Por Gilberto Silva
“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de várias maneiras; a questão é transformá-lo” – Marx
Destroçados pela avassaladora avalanche de informações, contrainformações e completamente recheados com vivas à nova ordem mundial dita bela e una, nós -pobres mortais, nascidos em um país de natureza colonial e de herança escravista, nos entregamos (melhor seria: entregaram-nos) de corpo e alma às ditas maravilhas do neoliberalismo.
Fomos proibidos de pensar a utopia socialista. O capital patenteou nossas vidas. Não só manda na ordem econômica, como nos domina por inteiro penetrando em nossas almas e fazendo nossa consciência.
Criaram o paradigma da modernidade, onde tudo que é passado é velho, retrógrado e careta. As novas lutas não podem ascender mudanças na estrutura do poder, das relações de produção. As lutas podem existir desde que fiquem restritas a seu segmento (gênero, raça, etc e tal…). Tudo pode, desde que não avance para além do espaço doméstico.
Precisamos de uma oportunidade para refazermo-nos. Recriar nossa vontade de mudança, nosso espírito de transformação que seja síntese do ecológico, feminista, do antirracista, que desencarne as diferenças, as opressões e as exclusões do “globalitarismo”. A queda do “socialismo real” finalizou uma luta econômica, na qual os Estados Unidos da América aparecem como os vencedores e com ela a falsa declaração do fim das ideologias e com a expansão do modelo neoliberal, que trouxe desemprego e promove uma acumulação e movimentação de capital jamais visto na história da humanidade.
Presos ao luxo e aos restos dos lixos da modernidade do capital, presos ao poder da ideologia dominante (e aí daquela voz contrária!), esmagadora, com seu arsenal político-cultural sempre à disposição para a defesa da sua ordem. O mercado é o espetáculo e a imagem da vitória de uma única via, a única que nos apregoam como verdadeira e democrática. Seremos ainda cidadão? Mas, se não somos, podemos ficar tranquilos já há a “empresa-cidadã”. Seremos cidadão-empresa?
“Por quanto tempo ainda aqueles que estão acordados vão fazer de conta que estão dormindo?”, questionou apropriadamente Viviane Forrester em O Horror Econômico.
Somos humilhados por sermos utópicos, por acreditar na mudança, ridicularizados ao extremo e posto de lado na sociedade. Devemos renunciar aos nossos princípios e resignadamente aceitar os novos paradigmas que nos impõem? Há espaço neste mundo globalizado para soluções regionais no campo econômico? Os que não são da fé globalizada estão realmente cegos?