Paulo de Abreu Lima
Ser mahatma
É bem mais que ser frugal no alimentar-se;
É bem mais que fiar a própria vestimenta;
É bem mais que caminhar pelo prazer de caminhar;
É bem mais que ser casto buscando maior liberdade espiritual;
É bem mais que respeitar profundamente os modos diferentes de compreender e aproximar-se de Deus;
É bem mais que jejuar com intenção de evocar a bondade;
É bem mais que, num debate, ajudar o interlocutor a compreender suas próprias dúvidas e, não querer derrotá-lo;
É bem mais que, numa saudação gestual, mas muito sincera, tocar o coração de uma multidão.
Ser mahatma,
É ser “alma grande”;
É ser aberto e sensível, o necessário,
Para saber que os seres humanos,
Sejam hindus, muçulmanos, cristãos ou judeus,
Têm fome, falam, sofrem, andam, vêem, ouvem…
Amam.
Gandhi exerceu com plenitude e autenticidade sua atitude; atitude de doação – pagar o mal com o bem. Soa estranho, hoje, contudo, uma atitude gandhiana, numa sociedade de ganância, egoísmo e materialismo. Mas exatamente por isso Gandhi foi político-santo… santo-político.
Ser mulher-homem-terreno,
É ser pessoa;
“Tudo o que vive é o teu próximo”, dizia.
Por que temos dúvidas, ainda,
De que pessoas são nossos próximos?
Reside aí o significado e a importância da atitude gandhiana – era muito claro, para Gandhi, a compreensão de ser mulher, homem, hindu, muçulmano…de ser pessoa. Seu maior esforço, abrindo-se intensamente ao nosso ser-estar humano, foi exercer a humanidade, com tudo o que ela exigiu. E este exercício foi pleno, porque humanizar-se era sacrificar-se, !tornar sagrado”; humildemente, sendo casto, frugal, simples. E não há dúvida que uma atitude gandhiana é sagrada, porque humana, respeitadora, não-violenta; sacrificou o corpo, o ser, a luz, para chegar a eles mesmos; se expôs à violência garantindo ao violento o vislumbre de que ela é instrumento de ganância, egoísmo e materialismo. Atitude gandhiana é crer que “a não-violência é infinitamente superior à violência, e que o perdão é bem mais viril que o castigo”.
Ser mahatma
É exercer humildade; não professá-la.
Paulo de Abreu Lima é psicólogo