Socioambiental

Catadores de papel: trabalho, significado e gestão de negócios

* Sônia Regina C Lages[1]

* Esther Lopes Karlburger[2]

* Renata Delgado[3]

 

publicado em 17/09/2006 como www.partes.com.br/socioambiental/catadores.asp

 

RESUMO: O presente trabalho parte de uma pesquisa desenvolvida por professores e alunos da Faculdade Estácio de Sá em Juiz Fora, há dois anos, com os catadores de papel da APARES – Associação dos Catadores de Papel e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora, subsidiada pela AMAC – Associação de Apoio Comunitário da Prefeitura Municipal. Nosso trabalho consistiu em buscar junto àqueles atores, o significado que a atividade que realizavam tinha em suas vidas, os obstáculos que impediam o crescimento da associação e o desenvolvimento de ações que os preparassem para a gestão de seu negócio. A nossa intenção foi de trazer à tona o problema da exclusão social, os mecanismos capitalistas perversos que impedem os catadores de se emanciparem economicamente e socialmente, e através da pesquisa-ação, alertá-los para a necessidade de conhecer e praticar os novos modelos de gestão de negócios, como forma de garantir sua inclusão social e permanência do mercado de trabalho.

Palavras-chave: Catador de papel, Associação, significado do trabalho, gestão de negócios

 PAPER GATHERERS: WORK, MEANING AND BUSINESS MANAGEMENT  

ABSTRACT: The present study arises from a research developed by professors and students of the Faculdade Estácio de Sá, from Juiz de Fora, along the last two years, whose subject was the paper gatherers of APARES – Associação dos Catadores de Papel e Resíduos Sólidos de Juiz de Fora -, subsidized by the municipality through AMAC – Associação de Apoio Comunitário da Prefeitura Municipal. Our work was to search, among those people, the meaning which the activity thy did had in their lives, the obstacles which impeded the associations growth and the development of actions which would prepare them for their business management. Our goal was to manifest the problem of social exclusion, the perverted capitalist mechanisms which hinder the economic and social emancipation of the gatherers, and, throwgh action-research, warn them about the necessity of knowing and practicing new business management models, as a way to assure their social inclusion and their continuation in the work market.

Key-words: Paper gatherer, association, meaning of work, business management

 

  1. Introdução

O trabalho constitui e explica grande parte da sociedade capitalista. Os processos de socialização, a construção de identidades, as formas de dominação e resistências, os mecanismos de inclusão e exclusão, seja na área da educação, da política, da economia, ou quanto à discriminação das minorias étnicas e da desigualdade dos direitos entre os homens e as mulheres, têm origem nas situações laborais e nas relações sociais estruturadas na atividade produtiva.

Assim, o trabalho, como ato concreto, individual ou coletivo, é por definição, uma experiência social. Seja ele opressivo ou emancipador, tripalium (tortura) ou prazer, alienação ou criação, salutar ou doentio, em todas as suas ambivalências, ele não se limita à jornada laboral, mas repercute sobre a totalidade da vida em sociedade (CATTANI, 1996), engendrando significados e sentidos de existência.

A trajetória desses significados tem um conteúdo bastante perverso quando o olhar se dirige para os países que foram colonizados de forma predatória pelo empreendimento mercantilista europeu, como os da América Latina. Inicialmente, a cultura indígena foi considerada como incapaz de produzir, sendo associada à preguiça, ao pecado e ao atraso, e por isso, sob o peso das armas e da ideologia  euroetnocentrica,  foi em sua grande totalidade, destruída. A seguir, o problema da falta de braços levou à nódoa da escravidão e ao concurso dos migrantes, durante mais de quatro séculos e meio. Especificando o caso brasileiro, as consequências desse tipo de colonização deixaram marcas profundas, claras e visíveis nos dias de hoje – a marginalização dos negros e dos seus descendentes, os colocam fora do mercado de trabalho, ou ganhando salários menores, ou desempenhando atividades de mais baixo status social. (GAMBINI, 1998).

No caso do Brasil, a partir de 1980, o país, já industrializado e urbanizado passou a viver um problema inverso. Em vez de faltarem braços, a questão passou a ser a falta de emprego para os que queriam trabalhar. A partir da década seguinte, anos e anos de baixo desempenho econômico foram aumentado, progressivamente, o número de pessoas que não conseguem emprego. Além desse baixo desempenho econômico, surge uma grande transformação na estrutura administrativa e tecnológica das empresas: é nula a criação de empregos industriais; modifica-se profundamente a organização dos processos fabris; altera-se o perfil de habilidades, educação e qualificação dos trabalhadores; enfraquece-se a base sindical organizada; aprofunda-se a automação on-line, flexível e abrangente; poupa-se o capital de giro com a minimização dos estoques; enxuga-se o sistema de administração das empresas, com a supressão de níveis hierárquicos e com as terceirizações; articulam-se redes eletrônicas de suprimento com fornecedores e distribuidores. (BARELLI, 2003). As consequências em relação ao número de empregos são evidentes. Enquanto no paradigma da Segunda Revolução Industrial a maior produção significava empregar maior número de trabalhadores, inaugura-se agora a época do crescimento sem emprego. No caso do Brasil, lembra Barelli, ficamos só com o “desemprego”, porque também não houve crescimento.

O desemprego amarga a vida de muitos brasileiros, e tanto pior quando se trata daqueles literalmente excluídos do sistema: os sem educação e qualificação profissional, os sem teto, os sem condições mínimas de sobrevivência, os sem assistência médica, os sem proteção do Estado. A falta de vínculo empregatício gera salários menores, falta de proteção legal e a ausência da contagem do tempo de aposentadoria. Inseridos neste espaço de segregação social, é que se encontram as pessoas que exercem a atividade de catar papel nas ruas, objeto do presente estudo. Assim, a pobreza e a necessidade de manutenção da dignidade na miséria, levam à construção de estratégias de sobrevivência, fazendo com que o indivíduo ou o coletivo procurem formas de inserção social.

Mas, por mais maciça que seja a realidade dos poderes e das instituições e sem alimentar ilusões sobre seu funcionamento, De Certeau (1990) sempre discerne um movimento de resistências, as quais fundam persuasivo micro liberdades, que utilizando recursos insuspeitos, deslocam a fronteira da dominação dos poderes sobre a multidão anônima. O autor dá atenção à liberdade interior dos que não se conformam com o que é organizado e instituído. Ele acredita na criatividade do mais fraco, que através de táticas é capaz de escapulir do poderes vigentes. Esses atos de resistência se concretizam através de uma prática no cotidiano de pessoas comuns, a que De Certeau dá o nome de artes de fazer. Arte no sentido de burlar, de cambiar, de ser capaz de viver em áreas fronteiriças, em lugares transitórios. São as astúcias das pessoas comuns que invertem a ordem a seu favor, que De Certeau irá estudar. Interessa a ele as redes de uma anti disciplina que vão sendo tecidas no dia-a-dia.

Segundo o autor, o racionalismo ocidental não se dá conta que as pessoas  ainda hoje podem agir através de um modelo que se remonta às astúcias milenares dos peixes disfarçados ou dos insetos camuflados. Escondida sob o rótulo de consumidores, de dominados, a gente ordinária vai construindo, nas práticas do cotidiano, mil maneiras de empregar o produto que é imposto pelas classes dominantes.

Na fila dos que lutam pela sobrevivência, a partir da construção de táticas, que como disse De Certeau, conseguem transformar a própria realidade, e, aqui, literalmente, a partir do que as classes consumidoras descartam, encontra-se o catador de papel que apesar de inserido na atividade da coleta de lixo urbana, são frequentemente explorados. Sem informação, desprovidos de representação legal, sem reconhecimento de categoria profissional, sem financiamento das empresas de crédito, vendem sua mercadoria para intermediários que os vendem às indústrias de reciclagem (GROSSI, 1998).

Na contramão dessa situação, iniciativas da sociedade civil organizada e do poder público apoiam o trabalho dos catadores de papel, como é o caso da APARES, que recebe o apoio da AMAC – Associação Municipal de Apoio à Comunidade, órgão do governo municipal.

O desafio de construir e consolidar direitos de cidadania e particularmente os direitos sociais, para uma população que vivendo abaixo da linha da pobreza, encontra-se hoje frente às perversas ameaças da modernidade capitalista tardia e da globalização, que cada vez mais a desloca para a periferia do sistema, gerando uma dura realidade que exige reflexões e muitas ações. Assim, o cooperativismo, o associativismo, surgem como iniciativas solidárias que se apresentam como um espaço de vivência e valores não hegemônicos, bem como, apresentando a capacidade de gerar efeitos equivalenciais, se tornando, dessa forma, uma ação estratégia contra a miséria e a pobreza. (CORTIZO, OLIVEIRA, 2004).

O que no entanto se percebe, é que dentro de pouco tempo, obstáculos vão se configurando e dificultando o avanço, o crescimento e desenvolvimento dessas iniciativas,  o que é compreensível e natural já que elas estão inseridas dentro de um modelo econômico, que hoje, como em nenhum momento da história, tem como palavra de ordem, a competição, como forma de sobreviver num mercado extremamente mutante.

Tal situação foi observada na APARES. Se por um lado, a associação possibilita a organização um espaço que dá conteúdo prático à luta dos catadores que sobrevivem do que é descartado pela sociedade (LAGES, 2005), possibilitando inclusão a social e a elaboração de novos sentidos de subjetividade e de identidade social, por outro lado, as dificuldades encontradas colocam em cheque sua sobrevivência.

2          Perfil e estruturação da APARES

Com o objetivo de organizar os catadores de papel da cidade de Juiz de Fora, em torno de uma Associação, maneira essa de proporcionar-lhes maior autonomia, melhores condições de trabalho e inserção social, a AMAC – Associação Municipal de Apoio Comunitário de Juiz de Fora apoiou a formação da APARES, em 1998.

Coube à AMACJF: ceder as instalações, o galpão, que possui em torno de 600 m2, onde os catadores fazem a triagem do lixo; a responsabilidade pelo pagamento dos salários de um contador, de um auxiliar administrativo e de um prensista; a cessão de equipamentos – prensa e balança; a doação de uma cota de alimentos básicos utilizados no almoço dos associados; e, ainda, a doação de uma cesta básica mensal a cada catador. A AMAC também garante creche para os filhos dos catadores e encaminha os adolescentes para os programas a eles destinados, por esse órgão.

Segundo Regina Caeli de Souza Cunha, responsável pelo desenvolvimento do programa, a ideia inicial era que dentro de algum tempo a APARES se tornasse autossustentável, desatrelando-se da AMAC. Mas isto não aconteceu. A APARES é totalmente depende daquele órgão público. O valor gerado pela atividade dos catadores não é suficiente para arcar com as despesas. Além disso existem sérios problemas de infraestrutura no galpão, o que já propiciou um incêndio no local (o gasto com a restauração foi feita pela AMAC) e o mobiliário é bastante precário. E, ainda, o produto disponível para a coleta dos associados tem diminuído devido à competição ser hoje bem forte, uma vez que outras classes sociais mais favorecidas disputam com o catador a coleta do papel na cidade, fato esse que denuncia o empobrecimento das pessoas de forma geral.

No entanto, o fato mais agravante é que os associados não possuem condições de se tornarem os próprios gestores do seu negócio. Tal situação é consequência do baixo índice de escolaridade e da dificuldade dos coletores na adoção de novos comportamentos, no que se refere à falta de coesão do grupo devido a lideranças negativas que acaba por dificultar a internalização de valores éticos e de um efetivo trabalho de equipe em prol de uma meta única – o trabalho cooperativo.

A falta de registro da Associação é também um impedimento de crescimento. Segundo G., 32 anos, sete anos coletando papel nas ruas:

Nós temos muitas dificuldades porque a Associação não é registrada, e se a APARES fosse registrada, para nós seria melhor, porque muitas pessoas deixam de doar o material por ela não ter o registro. Igual à Caixa Econômica Federal, nós já conversamos com o pessoal de lá, eles tentaram fazer um convênio com a gente para doar o papel. Ta escrito e tudo, mas eles estão esperando o registro da APARES. Assim também, outras empresas para fazer a doação precisam desse registro, e nós não temos.

O cooperativismo pressupõe igualdade, prudência ecológica e solidariedade, mediado por princípios de justiça, democracia e autogestão. É dessa forma que o cooperativismo se caracteriza como uma possibilidade de inclusão no mercado de trabalho, mas principalmente como um espaço de politização, de aprendizado e de construção coletiva de cidadania. (CORTIZO, M. Del Carmem, OLIVEIRA, Adriana L., 2004). Mas essa consciência cooperativista é difícil de ser construída, uma vez que a cultura do “jeitinho brasileiro”, que preconiza a esperteza, a malandragem, a ação através de estratégias que fogem aos padrões morais foi fortemente internalizada no decorrer de mais de quinhentos anos.

A APARES conta hoje com quarenta catadores capacitados para a atividade, mas somente dezessete frequentam a associação sistematicamente. Essa capacitação é um pré-requisito para que o catador possa se associar. Ela consiste num curso de quarenta horas em que são abordados temas que envolvem habilidades básicas, específicas e de gestão.

A Associação segue os princípios do cooperativismo, se organizando em cinco comissões: a de coordenação, a de fiscalização, a de cultura e lazer, a de meio ambiente  o conselho fiscal, cargos esses que  são ocupados pelos catadores.

 Dentre os dezessete associados, com faixa etária entre dezoito a sessenta anos e na sua quase totalidade, analfabetos, a maioria são homens. Com o trabalho chegam a ganhar, em média, de meio a um salário mínimo. Esse valor sofre variações devido à dinâmica sazonal influenciada pela oscilação do consumo da população. Em épocas do ano marcadas por um comércio mais intenso ele aumenta, no entanto a produção diminui consideravelmente no período de chuvas, quando a atividade não é desenvolvida, pois não se pode vender o papelão molhado. Nesses períodos, a situação dos catadores se agrava, pois se não coletam o papel nas ruas, eles não têm o que vender, e assim não ganham nada.

A APARES sofre a concorrência dos outros coletores que não são associados e que vendem os produtos direto para os depósitos de papel; a concorrência da própria população que também separa e vende o material selecionado (latinhas, papelão, pet); a concorrência do DEMLURB – Departamento de Limpeza Urbana do Município, que com seus caminhões recolhem o lixo que foi separado e o encaminha para a Usina de Triagem do município; e principalmente a falta de consciência ecológica da população que ainda  não se habituou a separar o lixo doméstico em resíduos secos e os úmidos.

A falta de um transporte próprio, a máfia dos donos de depósito da cidade que além de explorar o trabalho dos catadores, contribuem de forma pontual para o com o alcoolismo de muitos coletores e para a manutenção de uma cultura perversa em que a trapaça media a relação que deveria ser profissional, são outros sérios problemas que aquelas instituições enfrentam. A solução para tantos problemas viria de uma infraestrutura que permita a venda dos resíduos diretamente às fábricas, sem a mediação dos depósitos.

3          Metodologia 

 A pesquisa foi realizada através de duas etapas. Na primeira, o método empregado foi o etnográfico, realizado durante os meses de agosto a dezembro de 2005, e utilizou a entrevista aberta, com o uso de uma câmara de vídeo. O objetivo geral era de detectar o significado do trabalho para os associados,  considerando a atividade que realizavam e seus reflexos em suas vidas pessoais e pública: a reação das pessoas da rua quanto à sua presença; dos motoristas; do comércio local, buscando, ainda, compreender o sentido dos diferentes significados que os associados internalizavam a partir do discurso ecológico, promovidos pela Amac, e de que forma a atividade contribuía com a melhoria da autoestima.

A segunda etapa, realizada de dezembro de 2004 a dezembro de 2005, teve como método a pesquisa-ação, que objetivou levantar os dificultadores relacionados à administração da Associação, e a partir daí, desenvolver treinamentos focados em tais dificuldades. Os treinamentos foram realizados por alunos e professores do curso de Administração da Faculdade Estácio de Sá, que receberam os treinamentos adequados para que pudessem estar ministrando os cursos a um público, que como já foi dito, é na sua grande maioria analfabeto.

A seguir, então, estaremos relatando o desenvolvimento da pesquisa.

3          A dinâmica do trabalho, a rotina e o significado social do lixo 

Diz Roberto DaMatta (1987) que “casa” e “rua” designam entidades morais, esferas de ação social, províncias éticas dotadas de positividades, domínios culturais institucionalizados, capazes de despertar emoções, reações, leis, orações, músicas e estéticas. Contrapondo a rua à casa, o autor nos diz que na rua passamos por indivíduos anônimos e desgarrados, quase sempre maltratado, sem voz. Somos na rua “subcidadãos”, e por isso nosso comportamento é sempre negativo. Assim, joga-se lixo na rua, desrespeita-se o sinal de trânsito, depreda-se a coisa comum, não se tem vergonha da desordem. A rua é lugar do povo, da massa, da prostituição, da malandragem, da anomia.

E é nesse espaço que as pessoas são ninguém, que o excluído circula e deixa à mostra uma ferida social: o Brasil progrediu dos excluídos necessários (que o capitalismo dizia ser temporário e em prol de um futuro que seria bom para todos) aos excluídos desnecessários, forjando atores incômodos politicamente, ameaçantes socialmente e desnecessários economicamente.(NASCIMENTO, 1995). Se no Brasil colônia, índios e negros se constituíam como mercadoria disponível e necessária, o modelo de desenvolvimento adotado pelo país acabou por concentrar os níveis de carência e privação cada vez mais aos bens imprescindíveis à sobrevivência física, como salienta Denise Juncá (2004, p.108).

Mas se os excluídos que perambulam à procura de sobrevivência, são vistos, como disse DaMatta sobre a lógica da rua, como entes perigosos, um bando de gente suja com propensão ao alcoolismo, à vagabundagem, candidatos ao banditismo, o que se verifica é a reapropriação, pelos catadores de papel, desse espaço de anomia, conferindo-lhe significados de dignidade e honestidade através do trabalho que realizam. As associações a que pertencem são em grande parte responsáveis por essa inversão de significados, quando através da conscientização da importância da preservação e do cuidado com o meio ambiente, engrandece e dá sentido ao trabalho do catador de papel. Como diz BM., 24 anos:

Muitas pessoas critica a gente, fala que tipo assim: que pessoa porca, fica mexendo no lixo, mas mal ele sabe que se não fosse a gente era arriscado já ter cortado mais de não sei quantas árvores, e que hoje em dia não é preciso de cortar porque tem a reciclagem, entendeu? Igual a gente fez um curso aqui e eles levou a gente pra ver a importância que é nosso serviço, porque se não for a latinha amassada vendida pra eles derreter e fazer outra, pra mandar para o comércio de novo, eles iam gastam muito o dobro de energia, eles economizam com o nosso serviço.

O discurso da consciência ecológica, promovido pelas associações de catadores, é internalizado pelos associados, assim como possibilita uma nova linguagem, mais conectada com o  mundo do capital: o lixo é um produto, que catado e reciclado, faz a empresa economizar e ter mais lucro.

Z., 44 anos, também inverte sua posição social através de seu trabalho com o lixo:

Eu sinto muito orgulhosa do que eu faço, você não trabalha com reportagem, você não se sente orgulhosa do que você faz? Uma dentista não sente orgulhosa de ser dentista? Assim a mesma coisa é eu. Fico muito orgulhosa de catar papel, porque primeiro é o meu sustento, sustento dos meus filhos, porque eu não tenho pensão, não tenho salário, não tenho nada, eu vivo disso, eu vivo de papel. Segundo é uma experiência de vida, porque hoje o catador de papel é o último serviço na lista de escala do mundo, mas se o brasileiro reparar na sociedade, no meio ambiente, ele é o primeiro serviço. Porque sem o ar você não respira, sem uma árvore, sem um rio, sem uma cachoeira, sem a chuva. E para que a chuva? A chuva tem que ter o rio, o rio tem que ter rede de esgoto. E se você deixar o lixo todo ir para a enchurrada, para a rede de esgoto, pras mata, como você vai poder amanhã ser um cidadão brasileiro? (…) Então eu me sinto muito orgulhosa de passar na sua casa para catar o seu lixo.

A APARES participa efetivamente da individuação dos catadores de resíduos sólidos. Eles se veem diferentes dos demais. São treinados, qualificados para essa atividade:

A Associação é diferentes dos outros depósitos aí em que os catadores vão pra rua, e aí chega lá e rasgam o lixo todinho, aí o pessoal fica assim com o pé atrás com o catador. Por isso é que nós temos treinamento. A gente aprende e ensina a não rasgar o saco de lixo, a espalhar o lixo, a não beber. A gente aqui não aceita que o catador beba na hora do serviço, não aceita que ele saia fazendo sujeira por aí. Aqui mesmo na frente da Associação. Quando a gente vê que a porta ta suja, nós vai e limpa. (G, 32 anos).

Coletar resíduos sólidos é uma profissão, que gera o sustento da família. Ainda nas palavras de G.:

(…) é muito difícil você criar seus filhos, entendeu? Se você fica em casa, você não tem como dar uma alimentação pra eles direito. Eu não tenho. Eu não dou tudo pra eles, tudo que eles quer, mas pelo menos eu não deixo faltar pra eles o leite, o pão de manhã. Às vezes meus filhos pedem iogurte, eu dou eles.Catar papel é uma profissão honesta. Você está trabalhando, não está tirando nada de ninguém. Só disso aí já fico orgulhos, saber que estou tirando meu sustento do meu próprio suor.

Assim como o trabalho dos catadores oferece o sustento da família, orgulho por ser trabalhador e estar inserido no mercado de trabalho, ele também é fonte de discriminação social. Ainda na fala de G.:

(…) o jeito que as pessoas me olham… Às vezes você está indo com o carrinho, as pessoas atravessam para o outro lado da rua, isso eu já passei muito.

Ou, ainda, como fala NN, 44 anos, três anos da rua coletando papel:

Ainda tem certas pessoas que tratam a gente com descaso, né? Ainda não tem o respeito que o catador de papel deveria ter. Eles acham que o catador de papel é a mesma coisa que o lixo.

Mas se sentem na pele a discriminação que sofrem por uma parcela da sociedade, uma outra já enxerga o catador de papel como cidadão, trabalhador:

Mas tem muita gente que respeita, que já separa o papel pra gente, já chama e entrega o papel pra gente. Tem muita gente hoje que já se conscientizaram, que o trabalho do catador de papel é um serviço pra sociedade.

E, como diz G., 32 anos:

Mas tem muitas pessoas que passam perto de você e te dá mais orgulho ainda  de você estar catando seu material, porque às vezes uma pessoa chique, importante, passa ali e para, te dá atenção, ou então de cumprimenta. Só isso daí faz você se sentir mais feliz de estar trabalhando, e você vê que aquela pessoa está se importando.

Laços de solidariedade e união são construídos, o sentido de família é reconstituído, através das cooperativas. Diz W. 22 anos que saia para ajudar a mãe a catar papel quando tinha oito anos de idade:

Aqui é uma casa, cheio de irmão, ora cê briga com um, cê briga com outro. Tem hora que cê ta bem com um, num tá bem com o outro, mas se um passar mal lá fora, todo mundo vai atrás dele pra ajudar. (NN, 44 anos)

Como foi visto anteriormente, De Certeau (1994) afirma que a cultura popular encontra táticas para desfazer a ordem estabelecida, e aqui no caso, a da miséria e da exclusão social e econômica. E, ainda, que o sistema constrói redes tão apertadas que é impossível sair fora delas, masque a partir das referidas táticas, o vencido da história pode construir um campo em que ele possa sobreviver. Podemos pensar, a partir das falas dos catadores, e a partir de De Certeau,  que o cooperativismo é também uma maneiras de colocar na agenda a reivindicação de seu status de cidadão, e em suas vidas, a esperança.

4          Administrando a APARES  

Apesar de realizar negócios comerciais, não tendo como finalidade principal a obtenção do lucro, as organizações associativistas que integram o emergente terceiro setor têm como objetivo apresentar respostas e alternativas ao problemas de nossa época, sobretudo àqueles decorrentes das rápidas mudanças sociais e tecnológicas (DOMINGUES, CRISTOFOLI, 2004), que acarretam para as populações mais pobres o alto risco de sobrevivência, e o abismo social.

Os novos paradigmas da globalização e todas as suas consequências, aterradoras para grupos sociais desfavorecidos sócio economicamente, colocam na ordem do dia uma série de novos comportamentos necessários para fazer frente às novas tecnologias, à aceleração do tempo, à desfragmentação do espaço e das coletividades, ao crescimento do individualismo, provocados pelas novas formas de comunicação, transporte e produção. (BAUMANN, 1998).

No entanto, o que se observou na APARES foi o total despreparo dos seus associados para essa nova visão: de que o trabalho que realizam é um negócio que precisa ser gerido de acordo com alguns pressupostos mercadológicos e de gestão de empresas, sem a perda do seu caráter solidário e cooperativista.

Dentre as dificuldades levantadas, destacamos algumas delas, que foram objeto de nossa pesquisa-ação, que se refere à baixa produtividade decorrente, devido a  vários fatores:

  • Falta de tecnologia e informação
  • Falta de um planejamento estratégico
  • Significativa deficiência na gestão de pessoas
  • Modelo paternalista de gestão administrativa
  • Lideranças desmotivadas
  • Desconhecimento total dos processos contábeis
  • Inexistência de espírito empreendedor
  • Forte expectativa quanto ao apoio do poder público
  • Falta de controle de qualidade

A partir de tal diagnóstico, foi realizado uma série de treinamentos de curta duração,  que se desdobraram  em quatorze módulos, na forma de minicursos, cada um com carga horária específica, variando entre quatro a oito horas/aula cada curso. Os treinamentos foram ministrados pelos professores da Faculdade Estácio de Sá e pelos discentes, participantes da pesquisa. A maior parte dos minicursos foram realizados nas dependências da Faculdade Estácio de Sá, e outros, no próprio espaço da APARES.

Face à pouca quantidade de horas destinadas a cada módulo, queremos enfatizar que os treinamentos oferecidos, tiveram o objetivo de abrir um espaço de discussão para os associados da APARES, através de mediadores (monitores e professores), que pudessem contribuir de forma positiva com a construção e ampliação de uma  consciência crítica e pela busca de soluções para as questões levantadas. Os minicursos se organizaram da forma que segue, e ao final dos mesmos, todos os membros participantes receberam Certificado de Conclusão de Curso, emitido pela Faculdade Estácio de Sá:

  1. Cultura Brasileira
  2. Globalização
  3. Liderança e Formação de Equipes
  4. Ética
  5. Marketing Pessoal
  6. Relacionamento Interpessoal
  7. Português através de imagens
  8. Técnicas de compra e venda
  9. Meio Ambiente
  10. Gestão de Negócios
  11. Noções de Informática
  12. Noções de Contabilidade
  13. Planejamento Estratégico
  14. Noções de Marketing

 

Os dificultadores que se apresentaram foram mais constantes nos cursos técnicos, como o de Contabilidade e de Informática. Foi visível a dificuldade da grande maioria dos associados de compreender a linguagem contábil e virtual. Muitos dos membros tinham dificuldades em lidar com as mãos e os dedos no manuseio do mouse, demonstrando dificuldades bastante primárias referentes à educação, no que se refere ao movimento de pinça que habilita a criança a segurar um lápis.

A Contabilidade, apesar de ter sido considerada “difícil”, conseguiram compreender que muitos dos processos contábeis que se faz hoje na APARES, não estão corretos, precisando serem revistos.

Os cursos relacionados ao Marketing, à Vendas, ao Meio Ambiente, à Gestão de Negócios, à Cultura Brasileira à Globalização, e ao Português através das imagens, deixaram os professores e monitores surpresos, pela compreensão que demonstraram sobre os assuntos. Tal fato tem lógica, uma vez que sem saber nomear conceitos e teorias administrativas, eles têm a prática, no seu cotidiano. Demonstraram estar sintonizados com o processo histórico, econômico e cultural que colocaram a grande maioria da população brasileira às margens do sistema.

A questão considerada mais grave foram as relativas ao comportamento organizacional – questões referentes à liderança, ao trabalho em equipe, e, principalmente à ética. Verificou-se que uma percepção bastante paternalista da associação, em que alguns grupos tentam se beneficiar, inclusive alterando o peso dos produtos na balança, para mais, quando se trata dos membros que são considerados “de dentro” do grupo. Existe também desconfianças quanto às lideranças do grupo, que apoiam tal situação e nada faz para modifica-la, até mesmo porque elas se beneficiam desse esquema. As equipes trabalham sem metas, sem objetivos, sem qualquer tipo de cobrança. O ambiente organizacional é mantido sob uma certa tensão, que apesar de haver um discurso de igualdade, ele não acontece na prática. A comunicação é feita através da “rádio peão”, ou seja, um permanente clima de fofoca predomina no ambiente de trabalho.

Mais recentemente, foi necessário que a AMAC colocasse um funcionário da Prefeitura para fiscalizar o processo de pesagem dos produtos, fato decorrente dos enormes desvios que estavam ocorrendo.

Tais atitudes são compreensíveis, face à miséria em que vivem, mas é também um forte impedimento para que a Associação mantenha seu caráter cooperativista e para que ela possa crescer e se tornar autossustentável.

O curso de Planejamento Estratégico foi recebido com grande entusiasmo, pois os associados vislumbraram a possibilidade, de a partir da própria Associação, se movimentarem em busca de sua ampliação e desenvolvimento, uma vez que até então sempre aguardaram a iniciativa da AMAC e da Prefeitura Municipal para mantê-los.

Considerações Finais

 

Vimos que a globalização e o acelerado avanço tecnológico, trouxeram consigo uma série de transformações, quanto à natureza do trabalho, exigindo adaptação do mundo – tanto nos países ricos como nos países pobres. No entanto, este último foi mais gravemente atingido por essa nova fase do capitalismo, que sofre com a falta de emprego e proteção do Estado, vendo crescer vertiginosamente o trabalho informal, o que significa falta de seguridade e proteção social e queda na renda.

Mediante esse quadro, o cooperativismo surge como prática de resistência, seja à exclusão do mercado de trabalho, seja à exclusão cultural e social. No entanto, como foi visto, as dificuldades de manutenção da APARES são muitas. Elas se reúnem num conjunto de entraves que se referem à falta de consciência da população que ainda não se habituou a separar o lixo orgânico do lixo seco, reduzindo a coleta seletiva; à falta de um espaço físico maior que permitiria a inclusão de novos associados; à concorrência desleal dos depósitos de papel da cidade e a concorrência de outros catadores de papel da cidade; à falta de vontade política do governo municipal em investir naquelas entidades, tornando-as parceiras do órgão de limpeza urbana da cidade, dentre outros.

Por outro, como transparece na fala dos catadores, a realidade é apropriada com novos significados, a partir de sua integração à associação. O discurso de conscientização política, de cidadania, o discurso ecológico, veiculados através daquelas instituições, assim como os cursos de capacitação oferecidos aos associados, e, ainda, as redes de solidariedade tecidas entre os mesmos, acabam por construir um novo cenário em que os catadores de papel retomam seu lugar no mundo da produção capitalista. Mais que isso, apesar de sofrerem restrições da sociedade, os catadores interagindo com os valores sociais do meio em que circulam,  se colocam como atores de uma linguagem que se direciona à defesa dos seus direitos; ao encorajamento que propicia o desafio às regras estabelecidas; à ampliação de uma visão individualista para uma visão coletivista do trabalho; à explicitação das relações de poder econômico e social; às práticas de solidariedade e apoio emocional.

Tais ações, apesar de não terem intenção de substituir o Estado, se configuram como iniciativas que, articulando parcerias com a sociedade civil tira da anomia e da fome, pessoas antes destinadas a desaparecerem dos espaços oficiais do sistema, restituindo-lhes dignidade e identidade humana.

Vimos também, que no sistema associativista, como o da APARES, é possível inserir pequenas economias no sistema produtivo, desde que elas estejam conscientizadas de que a sustentabilidade da Associação depende de que seus associados desenvolvam uma visão de que são gestores de um negócio, e que esse negócio, gerador do produto que vendem para o mercado, precisa estar sintonizado com as políticas desse mercado.

No entanto, os associados da APARES, para que possam vir a desenvolver a visão acima colocada, precisam de um grande investimento que consiste na realização de parcerias que envolvam o poder público, empresas privadas, comunidade e Ong’s.

Tal necessidade advém de uma série de dificultadores que têm como gênese: o processo histórico da economia e da cultura brasileira fundada no escravismo; o descaso do Estado pelos desfiliados do sistema; o analfabetismo; o lixo como cultura do descartável; a falta de consciência coletiva e o crescente individualismo, marcas da cultura de massa e da sociedade de consumo, presentes hoje na sociedade.

A resposta dos associados da APARES aos cursos ministrados, foram surpreendentes para os monitores, face à facilidade que a maioria deles apresentou na compreensão dos conhecimentos que estavam sendo transferidos. Apesar de possuírem baixíssima escolaridade, eles possuem uma grande experiência no mundo do trabalho. E foi essa experiência, que serviu de instrumento para que os fundamentos e conteúdos pudessem ser mais facilmente absorvidos.

Acreditamos que a maior conquista dos treinamentos realizados se refere à visão e à conscientização que os membros da APARES passaram a ter. Perceber a Associação como um negócio, que deve ser bem administrado, tanto em termos de recursos materiais como de recursos humanos. Consciência de que a falta dessa visão compromete a ética da Associação colocando em risco sua sobrevivência no mercado e o respeito da comunidade.

Um fruto concreto dos treinamentos foi a realização de um churrasco que os associados organizaram para levantar recursos para a APARES. O valor arrecadado foi destinado à concertos nas instalações do depósito, onde funciona a associação.

O projeto continua no ano de 2006 e tem como ação a realização do Planejamento Estratégico para desenvolvimento e crescimento da APARES. Ele já foi iniciado e conta agora com a parceria da Faculdade Estácio de Sá, do SEBRAE, da AMAC, da APARES e de outras empresas da cidade.

Os depoimentos dos participantes dos minicursos foram altamente positivos. Para a maioria, a importância maior foi a nova visão que conseguiram ter sobre a Associação:  uma microempresa que tem que ser administrada com eficiência, ser autossustentável, que precisa aumentar a produtividade através da diversificação de novos produtos, que precisa se manter no mercado buscando novas parcerias. Acrescentaram, no entanto, que as horas de curso foram muito poucas, que precisavam de mais.

Mas foram dois depoimentos que mais nos afetou. O de uma mulher catadora de papel há oito anos, S.(52 anos):

Eu nunca pensei que um dia em minha vida eu fosse entrar numa Faculdade, e sentar numa cadeira assim, numa sala assim, poder ir a um banheiro igual ao daqui, conversar com professores que dão aula.

E o depoimento de J. (58 anos):

Sempre ouvia o pessoal falando da tal informática e quando eu cheguei aqui e fui mexer no computador eu pensei: é ele ou eu. Nunca vi coisa mais difícil no mundo. Mas não dá vontade agora de largar. Eu queria continuar aprendendo.

Bem, cidadania tem muitos significados!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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  2. BAUMAN, Zygmund. Globalização – as consequências humanas. Rio de janeiro: Jorge Zaahar,1998.
  3. BRIDGES,William. Um Mundo Sem Empregos. São Paulo: Makron Books, 1995.
  4. CATTANI, Antonio (org.). Trabalho e Tecnologia: Dicionário Crítico. Rio de Janeiro:Vozes, 1997
  5. DA MATTA, Roberto. A casa e a rua. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987
  6. DE CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. Rio de Janeiro: Petrópolis, 1990
  7. DOMINGUES, José Calos Felício, CRISTOFOLI Fulvio.  Constituição Legal das cooperativas de trabalho e aspectos contraditórios da legislação tributária. IN: REVISTA ON-LINE , São Paulo, v.05, , n.1, p.01-09, jan/fev/mar/2004. Disponível em: << http://www.fecap.br/adm_online/adol/artigo.htm>> Acesso em 01.06.2006.
  8. GROSSI, Gabrielli. Os badameiros: o luxo do lixo. Salvador: dissertação apresentada ao mestrado em sociologia da Universidade Federal da Bahia, 1998, p. 115.
  9. JUNCÁ, Denise C de Moura, AZEREDO, Verônica Gonçalves. A mão que obra no lixo.
  10. ____. Assistentes e assistidos: o feitiço da identidade atribuída. IN: Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Editora Cortez, ano XXV.
  11. NASCIMENTO, Elimar Pinheiro. Exclusão – a nova questão social. Proposta. Rio de Janeiro: Proposta, 1994, v.22. n.61.
  12. PRATES, Jane Cruz e outros. Metodologia de Pesquisa para população de rua: alternativas de enfrentamento pelo poder local. IN: Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Editora Cortez, ano XXI, n. 64.
  13. RANDOCK, Rainer & KLIGERMAN, Debora C. Preservação ambiental, lixo e organização comunitária da coleta seletiva no município do Rio de Janeiro. IN: Cadernos Ippu, Rio de Janeiro, 1997, ano XI, n. ¼.

[1] Psicóloga, especialista, mestre e doutoranda em Psicossociologia pela Universidade Federal Rio de Janeiro. Docente na Faculdade Estácio de Sá – Juiz de Fora/MG. E-mail: sonialages@ig.com.br

[2] Discente, aluna do 9o. período do curso de Administração da Faculdade Estácio de Sá/Juiz de Fora

[3] Discente, aluna do 9o . período do curso de Administração da Faculdade Estácio de Sá/Juiz de Fora

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