Nair Lúcia de Britto
publicado em 07/04/2008 como <www.partes.com.br/ reportagens/luciamurat.asp>
Na tarde de sábado do dia 5 de abril, após a estreia do filme “Maré, Nossa História de Amor”, a cineasta Lúcia Murat colocou-se à disposição de professores de Escolas de Ensino, da Baixada Santista, que estavam presentes na sala de projeção (3), do Espaço Unibanco (Shopping Miramar).
Na oportunidade, Lúcia Murat falou do seu último filme e do empenho em demonstrar, através dele, que numa favela existem pessoas talentosas, com potencialidades diversas e de bom caráter; que estão vivenciando dramas terríveis e ainda são confundidas com os criminosos. Contudo, merecedoras de melhores oportunidades.
A sala estava lotada, e permaneceram para o debate professores intelectualizados, interessadíssimos em aprender e passar algo de produtivo aos seus alunos, relacionado à arte cinematográfica. Uma conduta plausível, uma vez que, bem direcionada, a arte pode atuar em benefício da Educação.
Os professores fizeram perguntas inteligentes, às quais a cineasta respondeu com toda amabilidade e atenção.
A ideia de fazer um musical brasileiro, teve certa influência pelo fato de a cineasta ter se formado em balé clássico quando ainda era adolescente. “Mas a vida me levou para outros caminhos”, ela confessou, sorridente.
Entretanto os longos anos de estudo fizeram com que ela se apaixonasse por todas as formas de expressão corporal. Contudo, o que levou a cineasta a concretizar sua ideia foram alguns espetáculos de dança contemporânea, aos quais assistiu recentemente; muitos deles trabalhando em comunidades carentes e muito bem-sucedidos.
“O fato desses espetáculos trabalharem com a nossa diversidade cultural cria corpos de baile de todas as cores e misturas, sem qualquer preocupação de uniformização, como nos espetáculos tradicionais”, explica. “E ‘Maré, Nossa História de Amor’ se propôs a formar um corpo de baile a partir dos vários grupos de dança do Rio de Janeiro, trabalhando com a nossa diversidade étnica e cultural, mas buscando o mesmo rigor de conjunto de um espetáculo tradicional. Da mesma forma, como meus últimos trabalhos (‘Brava Gente Brasileira’ – com os índios – e ‘Quase Dois Irmãos’- com grupos de teatro das comunidades), incorporei a experiência dos atores e das situações que enfrentamos no laboratório e na construção final do roteiro”.
Lucia Murat começou sua carreira como jornalista nos mais importantes jornais e televisões do país, como o “Jornal do Brasil” e “O Globo”. Em 1980 passou a se dedicar a produções independentes na área audiovisual.
Seu primeiro longa-metragem foi “Que Bom te Ver Viva”, em 1989; considerado o melhor filme do Festival de Brasília. Nesse filme mostrou-se uma pessoa preocupada com temas sociais, políticos e femininos. Constam, nessa obra, depoimentos de mulheres que foram torturadas na época da ditadura militar, entremeados com cenas de ficção, enriquecidas pela atuação da atriz Irene Ravache.
Outro filme premiado pelo Ministério da Cultura, em 1998, foi “Dois Irmãos”, entre muitos outros trabalhos.