Contos Cultura

A Mascarada

por Renato Mafra

o já estava começando a se sentir mal com aquela dúvida calcitrante na sua mente. Já não aguentava mais ficar imaginando o que haveria por detrás daquela máscara. Será que era algum tipo de deficiência física?, talvez um acidente que tivesse mutilado parcialmente o seu rosto, ou seria apenas uma fantasia daquela mulher?, quem sabe?, ela seria casada e não queria ter sua identidade revelada?, naturalmente com medo de que ele a encontrasse na rua com o seu marido? Toda estas dívidas martelavam a cabeça dele.

– Alô, deseja falar com quem? Disse Otavio ao atender o telefone.

– Sou eu meu querido, não reconhece mais a minha voz? A ligação era de Sofia, a mulher mascarada que todo mês contratava os serviços sexuais do michê Otavio.

– Reconheço sim, é que estava distraído pensando em algumas coisas quando tocou o telefone. Disse ele tentando disfarçar a inquietação.

– Tudo bem, falou Sofia, nos encontramos hoje no mesmo local e hora de sempre?

– Com certeza, está confirmado.

– Então tá bom, um beijo e até mais tarde. Disse Sofia encerrando em seguida a ligação.

Otavio estava determinado a descobrir o mistério que se escondia por trás da máscara daquela mulher que contratava seus serviços todo mês. Mulher de uma sensualidade que fazia com que Otavio realizasse seu ofício com muito prazer, algo aliás, pouco frequente na vida de um profissional do sexo, ou seria o próprio segredo de Sofia que excitava tanto Otavio?

No caminho entre o seu flat e o luxuoso apartamento de Sofia, Otavio foi imaginando uma estratégia para tentar revelar o tal segredo. Pensou em conversar com Sofia e pedir-lhe que mostrasse sua verdadeira face, em uma conversa franca e aberta. Porém ele decidiu que certamente ela se recusaria, pois deveria ter bons motivos para só encontrá-lo sempre usando aquela máscara. Pensou então em adotar outra estratégia: iria arrancar-lhe abruptamente a máscara, para tentar surpreendê-la. Mas ficou preocupado com a possibilidade, quase certa, de poder perder uma cliente tão importante para ele. Quando chegou em frente ao apartamento de Sofia não sabia exatamente como iria agir.

A porta do apartamento, como de costume, já estava aberta, e Sofia estava esperando-o com seu babydol de seda vermelha, sapatos de salto alto, sentada no sofá da sala, bebendo sua taça de champagne e com aquela terrível máscara cobrindo-lhe o rosto.

Otavio sentia-se meio estranho, inseguro quanto a tática que usaria para desvendar o mistério que tanto o estava incomodando. Talvez por isso Sofia tenha notado algo de estranho nele.

– Relaxe, disse Sofia enquanto abria os primeiros botões da camisa azul que Otavio vestia.

– Não é nada. Argumentou tentando disfarçar o desconforto inicial.

Então iniciaram o ritual sexual como de costume, ele tirando os sapatos de Sofia e fazendo massagens com a língua em seus delicados pezinhos.

Continuo subindo pelas pernas, sempre com muita malícia, o que a deixava enlouquecida.

Entretanto, naquele dia ocorreu algo de anormal, na hora do orgasmo de Sofia, algo sempre intenso e forte, ela começa a passar mal apresentando os sintomas de um enfarto, pelo menos assim é que Otavio interpretou, pois a respiração dela acelerou-se demasiadamente e ela levou a mão ao peito, caindo desacordada sobre a cama.

Otavio fica atordoado sem saber o que fazer. Pensa, inicialmente, em aproveitar a oportunidade e desvendar o mistério que tanto o angustiava, pois esta seria uma ótima oportunidade para tirar a máscara de Sofia. O que ele não esperava é que no exato momento em que tentava desvendar o impasse, a campainha do apartamento toca. Ainda mais perturbado Otavio não sabe para onde correr, sacode Sofia na tentativa de acordá-la, mas tudo em vão, pois ela está mesmo desacordada, viva porém desacordada. Decide então correr para a área de serviço do apartamento e se esconder atrás de umas bugigangas que estavam jogadas lá. Se alguém entrasse estaria a salvo naquela parte do apartamento.

Após alguns minutos percebe que a campainha para de tocar, sem entretanto haver o menor movimento da dona da casa, sua cliente Sofia, ou de qualquer outra pessoa. Otavio decide então sair da toca em que se meteu, mas neste instante surge uma nova surpresa. Desta vez é o telefone que começa a tocar. Toca uma, duas, três e diversas vezes, porém não há nenhum movimento aparente de que Sofia levanta-se para atender o telefone.

Sorrateiramente Otavio vai saindo da área de serviço, passa pela cozinha e chega até a sala indo em direção à porta de saída. Neste instante lembra-se de novamente aproveitar a oportunidade para revelar o mistério, esticando o pescoço e olhando para dentro do quarto de Sofia. Para, pensa e vê que o corpo encontra-se na mesma posição que ele havia deixado no momento em que a campainha da porta tocou. Será que ela morreu?

Otavio se dá conta de que o melhor que tem a fazer é sair dali o mais depressa possível, pois ir mexer em um possível cadáver, ou tirar-lhe a máscara poderá fazer com que as coisas venham a se complicar para ele.

Imediatamente pega as chaves de seu carro que havia deixado sobre a mesa da sala e vai embora em disparada.

Otavio, depois daquele dia, nunca mais recebeu nenhuma ligação de Sofia. Será que ela morreu?

 

 

 

Renato Mafra, 34, solteiro, pai da Renata e namorado da Adriana, nascido e criado em Florianópolis-SC, típico cidadão de classe média brasileira não se interessava por culinária, considerava esta atividade reservada às mulheres, seguindo a frase de seus antepassados de que “cozinha é coisa de mulher”. Seu único interesse na cozinha era realmente comer, tendo inclusive a visão de que a alimentação servia exclusivamente para suprir as necessidade biológicas do ser humano.

Deixe um comentário