Nossa Senhora dos Aflitos é a única capaz de consolar os que nada mais esperam. Os que nem mais imaginam superar a dor e o sofrimento. Diz a novena, em seu primeiro dia: “Senhora dos Aflitos, encheu-se vosso coração de amargura ao vos ser negada hospedagem em Belém. Acolhei em vosso cálido coração, os aflitos que padecem desamparados! Ave Maria…Glória do Pai…Consolo dos Aflitos, rogai por eles!”. É novena desesperada. Para os deserdados desta vida. É para estes que se erigiu a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos.
Sua construção, segundo Paulo Cursino de Moura (São Paulo de outrora, p.124) data de 1774. Parece ter se equivocado por muito pouco o nosso melhor memorialista das ruas paulistanas. O antigo Cemitério dos Aflitos, e não a Capela, foi construído em 1775, por ordem governamental, posto que já se devia sentir os problemas dos sepultamentos nas igrejas ou em qualquer lugar. E este cemitério nasceu estreitamente vinculado às necessidades dos negros. Que não tinham acesso às melhores moradas para descansar por toda a eternidade. Entretanto, a Igreja, ou antes humilde capelinha, surgiu só em 27 de junho de 1779, como atestam documentos existentes no Arquivo da Cúria Metropolitana.
É possível que no ano de Nosso Senhor de 1869 tenha havido alguma reforma de monta. Se é que se podia fazer algo de tanto fausto na capelinha mais escondida do centro de São Paulo. Ela situa-se num beco sem saída. Beco dos Aflitos. Ou antes a saída, a verdadeira, é a Igreja. Travessa da Rua dos Estudantes. No meio da Liberdade. Presa entre prédios que nela se colam e, grudados, têm até uma janela com a face no sino.
É tão pequena a capela que os fiéis sentam-se nas poucas cadeiras ao lado do altar. Porque a frente já está quase na própria rua. O padre que lá reza missa é o mesmo da Capela das Almas dos Enforcados. Aflitos e Enforcados são duas capelas que estão ligadas por sua história. Reza a tradição que os escravos, vindos dos baixos do Carmo, da várzea do Tamanduateí, subiam a Tabatinguera. Paravam estatelados na Igrejinha da Boa Morte. Seguiam ao pelourinho, ali no atual Largo sete de setembro. Viam o suplício dos seus irmãos de cor e destino. Seguiam, não raras vezes, até o Largo da Forca (atual Liberdade), mais ou menos onde hoje situa-se a Capela dos Enforcados. Nesta paragem baloiçavam os corpos inanimados dos escravos condenados à morte certa.
Seus irmãos de cor e sorte, desciam aos Aflitos. E ali compartilhavam a dor de uma vida sem esperanças. Eis a origem humilde e plangente da Capelinha de Nossa Senhora dos Aflitos.
Endereço: Rua: Beco dos Aflitos, 70 – Travessa da Rua dos Estudantes, altura do nº 52
– 01503-010 – Centro – SP
Tel.: 3208-2336
Horários de Missas:
2a feira: às 17:00