Compreender
publicado em 21/04/2006
como www.partes.com.br/cronicas/compreender.asp
Por Arthur Virmond de Lacerda Neto
Conviver equivale a uma arte, a de as pessoas relacionarem-se, o que, vezes muitas, é-lhes problemático, dadas as diferenças de temperamento, de sensibilidade e de atuação próprias de cada qual. As pessoas sentem, entendem e atuam segundo a sua psicologia própria que, se apresenta coincidências com a de outrem, muitas vezes dela difere.
Das diferenças resultam, positivamente, a rica variedade do gênero humano e, negativamente, as dificuldades de convivência, que se agravam pela incompreensão: compreender significa substituir-se ao próximo, em pensamento, colocar-se na posição dele e tentar sentir o que ele sentiu, pensar como ele pensou e atuar como ele atuou.
Não se trata de adotar a sensibilidade do outro, nem os seus critérios de entendimento ou de ação: trata-se de entender por qual lógica ele se rege ou qual o moveu em uma dada circunstância.
Certa atitude aparentemente incompreensível ou dificilmente aceitável, poderá tornar-se compreensível ou mais facilmente aceitável se, por um momento, colocarmo-nos na mesma situação que viveu o seu autor, ao tomá-la, e se imaginarmo-nos movidos pelos sentimentos e pelas convicções que o animaram então. O observador perguntar-se-á: “O que eu faria se estivesse no lugar dele?”.
Esta operação subjetiva exige o conhecimento das circunstâncias da vida, das emoções, dos antecedentes e dos critérios próprios de cada pessoa; do seu conhecimento insuficiente e incorreto, as incompreensões, porventura as perplexidades, certamente os julgamentos injustos.
Certa sabedoria recomenda: “Não julgueis para não serdes julgados”; eu diria: “’Não julgueis se não conhecerdes as circunstâncias que levaram alguém a certa atitude”.
O oposto da compreensão corresponde a uma incapacidade de, subjetivamente, adotarmos a psicologia alheia, o que expõe-nos a erros de avaliação capazes de, por sua vez, conduzir-nos a tratamentos injustos e a reações imerecidas.
Compreender o próximo facilita a aceitação do comportamento alheio e favorece a harmonia entre as pessoas, o que apresenta redobrada importância nas amizades e nos matrimônios: quantos amigos não se afastam, quantos cônjuges não se divorciam, por falta de compreensão mútua!
A compreensão conduz à indulgência e ao perdão: entender que os outros não são perfeitos nos seus critérios, nos seus sentimentos, nas suas ações, e que cada um de nós também não o é, reconhecer-se a natureza falível do ser humano e que a perfeição corresponde a um ideal e não à realidade humana, correspondem a critérios que justificam uma certa indulgência diante dos erros alheios e o perdão dos que nos atingem, ao menos em certa medida e sobretudo se o seu autor, reconhecendo a sua falta, desculpa-se perante quem atingiu. Compreender e perdoar não equivalem a tudo aceitar-se, indiscriminadamente, porém a relevar-se o que, razoavelmente, resulta da falibilidade humana.
A compreensão provém da capacidade de reflexão do indivíduo que se acrescenta com o passar dos anos e com o acumular da experiência. Aos cerca de 20 anos, é-se inexperiente; aos cerca de 30, adentrou-se, já, na idade da razão; volvida mais uma década, pesa a obrigação de uma certa sabedoria: há de compreender mais o mais velho ao mais moço do que o inverso; daí, também, a obrigação moral de paciência dos pais em relação aos filhos, de querer ouvi-los, de saber fazê-lo, de dialogar e colaborar com eles no seu desenvolvimento: hão de encarnar os pais colaboradores compreensivos, assim como as pessoas compreensivas encarnam elementos de engrazamento humano.
Saiba compreender; seja paciente; não julgue com excesso; desculpe-se; aceite as desculpas alheias.