Fátima Teixeira
“Os anos de vida que tem, que resta para aquela pessoa, a pessoa tem que aproveitar, cada minuto, como se aquele fosse o último…” (Antonia, integrante de grupo de Terceira Idade)
O tema envelhecimento vem ganhando destaque em diversos setores da sociedade, na medida em que o número de idosos vem aumentando no país nos últimos 30 anos. Rapidamente estamos nos transformando em um país “jovem de cabelos brancos”.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, revelam que atualmente 8% do total da população do país está na faixa dos 60 anos ou mais. Cabe ressaltar que se trata de uma população predominantemente feminina e com grande probabilidade de viver só ou cuidando de outras pessoas da família. As projeções para o ano de 2025 elevam esse dado para 15%, estima-se que a população idosa no Brasil alcançará em números absolutos a 32 milhões de pessoas. Estimativas das Nações Unidas colocam o Brasil entre os seis maiores países do mundo em população idosa, precedida somente pela China, Índia, Ex-URSS, Estados Unidos e Japão, respectivamente.
No entanto, os investimentos sociais não correspondem a grandiosidade dos números apontados e constatamos a ausência de políticas sociais que ofereçam a necessária proteção social aos segmentos excluídos da população, especialmente os idosos.
As constantes crises econômicas que ocorrem no Brasil atingem setores como a previdência e a saúde penalizando os segmentos mais fragilizados da população, entre eles os idosos, que ficam entregues ao mais completo abandono.
A aposentadoria, principal benefício previdenciário e diretamente relacionado à velhice, em muitos casos se constitui na única fonte de renda da família. As constantes desvalorizações da moeda e o aumento do custo de vida, que não costumam ser acompanhados de correções compatíveis significam, quase sempre, o início de um processo de empobrecimento e de redução de satisfações outras que não as indispensáveis para a sobrevivência.
Os idosos com um melhor poder aquisitivo ainda podem conduzir suas próprias vidas e usufruir de algumas opções de lazer, cultura, turismo e outras atividades que contribuem para a melhoria da qualidade de vida.
Em contrapartida, encontramos um grande número de idosos cuja aposentadoria ou pensão representam a única fonte de renda da família, ou ainda aqueles que necessitam do auxílio financeiro dos filhos para despesas, especialmente com a saúde e medicamentos, que em geral costumam ser vultosas nessa fase da vida.
Dentro deste cenário como enfrentar o envelhecimento e manter o desejo de viver?
Creio que o filme “Copacabana” de Carla Camurati, recentemente lançado poderá nos ajudar a responder esta questão. O tema principal é a memória, mas encontramos outros componentes como a amizade e o afeto que se constituem em importantes sentimentos a serem partilhados no cotidiano.
A história retrata um idoso que é homenageado por um grupo de amigos com uma festa surpresa ao completar 90 anos. Esse convívio, tem como base sólidos laços de amizade que foram cultivados ao longo dos anos e se mantiveram na velhice.
O afeto, que se constitui numa importante necessidade para a pessoa idosa, também está presente no filme em diversas formas de manifestação.
Na realidade tanto para o homem como para a mulher que envelhecem a realização de atividades em grupo como passeios, exercícios físicos, conversas ajudam a preencher de forma saudável o tempo livre, e colaboram para a manutenção da saúde física e mental do idoso. Participar de atividades lúdicas, esportivas e manuais também ajudam a desenvolver novas habilidades e descobrir outras possibilidades, além de colaborar para a elaboração de novos projetos de vida.
O espaço grupal também privilegia o auto conhecimento, o conhecimento do outro e o estabelecimento ou fortalecimento de novas amizades.
A poucos dias vi uma reportagem sobre a importância da relação entre avós e netos para o desenvolvimento das crianças. Nesta fase, com a experiência acumulada e livre de todas as angústias e responsabilidades que pesam sobre a maternidade, fica mais fácil encontrar a paciência necessária para lidar com os netos e promover o encontro entre as gerações. As diferenças de interesses, de motivações, de concepções de mundo entre os jovens e idosos fazem com que a relação não se estabeleça de forma linear e sem conflitos, mas é justamente no embate das diferenças que está a riqueza do intercâmbio entre as gerações.
Mas, veja bem: O mais importante é que esta relação não seja uma obrigação ou imposição para o idoso, mas uma atividade exercida de forma prazerosa e com satisfação.