Por Arthur Virmond de Lacerda Neto
A genealogia corresponde ao estudo da história das famílias, procurando averiguar a origem dos sobrenomes, o seu significado etimológico, os indivíduos em quem a família começou, que deslocamentos sofreu ela no espaço, como se desenvolveu quantitativamente, que influência tiveram os seus membros na sociedade, etc.
Trata-se de uma área do conhecimento que, em sua forma menor, limita-se à enumeração das gerações (pais, avós, bisavós etc.); em sua forma maior, compreende o entendimento do meio social em que elas existiram. No primeiro caso, há um simples alinhamento de nomes; no segundo, uma inserção dele na história.
Todo indivíduo apresenta árvore genealógica, desde que, como é óbvio, existam antepassados que, a cada geração, se multiplicam pelo dobro. Ou seja, enquanto os pais são dois, os avós são quatro, os bisavós são oito e assim sucessivamente. À volta da quadragésima geração eles rondam os milhões, pelo que, em tempos recuados, o número de avoengos de cada pessoa excedia a população do planeta ao tempo: todos descendemos várias vezes dos mesmos avós e todos apresentamos, em teoria, ao menos, antepassados em comum com o nosso semelhante.
Algumas árvores genealógicas são mais ricas, quando acerca dos seus componentes conservou-se memória; outras, são pobres em razão da escassez de informações acerca deles. O primeiro caso é frequente tratando-se de individualidades ilustres, a cujo respeito escreveu-se ou sobre quem há documentos; No segundo o conhecimento dos antepassados perde-se com facilidade: mormente, na terceira geração pouco se sabe e na quarta já tudo se ignora. Daí a importância de os mais moços escutarem os mais velhos e deles recolherem as tradições de família que, por vezes, transmitem-se ao longo de dezenas de anos.
Uma investigação genealógica inicia-se na família: o pesquisador procurará colher informações junto dos seus avós, bisavós, tios e tias mais velhos, a partir de cujos dados buscará os registros paroquiais e cartoriais, afim de documentar-se, o que exigir-lhe-á esforço e disponibilidade de tempo. Os resultados serão favoráveis, caso conheça-se a paróquia em que os antepassados foram batizados e caso os livros (de batizados, de casamentos e de óbitos) existam em boas condições de leitura. Haverá decepções, se tais livros se perderam ou se se ignorar o lugar em que se deve proceder à busca.
Na pesquisa, nenhuma informação é desprezível: toda notícia é bem-vinda e pode importar. Muitas vezes, uma minúcia aparentemente insignificante contribui para se deslindar uma dúvida ou para o prosseguimento das buscas.
Sempre é interessante conhecer-se de onde se provém, o que confere uma identidade pessoal própria aos membros da família cuja árvore se descobriu. Bem entendido que as genealogias correspondem a curiosidades e não a qualificativos pessoais: descender alguém de certa individualidade ilustre não o torna melhor por isto. A qualidade de cada um decorre do que é por si, do comportamento, dos valores, e não de quem descende.
De certo modo, a genealogia vincula-se à heráldica, ou seja, ao estudo dos brasões de família, a cujo respeito é frequentíssimo as pessoas atribuírem-se o brasão que corresponde ao seu sobrenome. Assim, por exemplo, alguém da família Abrantes considera pertencer a ela o brasão que pertenceu a alguém do mesmo sobrenome. Trata-se de um engano comum: os brasões atribuíam-se a certos indivíduos de dada família e aos seus descendentes, e não ao todos quantos possuam certo sobrenome. A nem todo Abrantes corresponde o brasão que se atribuiu a certo Abrantes.
É de lembrar que os brasões correspondiam a honrarias próprias dos regimes monárquicos e que inexistem nas repúblicas, em que tampouco existem os títulos nobiliárquicos (de barão, conde, etc.).
Há alguma literatura genealógica, antiga e moderna. Dentre os livros antigos, contam-se a “Nobiliarquia paulistana”, de Pedro Taques, do século XVIII, a Genealogia Paranaense, de Francisco Negrão, do século XIX, a Genealogia Paulistana, do mesmo século, e uma quantidade enorme de pequenos livros, sobre as mais variadas famílias, escritos, em regra, por algum membro seu.
Na Europa, as pesquisas genealógicas são frequentes e muitas vezes remontam a dezenas de gerações; no Brasil, os descendentes de imigrantes raramente alcançam a quarta geração, já as famílias de origem colonial permitem remontar a seis, oito, dez gerações, e mais.
Arthur Virmond de Lacerda Neto é genealogista paranaense e dono da www.viladoprincipe.com.br editora, publicando, também, genealogias sob encomenda. Contato: arthurlacerda@onda.com.br