Por Ricardo de Almeida Prado Xavier
Ética, respeito ambiental, solidariedade e competência são quatro conceitos que necessariamente estão e estarão a pautar a vida profissional dos executivos no futuro próximo. Especialistas no setor mostram que, muito breve, só haverá lugar no mercado para as corporações que vençam pela competência, pela qualidade, e não mais pela simples esperteza e oportunismo. Serão também mais bem aceitas pelos consumidores as empresas que oferecerem ao público mercadorias e serviços produzidos a partir de ações de respeito ao meio ambiente e à própria saúde das pessoas. Por fim, cada vez mais, será exigida das empresas a participação em programas de solidariedade, de busca efetiva ao bem-estar da comunidade.
Assim, as carreiras profissionais, nas mais diversas áreas, têm de estar atreladas a esse novo perfil de empresa. Segundo o estudo A Vision of Tomorrow’s Corporate World, baseado no 2.º Fórum de Futuros Líderes, realizado no início deste ano em Davos, na Suiça, os jovens executivos de grandes corporações mundiais não pensam mais em se realizar com o desfrute de uma aposentadoria precoce no Caribe. Ao serem ouvidos, demonstraram interesse em gerenciar organizações e deixá-las aptas a enfrentar as incertezas do mundo político e econômico, tendo como diferenciais o estrito cumprimento de preceitos éticos. Na primeira edição do evento, em novembro de 2000, a ambição do jovem executivo era a de tornar-se hábil expert em business, ganhar muito dinheiro, se aposentar um pouco antes dos 40 anos e viver num lugar paradisíaco. No segundo encontro, aproximadamente 100 jovens executivos de 24 países indicaram as organizações não governamentais, os grupos ambientais e de consumidores como os mais influentes, capazes de mudar o rumo das corporações. Além disso, manifestaram o desejo de estar em constante aprendizado para fazer frente ao mundo de negócios em constante evolução.
No Brasil, nota-se que a formação acadêmica clássica, composta por diploma de terceiro grau, curso de extensão universitária e MBA, além de domínio do inglês e outra língua auxiliar será sempre um requisito básico a quem queira trabalhar no comando de equipes. Verifica-se, porém, que só a formação acadêmica já não é, nem será, o bastante para quem quiser competir no mundo globalizado.
O currículo do executivo tem de ser recheado com ações comportamentais, éticas, tanto na gestão das pessoas que com ele trabalham diretamente quanto com o chamado público geral, dado a estes o conceito de clientes. Terá de mostrar-se parceiro de seus clientes-fornecedores, clientes-consumidores, clientes-internos, clientes-acionistas, etc. Além disso, terá de constituir para si e para suas equipes programas de reciclagem e aperfeiçoamento profissionais de modo a não ser atropelado pela constante mutação dos meios de produção e das formas de gerenciamento. Mais que isso, terá de ser inovador, antecipando-se às tendências.
Isso é ainda mais verdadeiro em áreas de conhecimento avançado como a da tecnologia da informação, por exemplo. Não há uma explicação clara para o fato, mas criou-se no mercado a expectativa de que cabe aos profissionais de alta performance na área de informática abrir e sedimentar caminhos também na floresta de relações humanas. Nota-se, por exemplo, que as empresas têm procurado escolher gente de boa formação técnica e também humanista para as áreas de áridos bites. Isso porque as decisões tomadas nesse campo, detentor de orçamentos generosos, comparativamente a outros, geralmente têm grande repercussão em toda a corporação. E existe a idéia primária, mas sempre latente, de que a máquina pode substituir o homem a qualquer momento.
Vale lembrar que um grande banco brasileiro costuma reunir seus profissionais de informática, principalmente aqueles que trabalham com segurança eletrônica, e dar a eles aulas de história da arte e filosofia. Mal comparando, é o mesmo que a rigorosa polícia de Tóquio faz com seus agentes: eles têm aulas de arranjos florais para ressaltar o humanismo em suas personalidades. Técnica e humanismo têm de caminhar próximos, muito próximos.
Ressalte-se, ainda, que os executivos de sucesso têm carreira voltada para as competências. E as empresas também. Assim, se antes as assessorias de relações humanas eram bastante requisitadas para escrever currículos, hoje o papel é bem mais consistente, pois essas empresas voltam-se mais a orientar profissionais a constituir o currículo e, portanto, a carreira. Também já não são tão raros os casos em que o executivo faz o planejamento de sua vida profissional, adquirindo competências, de modo que possa escolher determinado cargo em determinada corporação. Também aqui o papel se inverte, pois é o executivo quem escolhe onde e com quem quer trabalhar. E essas oportunidades têm sido mais freqüentes na área de informática.
Outro dado importante é que as relações entre profissional e empresa tenderão a ser mais transparentes e duradouras. Isso já ocorre em algumas corporações que, para manter o profissional, oferecem salários e benefícios clássicos como seguro-saúde, automóvel, celular, passagens aéreas etc. Mas também a participação em resultados e até mesmo um período sabático no qual o executivo pode realizar um objetivo de vida como escrever um livro, fazer um jardim ou estudar com o filho que quer entrar na faculdade, são alguns exemplos.
Mas, independentemente de qual seja a empresa em que se trabalha, ou mesmo a forma de remuneração, as estatísticas demonstram que o sucesso profissional acompanha quem também tem um projeto de vida claro, seguro e coerente, no qual o trabalho, mesmo árduo, não tem peso, não é um estorvo. É sempre um prazer porque se faz aquilo que se gosta.
Fonte: ITWeb