Ano III n.42 fevereiro de 2004 como www.partes.com.br/ed42/contos.asp
Era grande o movimento, de gente, que chegava para a festa da padroeira . A cidade já estava muito alegre e até o do sino da igreja parecia musicado e mais festivo. As crianças corriam pra cima e pra baixo; pra lá e pra cá, alegrando a todos.
Um velho caminhão para no centro da praça e dele desce um homem gorducho, carregando algumas ferramentas. A criançada, cheia de curiosidades, cerca o caminhão e tão logo se vai embora. Apenas uma ficou de plantão: o Chiquinho.
– Moço! O que está fazendo?
O homem de joelhos no chão, parou de cavar. Enxugou o suor da testa com a costa da mão, encostou a cabeça no cabo da cavadeira e olhando para o menino calmamente lhe respondeu:
– Estou cavando um buraco.
– Pra que? Pra que você quer esse buraco? – Insistiu o garoto.
– Para plantar um brinquedo. – Respondeu-lhe com um largo sorriso e voltou a cavar.
– O que é que tem em cima desse caminhão, moço?
– Um brinquedo! Um lindo carrossel!
O menino ficou a se perguntar: – como será um carrossel? – E com um olhar inquieto começou a vistoriar aquele caminhão, enorme, coberto com uma lona amarela; parado na praça; bem na frente de sua casa. Ele via aquele caminhão como se fosse um brinquedo gigante e não parava de alisá-lo e de se olhar refletido na pintura da boleia. Tudo lhe era novidade. E enquanto o homem cavava buracos na praça para erguer o carrossel, o menino fazia-lhe companhia e embaraçosas perguntas.
Suas curiosidades e a vontade de brincar no carrossel, eram tantas, que Chiquinho passou a desobedecer a sua própria mãe.
– Chiquinho! Oou Chiquinho. Eu vou te bater, entra! – Ela gritava a todo instante, para que o menino parasse de amolar ao homem e voltasse para casa. Mas ele dava pouca importância as ameaças de uma surra, pois o que mais lhe preocupava era ver o carrossel e nele poder brincar.
– Moço! Como é o carrossel?
– É grande! Tem luzes, cavalos, leões e elefantes. Você vai brincar nele? – Questionou-lhe o gorducho, enquanto furiosamente arremessava a cavadeira no buraco.
O menino fez cara de tristeza e aquietou-se. Ficou olhando para os cabelos esbranquiçados da barba do gorducho. Por pouco não lhe veio uma lágrima.
– Não! Não tenho dinheiro. Mamãe não tem dinheiro. Lá em casa, ninguém tem dinheiro. – Disse e depois calou-se. Após um curto silencio o gorducho lhe consolou: – dinheiro você arranja. É fácil! Muito fácil. É só pedir.
A noite não demorou e as luzes do carrossel piscavam dentro de seus olhos como se fossem estrelas. Muitas fantasias corriam em sua mente, mas sua felicidade era nula: todas as crianças do lugar brincavam nos cavalos, leões e elefantes, menos ele, que apenas a tudo assistia correndo em volta do carrossel.
– Moço me dê uma moeda! Por favor, moço, me dê um dinheiro!
A resposta era-lhe sempre a mesma: – não.
– Moço deixa-me entrar! – E o bilheteiro dizia-lhe categórico: – não.
Aquele “não”, o deixava triste e magoado. Chiquinho percebia claramente que o caminhão iria embora e nunca brincaria num carrossel.
A festa acabou e todos se foram.
O homem desmontou o brinquedo e o cobriu com a mesma lona sobre o velho caminhão. Depois sumiu na curva da estrada, deixando para Chiquinho apenas o som de sua buzina como única recordação.
O menino voltou para casa e chorou.
Eu sou José Pedreira da Cruz, e para os parentes e amigos, Tico.
Nasci de um casal de lavradores no dia 5 de janeiro de 1948 num lugarejo chamado Junco – hoje, uma cidade internetada, batizada com o nome de Sátiro Dias, no Estado da Bahia.
Ao acabar de nascer foi logo apelidado de Tico, isso, em razão da minha pequena estatura
Estudei o curso primário no Junco e logo tive que deixar pai e mãe e me deslocar para uma cidade mais próspera chamada Alagoinhas, onde trabalhei numa funerária para poder custear o estudo ginasial. Em seguida dei início ao aprendizado de contabilidade, vindo a concluir esse curso no ano de 1970 em Duque de Caxias no Rio de Janeiro.
Em 1975, já com mulher e filho, mudei-me para São Paulo e tão logo ingressei na indústria metalúrgica, onde adquiri razoável conhecimento administrativo, tendo permanecido nesse ramo até 1987. Depois, empossei-me na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, onde exerço o humilde cargo de Secretário de Escolar e muito me jubilo em poder, de alguma forma, contribuir na educação da juventude.
Em minhas horas vagas, dedico-me a leitura e a escrita. Gosto de ler um pouco de tudo: da Bíblia, ao invólucro do papel higiênico. Tenho o hábito de escrever tudo que me vem à mente, principalmente Literatura de Cordel, Contos e Crônicas. Possuo vários textos publicados em revistas eletrônicas (Internet), especializadas em literatura e também no Jornal Gazeta Voz Ativa de Sátiro Dias-BA.
Sou casado com Marly há 33 anos. Tenho quatro filhos: Cláudio, Vânia, Suzana e Leandro e me acho um abobalhado nas mãos de minhas netas Nayara, Letícia e Michelly.
À todos que tiverem a paciência de Jó, para ler meus escritos, segue o meu MUITO OBRIGADO.
José Pedreira da Cruz
ticocruz@bol.com.br