O lúdico no contexto escolar: um resgate ao prazer de aprender
Por Joristela de Souza Queiroz
publicado em 12/05/2006
Publicada originalmente coimo <www.partes.com.br/educacao/ludico.asp>
Diante de tantas mudanças que acirram contradições internas e externas de povos e nações, a escola inserida num cenário de modernidade, luta para vencer novos desafios. Objetivamente, o que se constata hoje é que a escola não tem conseguido garantir a apropriação significativa de conteúdos, neste caso não preparando o educando nem para o mercado de trabalho e nem para a vida.
Durante muito tempo e presente até os dias atuais, as políticas educacionais no Brasil estiveram ligadas a uma estrutura burocrática, ocasionando com isso um sistema educacional ineficiente, com índices que colocam o país em último lugar com números baixos de conclusão do Ensino Fundamental, se comparado com os países da América Latina.
O grande desafio da escola pública está em garantir um padrão de qualidade para todos e, ao mesmo tempo respeitar a diversidade local, étnica, social, cultural e biológica de cada indivíduo. Gadotti (1992: 82) enfatiza que:
A escola não deve apenas transmitir conhecimentos, mas também preocupar-se com a formação global dos alunos, numa visão em que o conhecer e o intervir no real se encontrem. Mas, para isso, é preciso saber trabalhar com as diferenças: é preciso reconhecê-las, não camufla-las, aceitando que, para conhecer a mim mesmo, preciso conhecer o outro.
A crise de paradigmas afeta a escola, crescendo o desejo de participação nas decisões. Trata-se de anseio por novas formas de organização na escola, de modo a propiciar condições favoráveis ao trabalho criador do educando, respeitando sua fase de vida.
Deste modo, as diferentes abordagens sobre a prática lúdica no contexto escolar como alternativa de resgatar a alegria e o prazer de aprender poderão contribuir para ampliar os conhecimentos e possibilitar caminhos para um profissional mais dinâmico e reflexivo, capaz de atender às necessidades dos educandos, pois, diariamente, o tempo e a história nos impõem à busca por novas práticas pedagógicas que auxiliem e facilitem o processo dinâmico que é a aprendizagem.
À luz dessa reflexão, é inegável ressaltar, que se faz necessário uma escola diferente, onde a criança queira estar e em que haja alegria e prazer para descobrir e aprender, pois é notório que em grande parte das escolas públicas situadas em bairros periféricos, encontram-se muitas crianças que trabalham desde muito cedo em diversas atividades para ajudar na renda familiar, e o tempo de que dispõem é habitualmente saturado por deveres e afazeres restando pouquíssimas oportunidades para as atividades ludo-recreativas.
A partir de uma opção democrática, almeja-se resgatar o verdadeiro papel social da escola e do professor, isto pressupõe mudanças, seja no campo profissional, visto que, perpassa pelas questões de formação, remuneração e consequentemente valorização bem como, institucional que inclui número de alunos, espaço adequado e material didático satisfatório.
Alguns percalços pedagógicos como desinteresse, indisciplina dos alunos, baixa aprendizagem entre outros de ordem sócio-econômica, permeiam o âmbito escolar, “democratizou –se” o acesso ao ensino, sem democratizar a melhoria socioeconômica e sendo assim, a escola perde seu brilho e seu encanto.
Convém afirmar que a mudança não ocorrerá de forma espontânea, é um processo extremamente complexo e que exige competência e comprometimento de todos os agentes que compõem a comunidade escolar.
É grande o esforço dos pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, na tentativa de buscar alternativas para auxiliar e facilitar o processo dinâmico que é a aprendizagem. Entretanto, ainda encontram-se presentes nas escolas, alunos inclinados à distração, sem estímulos para realizar as atividades escolares, encarando a escola como algo difícil , pesado e obrigatório. Snyders (1993: 9) salienta que:
Se o tempo da escola é um tempo de enfado em que educador (…) e educadores vivem os segundos, (…) à espera de que a monotonia termine a fim de que partam risonhos para a vida lá fora, a tristeza da escola termina por deteriorar a alegria de viver (…)
A criança desde muito cedo, possui um anseio natural para brincar, isto é, para por em prática suas habilidades que desabrocham em crescentes variedades de formas para explorar a si própria e o ambiente ao seu redor. Em sua maneira de “brincar”, ela expande uma grande quantidade de emoções, pela variedade de brincadeiras que vivencia, organiza seu mundo interior em relação ao exterior entretanto, em muitas escolas esse desejo de criar e imaginar são substituídos por técnicas mecanicistas consideradas atualmente, ultrapassadas.
Vale salientar que são muitas as habilidades motoras que a criança adquire ao longo de seu desenvolvimento, ajudando-a a desenvolver competências nas diversas atividades do seu cotidiano. Desde muito cedo, possui um anseio natural para brincar, isto é, para por em prática suas habilidades que desabrocham em crescentes variedades de formas para explorar a si própria e o ambiente ao seu redor.
Através de jogos e brincadeiras a criança desenvolve a capacidade de perceber suas atitudes de cooperação e adquire oportunidades de descobrir seus próprios recursos e testar suas próprias habilidades, além do que, também, aprende a conviver com os colegas numa interação.
A palavra jogo possui um campo muito amplo de interpretações, inclusive, limitando-se ao simples ato de brincadeira infantil, todavia, é notório que muitos pesquisadores professam a tese de que o jogo ganha espaço como ferramenta facilitadora da aprendizagem.
Para Santos (2000, p. 42), “Os jogos tornam a aula bem mais atraente, devolve ao professor seu papel como agente construtor do crescimento do aluno, elimina o desinteresse e, portanto, a indisciplina, devolvendo a escola a sua função de agência responsável por pessoas mais completas”.
Acredita-se, que para conhecer e entender os problemas que interferem na aprendizagem dos alunos, deve ser uma busca constante. Para isso, o professor deve refletir sobre sua prática pedagógica em sala de aula. Este aprender a refletir, está relacionado com sua formação, com sua preocupação em estar atualizado, em procurar novas metodologias em querer inovar, fazer diferente.
Na verdade, a concepção que ora se defende é uma proposta intencional à adoção de metodologias que valorizem de fato, o que a criança tem de mais comum a sua espontaneidade, a sua criatividade e a sua imaginação, pois só assim, ela estará aberta para desenvolver suas habilidades e assimilar os conteúdos curriculares.
No momento em que se ressalta a relevância de resgatar o prazer na educação, no trabalho e na vida, diante de tantas mudanças acirradas no campo do conhecimento, estamos a caminho de uma sociedade em que será imprescindível a busca por novas metodologias que valorizem a livre-expressão, o autoconhecimento, a afetividade, a cooperação, a autonomia, a criatividade, enfim a busca do equilíbrio entre razão e emoção.