Colunistas Tom Coelho

Poeira no Vento

Tom Coelho

 

“Que o caminho seja brando a teus pés,

o vento sopre leve em teus ombros.

Que o sol brilhe cálido sobre tua face,

as chuvas caiam serenas em teus campos.

E até que eu de novo te veja,

Deus te guarde na palma de Sua mão.”

(antiga bênção irlandesa)

 

 

Tom Coelho, com formação em Economia pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP, é empresário, consultor, professor universitário, escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br.

Foram 2.819 mortos em Nova York, no fatídico 11 de setembro de 2001. Já Madri, em 11 de março de 2004, registrou 191 vítimas fatais. O dia 3 de setembro de 2004 viu 370 pessoas perderem a vida na Rússia, a maioria crianças.

Dentre tantos outros eventos similares, o mundo tem assistido a tragédias provocadas por homens contra homens, ou melhor, por homens contra homens, mulheres e crianças. Atentados que ceifam vidas, contadas uma a uma, contabilizadas. Vidas perdidas por obra do ocaso, por ação de pessoas que tinham outros propósitos que não vida: propósitos econômicos, políticos, religiosos.

Agora, a tragédia que nos afligiu recentemente na Ásia foi promovida pela natureza. Nela, as vidas perdidas não são contadas uma a uma, mas às centenas, aos milhares. Não se sabem quantas se foram, nem quantas irão. Não se pode mensurar a amplitude da dor, seu efeito multiplicador, geométrico. Faltam urnas, mas não faltam valas; faltam mantimentos e medicamentos, mas não faltam lágrimas; não falta sofrimento, mas também não falta solidariedade.

Pessoalmente, estou não apenas em luto, mas em luta. Luta pela vida, pela “vida em abundância, que se amplia além das fronteiras da morte”, como nos disse o Mestre.

Fardado, minhas armas são outras. Minhas armas são dentes para sorrir, mãos para afagar, braços para envolver, palavras para acalentar, ouvidos para ouvir, olhos para marejar. São armas para conforto, para compartilhar, para confraternizar – com os fraternos, ou seja, com os irmãos. Folhas de papel, folhas em branco esperando para serem escritas, folhas escritas esperando para serem lidas.

Somos seres muitos frágeis, feito poeira no vento. Como é fácil perdermos a vida: um acidente fortuito a bordo de um automóvel; uma emboscada, numa trincheira, uma arma de fogo que dispara; um exaltar de ânimos que opõe pessoas que tudo tinham para serem amigas.

Mas, como poeira no vento, pequenas partículas de vida, podemos de fato alterar o curso da história mediante pequenos ou grandes gestos, atos, ações, feitos. Como poeira no vento, podemos viajar soltos, leves, polinizando os caminhos com sementes de amor.

Este é apenas mais um texto dentre tantos e tantos que certamente grassarão pela rede, jornais, revistas, rádios, televisões, mesas de bar e bancos escolares, de todo o mundo, em todo o mundo. Afinal, há muito por se comentar, muito a se debater e uma necessidade inequívoca de se manifestar. Talvez para nos conscientizarmos, ainda que brevemente, de como somos apenas poeira no vento.

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