Por Rodrigo da Costa Araujo
publicado em 13/02/2006 www.partes.com.br/cultura/carnaval.asp
O carnaval é uma festa do disfarce, das muitas caras, do jogo e do avesso de nós mesmos. Tudo é simulação, engano, transformação.
Ninguém sabe sua origem ao certo porque muitos povos têm algo semelhante com os períodos em que os compromissos diários desaparecem e nos fantasiamos.
A palavra carnaval guarda na sua origem (carne + navalis), ou seja, festa da carne e barcas navais de onde se exibiam mulheres e homens nus cantando canções obscenas, convidando a todos para os prazeres da carne. Essa festa, registram as histórias gregas, consistiam em uma procissão com cantos e danças, procissão esta em que se escoltava um enorme falo, ao mesmo tempo que os participantes se apresentavam mascarados ou disfarçados de animais.
Tudo durava seis dias e além de levar a imagem de Dionísio, realizavam-se concursos de canções e representavam tragédias e dramas satíricos. Festas regadas ao vinho de Dionísio, orgias e invocações ao famoso deus com o auxílio de um daduco (condutor das tochas).
Esta confusão toda culminava em danças frenéticas ao som de flautas e instrumentos de corda, até que os participantes, em embriaguez e euforia, se deitassem por terra semidesfalecidos.
O fato é que, máscaras, carros e roupas extravagantes completam o sucesso da festa do deus fazendo escapar do dia-a-dia o peso dos compromissos, da mesmice, das regras que tomam conta de todos nós.
Diante dessas pistas, configuram-se ações e rituais de uma festa do deus da ruptura, chefe dos sátiros, das bacantes, protótipo do homem em seu entusiasmo revolucionário, símbolo da onipotência sexual (o falo como criador da natureza). Dionísio é, portanto, representação da libido, do élan vital, do impulso cego para a existência, da vontade de viver intensamente, de amar, de dançar, enfim, de celebrar doida e intensamente a vida e a natureza.
Essa seria uma festa poética, que guarda em si mistérios e transgressões, encantos e subtextos indecifrados da vida.
No Brasil, por conta de nossos colonizadores portugueses, herdamos o entrudo por volta do século XIX. Era uma batalha com armas e ovos de verdade, ou só a casca de verdade, ou só a casca contendo farinha ou gesso, luvas cheias de areia molhada, canecas de milho ou de feijão, vasilhas com grãos que se jogavam das janelas sobre quem passava na rua.
Um festa considerada porca e medonha pela igreja católica.
Durante o entrudo, os senhores deixavam seus escravos soltos, podiam se mascarar e batucar à vontade, formavam blocos e percorriam as ruas. Por volta de 1850, segundo Joel Rufino, os senhores e suas famílias reproduziam o hábito dos franceses do baile de máscaras, com orquestra e bebidas finas.
Assim, os escravos aprendiam novas formas de representar essa festa, de forma que também faziam desfiles de ruas, só que com carroças e cavalos enfeitados. Os senhores se organizavam em clubes para se diferenciarem dos blocos dos escravos.
Com o tempo, as confusões do entrudo foram perdendo sua força e saindo de moda. E o carnaval que temos hoje em dia, segundo Joel Rufino – pesquisador do folclore brasileiro – é filho, portanto, desses quatro folguedos: o entrudo, o bloco de negros, o baile de grã-finos e as sociedades.
FONTES DE CONSULTA:
PINHEIRO, Marlene Soares. Sob o signo do carnaval. São Paulo: ANNABLUME, 1995.
SANTOS, Joel Rufino dos. Histórias, Editora FTD.
Imagens