AMIZADE “ANIMAL”
A amizade é uma das relações mais complexas do ser humano, pois envolve vários sentimentos: lealdade, camaradagem, respeito, solidariedade… Mas, se não houver reciprocidade, não é amizade!
Não se testa uma amizade! Não se cobra uma amizade! Não se abusa de uma amizade! Não se esnoba ou desdenha de uma amizade!
Um amigo não é somente aquele com quem podemos contar em qualquer circunstância: é também aquele para quem estamos disponíveis a qualquer hora. Também não é aquele que ouve nossos lamentos, compreensivo; nem o que aplaude, maravilhado, nossos sucessos. Amigo é, também, aquele cuja tristeza nos afeta e cuja felicidade nos satisfaz na mesma medida.
Amigo não é aquele que incentiva, tolera ou compartilha de nossos vícios e defeitos, mas aquele perante o qual nos sentimos impelidos e incentivados a corrigí-los.
Amizade não mede palavras, mas um amigo não as usa para ferir ou humilhar. Se isso ocorre, no entanto, ele não espera que o outro simplesmente o perdoe, mesmo que tenha certeza de que isso ocorrerá. Antes disso, se apressa em pedir desculpas e, mais que isso, procura não repetir o erro!
Ninguém é perfeito, apesar de alguns acreditarem piamente nisso.
Um amigo espera ser entendido, mas também procura entender! Considera um amigo como igual e não como um suporte ou como alguém que deve viver a sua sombra.
Tem gente que quer pessoas que lhes dêem apoio nos momentos de tristeza, que comemorem seus momentos de alegria, e que, sobretudo, não lhes dêem problemas. Ou seja, querem apenas fãs!
Só que amigo não é apenas aquele que nos segue para onde formos. É aquele com quem nos sentimos bem – e que se sente bem conosco – em qualquer lugar! É aquele que sabre brincar e receber uma brincadeira com o mesmo espírito.
Amizade dá a mão, quando preciso; mas, nunca impõe algemas. Amizade disponibiliza, não cobra. Amizade não se impõe, se merece. Amizade não tem tempo ou lugar.
Como diz Milton Nascimento: “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração, mesmo que o tempo e a distância digam não…”!
Amigo é bom como é, e não como queremos que seja. Também não é aquele que afirmamos conhecer bem. É quem buscamos conhecer cada vez melhor.
Quando alguém estipula “suas” condições para que uma amizade continue é porque se acha tão superior ao outro que este deve adaptar-se ao seu ego. Em suma, é porque já não existe mais amizade. Na verdade, talvez ela nunca tenha existido e fosse tão somente um instrumento: oportuno, momentâneo, descartável…
O fato é que a amizade tem muito de inexplicável, portanto, não faz sentido fazer “check list” ou analisar antecedentes sociais, financeiros, religiosos, raciais ou profissionais para definir se determinado indivíduo serve para ser amigo ou não. Amizade é coisa de pele e não de grife!
Assim, amizade é uma coisa muito séria! Não pode ser comprada nem condicionada! Se assim for, não é amizade: é interesse que se esgota quando o “amigo” não serve mais, quando não está mais “à altura”…
Coisa de amigo: “da onça”, “urso”, “cachorro”…
Ops! Peço perdão aos animais pela comparação imerecida.
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro e Professor Universitário