de condições (culturais, técnico-tecnológicas, política-institucionais, espaço-territoriais) propiciadoras de maiores felicidades individual e coletiva. Onde o crescimento econômico é somente mais um dos fatores.
Portanto ao falar do desenvolvimento que os eventos podem proporcionar em uma localidade avaliam-se os impactos deste acontecimento em todas as esferas de uma sociedade, cultural, econômica, ambiental e social, além de incrementar e favorecer ao desenvolvimento contínuo da atividade turística.
O crescimento econômico é um fato inevitável, pois os eventos são reconhecidos como catalisadores para a atração de visitantes a determinadas localidades, proporcionando um aumento no número de pessoas que visitam a localidade, o turista de eventos ainda possui algumas vantagens perante o turista tradicional, é o fato do primeiro permanecer e gastar até 3 vezes mais que o turista que se encontra na localidade por motivos de lazer. Assim incrementam a arrecadação de impostos e tributos em virtude do desenvolvimento das vendas e da atividade econômica em geral, proporcionam a geração de novos empregos e o aproveitamento da mão-de-obra local. Mas é importante reconhecer que os eventos têm valores que ultrapassam os meros benefícios econômicos tangíveis. O homem é um animal social, e as celebrações exercem um papel chave no bem-estar da estrutura social. Os eventos podem engendrar coesão, confiança e auto-estima social.
Isto porque os eventos representam a memória vida de uma cidade, são agentes de preservação, valorização e revitalizadores do patrimônio cultural de um povo. Para muitos os eventos são instrumentos importantes para a revitalização e manutenção de um patrimônio, em se tratando de prédios e espaços antigos, os eventos vem a dar uma utilização para determinados espaços, pois de que vale preservar tais espaços se eles não promovem benefícios ou não possuem um uso para a comunidade, em se tratando do patrimônio intangível, os eventos vem a manter e valorizar antigas crenças, costumes e tradições muitas vezes esquecidas ou abandonadas por seu povo, tornando assim os eventos agentes culturais não só de divulgação, mas sim em um binômio entre patrimônio cultural e evento, que se caracteriza pelo:
– Uso da promoção de eventos como estratégia de revitalização do patrimônio histórico e cultural;
– Uso dos eventos como estratégia de geração de benefícios sociais, econômicos, políticos e culturais por meio do patrimônio histórico;
– Uso da promoção de eventos como estratégia de revitalização de conjuntos culturais.
Os eventos são agentes promotores da cultura local, regional e nacional. Contribuem para a revitalizar espaços, dinamizar mercados, formar novos consumidores culturais e atrair novos investimentos, além de ser uma alavanca a produção cultural.
Os impactos sociais e culturais podem envolver uma vivência compartilhada e contribuir para o fortalecimento do orgulho local, da legitimação ou da ampliação dos horizontes culturais. Os eventos ainda contribuem para melhoria dos serviços de infra-estrutura da localidade-sede, beneficiando a comunidade, pois são realizadas diversas melhorias para a cidade ao sediar um evento, pois tais acontecimentos são encarados como um instrumento de marketing da localidade, divulgam e consolidam a imagem favorável da localidade-sede e das entidades e empresas que participam do evento. E após a realização do evento tal infraestrutura construída para a suas realizações fica para a comunidade sede sem precisar pagar por estas melhorias. Estas melhorias estruturais aliadas aos eventos culturais propiciam o bem-estar da comunidade e o enriquecimento cultural, tornando os eventos uma opção de lazer para a comunidade local.
Estas melhorias são implantadas no ambiente onde estes acontecimentos serão realizados, proporcionando assim espaços nos para serem utilizados pela comunidade, exemplos são espaços de lazer, novos centros de convenções, novas áreas de esporte, embelezamento de algumas vias das cidades, melhorias nos transportes e comunicações, além de promover uma valorização dos ambientes onde estes eventos foram realizados.
Para o turismo os eventos vêm a ser um mecanismo utilizado para quebrar a sazonalidade, além de incrementar a atratividade da localidade, os benefícios dos eventos para o turismo são demostrados abaixo:
- Os eventos ajudam a equilibrar e/ou diminuir a sazonalidade;
- Privilegia o turismo brando, em oposição ao turismo de massa;
- Devido a sua organização com antecedência pode os prestadores de serviços turísticos preparar-se melhor para recebe-los;
- Os investimentos são menores que no turismo não baseado em eventos;
- Enriquece a vida cultural da localidade-sede;
- O turista de eventos permanece e gasta mais que o turista tradicional;
- Dos vários segmentos turísticos, o de eventos é o que gera maior retorno financeiro, geração de empregos e impostos, pelo efeito multiplicador; e
- O turismo de eventos está em franco crescimento.
Assim pode-se aferir que os eventos possuem sim uma potencialidade para serem encarados como mecanismo promotores de desenvolvimento. Mas para que possam alcançar tais características estes acontecimentos devem ser bem organizados no intuito de não se transformarem em uma simples mercadoria, com uma visão eventista, onde a cultura que deve se propagar no evento seja somente mais uma mercadoria de consumo, como é possível observar em muitos desses acontecimentos onde o objetivo é a simples diversão, sem que exista uma reflexão, uma contemplação e um aprendizado cultural, infelizmente esta é uma realidade e para que os eventos venham ser um instrumento de desenvolvimento esta realidade deve mudar.
Os eventos, portanto, devem ser geridos dentro de uma nova visão, socioeducativa-cultural, em que predominam ações de educação, socialização, e de formação e aperfeiçoamento para o exercício da cidadania. Pois ao serem corretamente estendidos ganham vitalidade, economia própria e novos significados, e assim, tornam-se parte do patrimônio cultural da cidade, região e país, abrindo novas perspectivas para o enriquecimento cultural. Onde o objetivo não é consumir a cultura como entretenimento, mas promover maior acesso do cidadão aos bens e serviços culturais.
A democratização da cultura e das artes em geral e da promoção da cidadania individual e coletiva, são as principais formas de proporcionar a um povo o seu desenvolvimento, assim o planejamento das fases de pré-evento, evento, e pós evento e sua gestão devem ser realizados e direcionados em termos educacionais, sociais e comunitários dando oportunidade a população um meio de afirmação de sua identidade cultural, além de um aumento no crescimento econômico, melhorias estruturais, oportunizando o contato com novas formas de lazer e aquisição de cultura, acarretando em um aumento da qualidade de vida das comunidades, atingindo assim o desenvolvimento.
Referências
GOIDANICH, Karin Leyser; MOLETTA, Vania Florentino. Turismo de eventos. 4. ed. Porto Alegre: SEBRAE, 2003.
MATIAS, Marlene. Organização de eventos: procedimentos e técnicas. 3.ed., atual. São Paulo: Manole, 2004
MELO NETO, Francisco Paulo de. Criatividade em eventos. São Paulo: Contexto, 2000.
TENAN, Ilka Paulete Svissero. Eventos. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2004.
ZANELLA, Luiz Carlos. Manual de organização de eventos: planejamento e operacionalização. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
[1] Bacharel e Mestre em Turismo (UEPG/UNIVALI). Docente pesquisador da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro/Irati) para o curso de turismo. E-mail: diggtur@yahoo.com.br
[2] Bacharel e Mestre em Turismo (Unioeste/UCS); Doutoranda em Geografia (UFPR). Docente e pesquisadora da Universidade Estadual do Cento-Oeste (Irati/Paraná) para o curso de turismo. e-mail: polianacardozo@yahoo.com.br
[3] Bacharel em Turismo (UEPG) e Mestre em Geografia (UFPR). Docente e pesquisador da Universidade Estadual do Cento-Oeste (Irati/Paraná) para o curso de turismo. e-mail: ronaldomaganhotto@yahoo.com.br.