MARKETING TURÍSTICO: seduzir ao consumo de sonhos cinestésicos e à manutenção da saúde.
Por Ana Marina Godoy
Fotos: Vanessa Girardi
Revista Partes – Ano IV – setembro de 2004 – nº49
Muito se tem discutido, pesquisado, analisado, debatido e tudo o mais que a Academia tem direito a respeito de Marketing Turístico, tanto em sala de aula como de negócios. E, de tanto se falar, da Boca Maldita* vêm as interferências. Os conceitos e definições originais perdem lugar para diversas e confusas nuances. O Turismo é muito mais que viajar e pede passagem.
O Marketing trabalha diretamente com a idéia de persuasão – o que não significa enganação, mas sedução e convencimento. Um item fundamental é a construção do carisma como ferramenta de conquista, seja por parte de um executivo da área ou de um empreendimento turístico. Mostrar com beleza o que é a realidade; interpretar com poesia (objetiva e com termos técnicos, por vezes) o que se saboreará como principal mais tarde. Inventar expectativas não condizentes com o que se oferecerá só resultará em frustração e abandono. Fim de namoro e casamento nem pensar! Para as amigas e amigos não se recomendará e, entre piadas ou histórias de horror, será lembrado como um case. Com nome e sobrenome: em detalhes.
Não basta comunicar e passar informações, deve-se provocar paixão.
Como num namoro, não basta atrair, deve-se conquistar, manter a atenção e o encanto, mesmo com os imprevistos e dissabores– variáveis incontroláveis – do dia-a-dia. O turismo, por definição, é evasão, sonho, saída do cotidiano e da mesmice. O Marketing Turístico vem para impulsionar o consumo desta necessidade pós-moderna: sair da rotina e, com isso, catalisar equilíbrio psicossomático.
Administrar (criá-la, inclusive) a ponte entre pedido e produto, formas de consumo expostas pelo mercado, os fornecedores, a divulgação e a qualidade durante todo o processo é tarefa do Marketing. Sem falar na logística que, em relação a atividade turística, é muito mais complexa por ser, a princípio, abstrata: não se estoca turismo. Ele é momento singular. Não existe segunda chance ou troca por um outro exemplar antes de seu consumo, como com latas de molho de tomate amassadas, por exemplo.
Incentivar o consumo do Turismo é mais do que recomendar serviços: é sugerir terapia e/ou saúde. A atividade turística deixou de ser vista como um capricho para ser percebida como necessidade. Não de um mesmo grau como as necessidades fisiológicas, mas nem por isso menos importante. Alguém saudável precisa consumir Turismo (e Lazer) para manter essa condição. O Marketing turístico começa a constatar essa nova concepção e a explorar seu objeto como um produto – ou meio – de/para saúde.
Se o mundo sugere perfis de consumidores sedentos por emoções fortes, adrenalina e momentos de paixão o Turismo pode ser a forma de trazê-los à realidade. Este não é alienação. Servir o pedido de forma equilibrada, planejada (a favor da saúde) e satisfazendo o cliente e/ou o consumidor é a grande arte do momento. O Turismo não pode ser uma (nova) droga e sim um condutor à plenitude. E mais que uma válvula de escape deve ser cultivado como um hábito, com o impulsionar do Marketing turístico, desativando o estresse e posturas nocivas à saúde. Assim se promoverá, de fato e estavelmente, com competência, uma atividade – a princípio – sazonal.
Algumas pessoas conseguem os salutares benefícios através do turismo cultural: ao verem obras de arte, conhecerem pessoas, aprenderem outras línguas satisfazem o equilíbrio pessoal. Outras, gostando ou nem tanto, precisam consumir atividades físicas dentro de uma viagem para que seu organismo esteja em equilíbrio, acompanhando a mente. Segmentos de mercado por motivação (como ecoturismo, enoturismo, turismo religioso, entre outros) não faltam. O essencial é tanto o (potencial) turista como o profissional de Marketing saberem qual o perfil daquela pessoa; descobrirem através de um diagnóstico quase clínico a vocação turística a ser praticada e que poderá trazer os resultados esperados. Tanto para o destino como para o destinante; calculando, escolhendo e induzindo fluxos a favor da atividade turística sustentável.
Além disso, saber qual a demanda que se quer para aquele produto turístico e o porquê de seu querer são fundamentais para que exista um foco para onde convergirão os esforços de Marketing. Muito mais do que inspiração este é planejamento, cálculo, reflexão e experimento. Vale lembrar!
Escolher o profissional que será o responsável pelo marketing turístico – seja de um hotel, de um evento, de um município, de um restaurante ou outro empreendimento – é tarefa exigente e necessária. Ele deve ser, acima de tudo, capaz de cumprir com o que se contrata ou propõe, o que inclui estar atualizado sobre tendências e ter formação condizente (aliando teoria e prática), além de respeitável portfólio.
Consultores de viagens estão dividindo o mercado com agências por se especializarem nas minúcias de seus clientes – com condições financeiras para contratar serviço nada popular. Com as ferramentas (de pesquisa) do Marketing turístico podem perceber qual o melhor modo de transformar uma vontade ou um sonho em realidade sinestésica, objetivando ou tendo como contribuir para a auto-estima daquele que contrata, desde que planejando de forma ética. Valor este muito saudável e que, de brinde, traz o lucro.
*Boca Maldita: ponto de encontro (central e turístico) popular e tradicional de curitibanos para conversar sobre política, futebol e assuntos do momento. – Professora Ana Marina Godoy curso de TURISMO E LAZER