Por Vanessa de Sene
Localizado na Província de Guangdong, ao sul da China e próximo de Hong Kong, a Região Administrativa Especial de Macau tem uma área de 27,3 km², englobando a Península de Macau e as ilhas da Taipa e Coloane. Com uma população de cerca de 440 mil habitantes e de clima quente e úmido, Macau traz em sua cultura influências não só europeias como asiáticas.
Conta-se que o nome “Macau” deriva da lenda da deusa A-Ma. Diz a lenda que a deusa do mar acalmou e protegeu os pescadores num barco em uma grande tempestade. Com a chegada dos portugueses a baía, ao responderem qual o nome da região, os pescadores disseram A-Ma Gau (Porto de A-Ma).
Hoje é um território chinês, mas Macau já pertenceu à Portugal. Em 20 de dezembro de 1999, os portugueses transferiram o arquipélago aos chineses com a condição de que as leis oficiais portuguesas continuassem vigentes até o ano de 2050. Portanto, a China mantém dois sistemas, já que a RAEM ou Região Administrativa Especial de Macau é uma região autônoma do governo chinês comunista. Assim como Hong Kong, mantém uma política e economia diferenciada, e até mesmo uma moeda própria. A moeda da China (Iuan Renmimbi), de Hong Kong (HK Dólar) e de Macau (Patacas) tem uma variação mínima, com diferenciações em média de 3%. Em média, um real é equivalente à 2,60 renmimbi ou 2,50 patacas.
A influência portuguesa é muito presente na arquitetura, na culinária, na religião. Mas não é a única. Andando pelas ruas de Macau pode-se observar, além de chineses e portugueses, indianos, tailandeses, filipinos. As culturas se mesclam, a culinária absorve ingredientes de várias nacionalidades e assim é formada a cultura macaense.
Para quem vive em Macau o aprendizado em relação à outros povos é tão rica e ao mesmo tempo tão comum que, os jovens estudantes não percebem a lição e o respeito que se adquire na convivência com pessoas de diferentes costumes. Conversando com uma turma de adolescentes, alunos da Escola Portuguesa de Macau, a desatenção foi geral. A questão referente à convivência com diferentes culturas e nacionalidades no dia-a-dia é pouco observada pelos estudantes. Entre portugueses, macaenses, chineses e até um brasileiro na mesma turma, a opinião foi a mesma: “legal”. Espantoso para eles foi ouvir que Macau é riquíssimo culturalmente.
As línguas oficiais da região são chinês e português. O que prevalece em Macau é o cantonense, como o dialeto chinês mais falado, na seqüência o mandarim, e cerca de 4% da população fala o português. Existem cursos de chinês e português para aperfeiçoamento, e dependendo da cultura da família e convivência social, as pessoas procuram escolas especializadas. “Depende de onde você veio, do ciclo de amigos que você vive. Quem é descendente de português procura um curso de português, quem convive só com chinês sabe muito pouco de português. Acho que, ultimamente, são mais os portugueses que estão a aprender o chinês, porque é o idioma da maioria”, afirmou Arnaldo Jorge da Silva, 26 anos, macaense e descendente de portugueses, jogador de hockey da equipe Lusitânia de Macau.
O esporte é a forma mais trabalhada em prol dos jovens macaenses, o futuro da região. O hockey, tanto de patins como de campo, é bastante conhecido nas ilhas. Equipes existentes há mais de 10 anos fazem a diversão e saudável competição entre os jovens. Outra modalidade de esporte muito desenvolvida em Macau é o “Barco do Dragão”. Um esporte que envolve uma equipe de 22 pessoas, enquanto 20 delas se esforçam para remar o mais rápido possível, uma em pé direciona o barco, e uma outra se mantém na ponta do barco, tocando um tambor e estimulando os amigos a continuarem. O nome, Barco do Dragão, é uma homenagem à figura cultural/folclórica chinesa, o dragão, reverenciado pelo povo por ser um símbolo de nobreza, de imperador, o povo chinês acredita ser descendente do dragão.
Até hoje, dias festivos e grandes inaugurações promovem a famosa Dança do Dragão, realizada para afastar os maus espíritos e também para prosperar. Um grande grupo de pessoas participa dela, e perfeitamente sincronizados, fazem curvas e voltas ao som do tambor, e todo o espetáculo acontece de forma muito significativa. No último dia 18 de maio, jornalistas de vários países puderam assistir a magnífica apresentação da Dança do Dragão na inauguração do cassino Sands Macao, de uma das maiores empresas de jogos de Las Vegas.
Um exemplo da diversidade da cultura macaense foi a construção deste cassino de 240 milhões de dólares. A sua estrutura comporta serviços de buffet tailandês, indiano, japonês, e mais seis diferentes cozinhas regionais chinesas. Em julho estará em funcionamento o “Tea Terrace”, que oferecerá mais de 200 tipos de chá.
Esta é uma forte característica do chinês, o chá. Na culinária macaense, quando não tomado puro, o chá é misturado em outras bebidas como o suco, o refrigerante e até o leite. A diferença na alimentação brasileira e chinesa é grande pela qualidade de alimentação. Uma refeição comum macaense, no geral, engloba arroz, legumes e frituras só de carne branca. Lula, marisco, tubarão, e até caranguejo no espeto são típicos, entre muitos outros pratos que utilizam pimentas indianas, ingredientes tailandeses e receitas portuguesas e chinesas.
Em Macau, os deuses chineses são muitos. A arquitetura clássica dos templos tradicionais pode ser vista em todo o arquipélago. Duas das religiões que surgiram um século antes da era cristã veio da Índia, o budismo. Com o lendário professor chinês Lao Tse, ao mesmo tempo, apareceu o taoísmo. As duas religiões pregam santidade da vida, muitos seguidores são vegetarianos, reverenciam aos vários deuses e mantém harmonia com a natureza. Os chineses acreditam que devem aproveitar todo o poder divino possível, por isso eles adoram uma série de deuses budistas, taoístas e animistas. Além da religião chinesa, Macau também mantém em funcionamento muitas igrejas católicas. Foi em 1565 quando os jesuítas começaram a difusão do cristianismo naquelas terras. Mesmo com incidentes de tempestades e incêndios, quase a totalidade das igrejas foram restauradas ou reconstruídas. Há aproximadamente 20 mil católicos em Macau. Igrejas que celebram missas em português e em chinês, cada uma em seu horário são encontradas facilmente. Anualmente é celebrada uma missa em inglês e português voltada aos filipinos católicos de Macau.
As diferenças das culturas ao longo dos continentes são imensas. O sistema de transporte público macaense, por exemplo, é tão inviável para o Brasil que parece irreal. Por lá, ao entrar em um transporte público, os passageiros devem entrar com o dinheiro certo para depositar a tarifa exata sem ninguém conferir a quantidade certa, a não ser os olhos do motorista.
Por falar em transporte, diferentemente da China, a população de Macau evoluiu muito, da bicicleta à motocicleta. É impressionante a quantidade de motos que ficam ao longo do dia estacionadas nas pequenas ruas e estacionamentos de Macau. Com os carros acontece o mesmo. Muitos são os importados e BMWs nas principais avenidas do arquipélago.
Apesar de ser um território pequeno, Macau é encantador até para quem mora: “Aqui é pequeno, tudo é perto e as pessoas se conhecem. Aqui é um ótimo lugar para se morar”, disse Arnaldo Jorge da Silva.
“Aqui, os estudantes têm a possibilidade de conhecer tantas culturas sem sair de casa, e respeitar as pessoas cada uma com a sua. Estas crianças podem ir para qualquer outro lugar do mundo que não se abalam com nada”, a é opinião da vice-presidente da direção da Escola Portuguesa de Macau.
História, culturas, culinária, arquitetura, eventos, religiões. Uma região muito bem estruturada, com potencial para o turismo de lazer e turismo de negócios, Macau surpreende a qualquer um e encanta, pois é um local que vale a pena conhecer.
Vanessa de Sene é estudante de jornalismo.