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Igreja e Convento da Luz

Lincoln Secco, membro do grupo de estudos D’O Capital, é autor desta série sobre as mais antigas igrejas da cidade de São Paulo, segundo Lincoln, os santos são muitos e há para todos os dias e os estudos da variação regional e histórica de suas devoções contribuiriam muito para se conhecer a história popular do Brasil.

Fundador dessa Igreja foi Domingos Luiz, o carvoeiro do século XVI. E ainda que sua tradição tenha sido ofuscada pela grandiosidade do Beato Frei Galvão, ainda resta, naquele convento, a imagem da Nossa Senhora da Luz, que assistiu à história daquela igreja desde o quinhentismo. A primitiva e extinta capela que houve nas bandas do atual bairro da Luz nasceu primeiramente no Ipiranga. Não se sabe quando. Meados do XVI.
O certo é que foi logo em seguida trasladada ao Guarepe (ou Guaré) antigo nome indígena que seria substituído pelo de Nossa Senhora da Luz, para quem Domingos Luiz e sua mulher Ana Camacho construíram uma Igreja. Domingos Luiz aparece já nas atas quinhentistas. Capitão dos índios no ano de 1563 e almotacel em 1576 (Atas da Câmara da cidade de São Paulo, vol. I., pp. 19 e 89). Nasceu na Freguezia de Santa Maria da Carvoeira, em Portugal, como informa o autor de “Os paulistas e a Igreja” (Vol. 1, p.37). Quer o Monsenhor Paulo Florêncio Camargo (A igreja na história de São Paulo, Vol. I, p.163) que a Igreja da Luz no Ipiranga inaugurou-se em 1579, com escritura de 1580, transferindo-se em 1603 para o Guaré.
Acontece que a escritura ou “carta de data de terra” pode ter sido posterior à existência da Igreja. De fato, Leonardo Arroyo (Igrejas de São Paulo, p.26) citou documentos que comprovam a existência da Igreja da Luz em Guaré já em fins dos quinhentos. Quanto ao termo Guaré (ou Guarepe), Monsenhor Camargo (op.cit., p.192) afirma que era sinônimo de Piratininga. Este topônimo só seria nome genérico de São Paulo a partir de 1600, salvo em alguns documentos. De fato, Pero Magalhães Gandavo, em texto anterior a 1573 (Tratado da Terra do Brasil, p.40) diz: “Pela terra dentro dez legoas edificarão os mesmos padres huma povoação entre os índios que se chama – o campo, na qual vivem muitos moradores, a maior parte deles são mamalucos filhos de portugueses e de indias da terra”. Este “campo” é São Paulo do Campo, como aparece nas atas quinhentistas. Mas é preciso reconhecer que, embora este seja o termo mais usado, “São Paulo de Piratininga” aparece nas cartas dos jesuítas e até nas Atas (vol. I., p.57): “vylla de são paullo de piratininga”.
Mas a história da Igreja da Luz tem seu mais belo capítulo na época do Frei Antônio de Sant’ana Galvão, um paulista destinado à santidade, e da elevação do Convento da Luz. História que se inicia no século XVIII. Sabe-se que o Santo quis ser jesuíta. Estudou no seu colégio em Salvador. Mas em 1759 o Marquês de Pombal expulsou os seguidores de Santo Inácio. Fez ainda mais. Proibiu, em 1764, que as demais ordens religiosas recebessem noviços. Foi quase um decreto de morte para os franciscanos e os beneditinos paulistas, cuja restauração só se conheceu no início do século XX. Frei Galvão tornou-se, assim, um frade menor: um franciscano. Foi porteiro do Convento do Largo de São Francisco, em São Paulo. Sua bondade, seu caráter e a fama de sua santidade começaram a se alastrar. Mas foi do relacionamento espiritual com Helena Maria do Sacramento que surgiu a grande tarefa da vida de Frei Galvão. Esta irmã, residente no antigo Recolhimento de Santa Tereza, teve visões que a levaram a pedir ao Frei Galvão a construção do atual Convento da Luz. Apesar das dificuldades interpostas, devido à política pombalina, o Frei Galvão conseguiu autorização para construir o convento. Era então governador de São Paulo, o Morgado de Mateus, por acaso um irmão terceiro de São Francisco. Apesar da tentativa de fechamento do convento pelo seu sucessor, a obra do Frei Galvão foi reconhecida pelo Marquês de Lavradio, Vice-Rei no Brasil. O convento foi dedicado à Ordem da Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria (Concepcionistas). Esta ordem foi criada pela portuguesa Santa Beatriz da Silva, em Toledo (Espanha) em 1484. Visava honrar a conceição imaculada de Maria, cuja veracidade dogmática não era reconhecida por Roma. Somente o Papa Pio IX o fez em 1854 (Cf. Maristela, Vida do beato Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, p.68). O Convento da Luz foi fundado em 1784. Foi sendo ampliado e reformado no decorrer de sua história. A mais importante ampliação deu-se sob os auspícios do Conde Prates, síndico do convento entre 1905 e 1923. Foi tombado em 1943. No ano de 1970, depois de nova reforma, reparos e adaptações, a maior parte do convento foi transformada no Museu de Arte Sacra. As irmãs concepcionistas dedicam-se com amor à causa da canonização de Frei Galvão. E também às suas famosas pílulas que ajudam aos doentes de corpo e alma. Tanta é a devoção, tanta é a esperança dos que caem, genuflexos, diante do túmulo do nosso beato Frei Galvão, que não será possível recusar-lhe a santidade.

 

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