Poliana Fabíula Cardozo
publicado originamente em 11/12/2007 como <www.partes.com.br/turismo/poliana/elaboracao.asp>
São muitas as definições de planejamento, assim como são muitas as ênfases do mesmo. Mas de maneira geral, Ruschmann e Widmer (2000, p. 66) o explicam: “consiste em um conjunto de atividades que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos”. Outras definições de planejamento fazem alusão à ideia de: sistema; processo de determinação de objetivos; mecanismo orientado para o futuro; e processo contínuo (BARRETTO, 1991).
Desta forma, e lançando um olhar sobre o turismo, o planejamento aponta como uma ferramenta indispensável para o manejo sustentável da atividade. Pois é com medidas racionais e previstas que se trabalha em harmonia – relativa – com o meio, de modo a preservar o turismo do próprio turismo e para o turismo. Pois sem o planejamento, corre-se o risco de o crescimento desordenado da atividade turística atente contra a atratividade dos recursos e das localidades.
Isso posto, o planejamento turístico é compreendido, por Ruschmann e Widmer (2000, p. 67) como sendo
o processo que tem como finalidade ordenar as ações humanas sobre uma localidade turística, bem como direcionar a construção de equipamentos e facilidades, de forma adequada, evitando efeitos negativos nos recursos que possam destruir ou afetar sua atratividade.
É dizer que para as autoras, o planejamento turístico pretende dispor positivamente as ações dos sujeitos sobre uma localidade ou mesmo um recurso turístico com objetivos calculados, a fim de proteger o recurso propriamente dito, ou mesmo de aperfeiçoar (tanto no sentido de ampliar, como de refrear, ou mesmo em sentido estrito) seu uso turístico.
Dito isso, faz-se necessário explanar que o planejamento tem em si objetivos que visam alterar a realidade atual frente ao futuro, alcançando uma situação desejada. Ruschmann e Widmer (2000) ensinam que o planejamento, de modo genérico, aponta para o crescimento econômico acelerado, todavia, para o planejamento turístico, os objetivos podem estar ligados ao desenvolvimento localidades e/ou regiões turísticas, no que concerne tanto à iniciativa pública como a privada, no que tangem à atividade turística. Dentro deste entendimento, as autoras elencam os principais objetivos do planejamento turístico (RUSCHMANN E WIDMER, p. 69):
– definir políticas e processos de implementação de equipamentos e atividades e seus respectivos prazos;
– prover incentivos necessários para estimular a implantação de equipamentos e serviços turísticos […];
– maximizar os benefícios socioeconômicos e minimizar os custos […] visando o bem-estar da comunidade receptora e a rentabilidade dos empreendimentos do setor; […]
– capacitar os vários serviços públicos para a atividade turística […];
– garantir a introdução e o cumprimento dos padrões reguladores exigidos da iniciativa privada;
– garantir que a imagem da destinação se relacione com a proteção ambiental e a qualidade dos serviços prestados.
A partir dessas explanações, pode-se aprender que o planejamento em si não pode ser baseado em empirismos. Particularmente no que toca ao planejamento turístico, que sendo parte das ciências sociais aplicadas estuda e trata de sociedades/pessoas. É dizer que em se lidando com comunidades não se pode experimentar, pois não existem laboratórios para tal objeto de pesquisa. Dentro deste entendimento, cabe aqui falar que o planejamento tem seus princípios, dimensões e classificações próprias.
Os principais princípios que orientam o planejamento, segundo Barretto (1991, p. 15) são: o da inerência; da universalidade; da unidade; da previsão; e da participação
Ao se estudar os conceitos e definições de planejamento, como já dito, eles levam à ideia de sistema e de ordenação, e assim sendo, o planejamento tem como predicado fundamental decisões sucessivas, ou seja: etapas a serem cumpridas, a fim de alcançar os objetivos a que se propõe. Petrocchi (2002, p. 51) lista as etapas a serem observadas:
Etapas do Planejamento | ||
Item | Etapa | Ações |
1 | Análise macro ambiental | conhecer o entorno à organização, o mercado e a situação interna |
2 | Elaboração do diagnóstico | sumário que reflete os levantamentos da análise macroambiental |
3 | Definir objetivos | o que se quer atingir |
4 | Determinar prioridades | – o que é mais importante;
– em que ordem |
5 | Identificar os obstáculos, as dificuldades | – listar quais são;
– sua intensidade; – influência sobre o resultado. |
6 | Criar os meios, os mecanismos | – visam minimizar obstáculos;
– analisar e escolher alternativas |
7 | Dimensionar recursos necessários | – quantificar os recursos;
– em que ordem de necessidade |
8 | Estabelecer responsabilidade | especificar volumes padrões, fluxos, áreas críticas etc. |
9 | Projetar cronograma | definir prazos de execução, volumes de produção, custos, parâmetros etc. |
10 | Estabelecer pontos de controle | – escolher áreas-chave;
– estabelecer critérios |
Para as etapas do planejamento, devem-se documentar as ações, procedimentos e processos. Essa documentação do processo pode ser em forma de planos, programas ou projetos. Esses documentos passarão por processo de avaliação e decisão, para sua execução posterior. Para tal, Barretto (1991, p. 41) alerta para o padrão técnico utilizado nas elaborações dos documentos “utilização correta dos termos técnicos, com racionalidade, dizendo apenas o necessário, sem retórica. Assim como transmitir flexibilidade para mudanças e também abertura para intercâmbio com outros planos”, é dizer que para a autora, os documentos, além de linguagem técnica coerente e correta, devem, sobretudo ter possibilidade de comunicar-se e intercambiar-se com outros documentos.
Ainda sobre os documentos do planejamento Barretto (1991, p. 41) explica que as diferenças entre plano, programa e projeto estão relacionadas à sua área de abrangência e seu grau de abstração, sendo: “plano é a filosofia geral e abrange o sistema por inteiro. O programa abrange um setor e constitui uma proposta prática, aprofundada do plano. O projeto abrange o detalhamento das alternativas de intervenção, constituindo-se na unidade elementar do sistema”. Sob esta linha de raciocínio, a autora complementa que “os objetivos setoriais do plano serão […] os objetivos gerais do programa e os setoriais do programa serão os objetivos gerais do projeto. O programa não é apenas a soma dos projetos, mas a soma e a vinculação entre eles”.
Por sua vez, Petrocchi (2002) alerta que todo processo de planejamento se transforma em ações nos planos, que por sua vez são compostos pelos programas de trabalho.
Vale salientar que todos os documentos do planejamento devem conter: prazos e metas; local de execução; e orçamento. Isso claro, e após a aprovação dos mesmos, passa-se à implantação, execução, controle e avaliação. Essas últimas fases devem como já estudadas, retro alimentar o sistema.
Em termos de elaboração propriamente dita dos documentos, muito embora não haja uma receita pré-determinada, algumas etapas devem ser consideradas, para garantir consistência dos mesmos (baseado em Bissoli, p. 167):
– Identificação: consiste no nome do documento; indicação dos membros da equipe; e data da elaboração;
– Introdução contendo justificativa;
– Diagnóstico da situação com referências às fontes consultadas; textualização sobre a necessidade de intervenção;
– Objetivos (gerais e específicos);
– Metas a serem alcançadas;
– Detalhamento do documento: determinação do espaço; recursos necessários (humanos, materiais e administrativos); orçamento; fonte de recursos; cronograma;
– Desdobramento do documento: em se tratando de planos – os programas; em se tratando de programa – os projetos; e para projetos – as medidas técnicas de implementação (ações). Para cada desdobramento, elencar metas;
– Projeção da situação, em que o objeto da intervenção, prazo a prazo (conforme o cronograma) supondo a intervenção com sucesso e a não intervenção.
– Conclusão.
A relevância de estudar a elaboração dos documentos do planejamento reside antes de tudo em conhecer cada um deles, e dessa forma aprofundar o entendimento do planejamento como um todo, uma vez que cada documento passa pelas etapas citadas a cima. Dessa forma, o planejador tem uma visão do todo e das partes. Sem embargo, apenas a teorização não basta para este conhecimento do todo e das partes, é necessário buscar nas fontes de planejamento seus documentos e estuda-los, além de praticar o exercício de planejar mesmo nas ações simples do dia a dia, como nas práticas de sala de aula.
Referências:
BARRETTO, M. Planejamento e organização do turismo. Campinas: Papirus, 1991.
PETROCCHI, M. Planejamento e gestão do turismo. São Paulo: Futura, 2002.
RUSCHMANN, D.; WIDMER, G. Planejamento turístico. In: ANSARAH, M. Turismo: como aprender como ensinar. Vol 2. São Paulo: Senac, 2000.