A Sociologia no Ensino Médio: conquistas e sentidos
Por José Henrique Manhães Neves
publicado em 12/08/2006 como www.partes.com.br/educacao/ensinodesociologia.asp
A luta pela legitimação do Ensino de Sociologia no desenho curricular de escolas do Ensino Médio no Brasil foi imprescindível para redimensionar a importância da Sociologia e suscitar questões de sua peculiaridade enquanto ciência.
Tal luta realizada em um espaço de tempo relativamente duradouro e não isenta de feridas e resistência pelos governos militares e ditatoriais, e as vezes violentas, veio somente reiterar a mobilização pelos direitos e por uma aprendizagem significativa da percepção e compreensão sociológica. Nesses processos de percepção, compreensão e lutas percebeu-se que Benjamim Constant, em 1890, já se fazia sentir da obrigatoriedade sobre o domínio de tal conhecimento.
Baseado nesta análise, percebeu-se que os estudos de mobilidade social, conceitos referentes a cidadania, movimentos estudantis, grupos sociais, esgarçamento do tecido social, violência urbana e tantos outros dão a ideia da premência de aprovação da lei que reivindica o ensino de Sociologia, embora a Lei 9394 de 20/12/1996 em seu artigo 36 propõe que o aluno do Ensino Médio tenha o domínio dos conhecimentos de Sociologia necessários ao exercício pleno da cidadania.
Em face do exposto, observa-se que temos em mãos a possibilidade de redefinir conceitos abordados na Sociologia para que as Instituições não criem brechas para que, novamente, o ensino não se institua na antiga Organização Social e Política Brasileira e Educação Moral e Cívica onde a palavra de ordem era ORDEM.
Para ser preciso, é importante que pesquisadores cientistas sociais, docentes e estudantes procurem articular as condições do processo de conquistas e sentidos para que se revigore as esferas e a trilogia da Sociologia. Nesta trilogia estão incluídos os fundamentos da aprendizagem reconstrutiva; os metodológicos que nos levam a questionar a ciência, a argumentar com propriedade e a manusear dados com capacidade interpretativa.
Outra ideia que se faz pertinente pela pertinência dos fatos é compreender que a Sociologia oportuniza a examinar as notícias que têm como morada por detrás das notícias. Nesta direção, esta ciência entendida em outrora como saber desinteressado, assume agora a necessidade de articulação com uma expressão prática. Se considerarmos que na década de 60 e 70 tal disciplina era desconsiderada por não produzir “bem estar”, tal contexto atual pode ser assumido como uma ação consciente de manifestação de esforços e pensamentos, visando se constituir uma expressão entendida como uma reflexão sobre o fim, o sentido e a intencionalidade da existência.
Creio que as Ciências Sociais darão conta da finalidade pedagógica por ter o pertencimento que lhe compete sem precisar ter um discurso moderno e progressista, porém, realista onde as sociedades humanas destacam-se pela capacidade de conquistas e representações e tornam-se, precisamente, o presente no tempo presente. Assim se dá e se constitui a Sociologia: recuperar o espaço político de ação transformadora da realidade e revitalizar os canais de participação do homem, a razão comunicativa, a reapropriação da liberdade autêntica e a capacidade solidária e dialógica de construir formas, conquistas, sentidos e dignidade humana.