Política Política e Cidadania

A participação do Batalhão do Exército de Apucarana na repressão militar entre os anos de 1968 e 1979

Por Roberto Carlos Simões Galvão
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Entre os anos de 1964 e 1985 o Brasil esteve sob a intervenção militar instaurada com o Golpe de 31 de março de 1964. Nesse período a quebra do Estado de Direito, a perseguição e o extermínio dos opositores do regime, tornaram-se práticas frequentes no país. Inúmeros cidadãos foram presos, interrogados, torturados e mortos nos quartéis das forças armadas e órgãos de repressão (DOI-CODI, DOPS, entre outros). No Estado do Paraná, sobretudo na região norte, não foi diferente. Em maio de 1964 foi instalado no Quartel General da 5a. Região Militar, em Curitiba, um gigantesco inquérito policial militar intitulado “Zona Norte do Paraná”, que se desenvolveu nos meses seguintes por inúmeras cidades dessa região do Estado, tomando depoimentos de todos quanto tivessem revelado alguma participação política destacada, em alinhamento com o governo deposto de João Goulart. (BNM, 1992, p.157). Grande parte da repressão verificada no Paraná, em vinte anos de autoritarismo, partiu do 30o Batalhão de Infantaria Motorizada, sediado em Apucarana, no norte do Estado, sob o comando do capitão Ismar Moura Romariz. O 30o. Batalhão de Infantaria Motorizada foi fundado no dia 30 de setembro de 1968, inicialmente com a denominação de 4a.Companhia de Infantaria. Em 15 de dezembro de 1970 o quartel foi transferido para o prédio da atual sede, nas margens da Rodovia BR 376 (Rodovia do Café) a 7 quilômetros do centro de Apucarana. A 4a. Companhia de Infantaria tinha a missão de preparar as instalações da antiga estação de ferro Central do Paraná. Esta a versão oficial, pois acredita-se que o Batalhão enviado para Apucarana objetivava garantir as pretensões golpistas de 31 de março de 1964 no norte do Estado. Atualmente o 30o. Batalhão está subordinado a 15 ª Brigada de Infantaria Motorizada de Cascavel, no oeste do estado do Paraná. Em relação à população, Apucarana foi a cidade paranaense que teve maior número de presos políticos. (HELLER, 1988, p.549). Os sequestrados que passaram por Apucarana, como Osvaldo Alves, João Alberto Einecke, Narciso Pires, Genecy Guimarães, Ildeu Manso Vieira e outros sofreram horrores nas dependências do Exército, onde o Capitão Ismar Moura Romariz submeteu-os ao terror, usando métodos dos mais torpes, chegando a deter esposas de presos e familiares, provocando aborto na esposa de João Alberto Einecke, que sofreu traumas profundos em virtude desta ocorrência. Roberto Pompeu de Toledo em artigo publicado na Revista Veja (21/06/1995, p.126) advertia que “se não clarear sua relação com o passado, elas (as Forças Armadas) não clarearão sua própria relação com a sociedade. Restará uma sombra, sementeira de desconfianças, assim como há uma sombra no passado de cada torturador”.

Nesse sentido o que se propôs em projeto de pesquisa vinculado à Universidade Estadual de Maringá foi evidenciar a função estratégica do 30o. Batalhão de Infantaria Motorizada de Apucarana, desde a sua fundação em 30/09/1968, enquanto órgão de repressão política na região norte do Estado. Objetivou-se um estudo analítico das informações colhidas em bases de dados, publicações de acesso público, como livros, revistas, jornais e publicações eletrônicas, que possibilitassem traçar um histórico das relações do Batalhão de Apucarana com as táticas de repressão do regime militar. Os procedimentos de coleta de dados utilizados foram a entrevista individual com ex-militantes de esquerda e a análise documental. A metodologia de pesquisa para a execução do projeto fundamentou-se na revisão bibliográfica e na pesquisa documental referente ao tema do Golpe de 1964, salientando, porém, a realidade na região norte do Paraná e, sobretudo, a participação do 30o. Batalhão de Infantaria de Apucarana à época da ditadura. Os resultados obtidos demonstraram ter havido forte participação do Batalhão do Exército de Apucarana nas operações de perseguição àqueles que se opunham à ditadura. Fica evidenciado que o quartel do 30o. Batalhão de infantaria esteve atrelado às práticas de tortura e perseguição política, sendo um dos órgãos responsáveis pela preservação da doutrina de segurança nacional na região norte do Paraná, à época do regime militar. Diante do exposto vale ressaltar as palavras da professora Ângela Caniato (2002, p.147) ao dispor que “novamente pode-se entender porque o passado não passou, já que a manutenção do silêncio sobre o ocorrido nos bastidores da Ditadura Militar de 1964 e as manobras para o seu esquecimento que os governos vêm mantendo, ao evitar que qualquer episódio daquela época seja denunciado e exaustivamente examinado de forma pública, sustenta o princípio de realidade autoritário e alienante”.

A imprensa na região de Apucarana tem sido omissa no que tange à necessidade de se enfocar dados ou referências históricas à repressão militar oriunda do quartel do 30o. Batalhão de Infantaria Motorizada à época da ditadura. Mesmo quando da ocasião do aniversário do 30o. BIMtz o que se vê são matérias jornalísticas ingênuas e pouco informativas no tocante à realidade histórica do município. Recentemente o jornal “O Diário” (18/09/05, p.08) de Maringá trouxe interessante matéria referente aos 30 anos da Operação Marumby que visava embrutecer a repressão no Paraná, estado onde o General Samuel Corrêa prestou total cobertura ao Capitão Romariz, torturador do 30o. Batalhão de Infantaria e ao chefe do DOI-CODI, que comandava a referida Operação militar. Anos mais tarde, os paranaenses torturados acabaram sendo beneficiados pela Lei 11.255/95 (Lei Beto Richa) que garantiu uma indenização aos ex-presos políticos do Paraná, muitos deles moradores de Apucarana.

FONTES DE PESQUISA:

ARNS, Paulo Evaristo (prefaciador) Brasil: nunca mais, Petrópolis (RJ): Vozes, 1992.

CANIATO, Ângela. Das dificuldades psicossociais para uma educação política emancipatória. In: BRANDÃO, Elias et ali (org.) Direitos e integridade humana, Maringá: Massoni, 2002.

HELLER, Milton Ivan. Resistência Democrática: a repressão no Paraná, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

TOLEDO, Roberto Pompeu de. A longa sombra do passado, São Paulo: Revista Veja, pág.126, 21/06/1995

Roberto Carlos Simões Galvão, Bacharel em Direito. Especialista em Filosofia Moderna e Contemporânea pela UEL.
Universidade Estadual de Maringá

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