O mês de dezembro é o mês do natal cristão. Mais do que nunca, a reflexão sobre o Natal invoca uma reflexão sobre o conflito no Oriente Médio.
Paulo de Abreu Lima
Temos a impressão, com frequência, que o conflito entre árabes e israelenses nunca será solucionado. A julgar pelo que acompanhamos pela imprensa, o relacionamento entre judeus e palestinos, especialmente, sempre será marcado por atitudes violentas de ambas as partes.
É bastante lamentável a grande perda de todo o avanço a que chegaram as negociações de paz, entre Iasser Arafat e Itzhak Rabin. Mais lamentável, ainda, Israel eleger, na sequência, um primeiro-ministro da direta (Byniamin Nethanyahu), que, claramente, desprezou e jogou no lixo todo o avanço alcançado.
A atitude de desrespeito de Ariel Sharon quando visitou, recentemente, um local sagrado para os árabes em data de significado especial para estes, com certeza representou uma afronta e, de certo modo, legitima o sentimento de rejeição e não-reconhecimento e ira. Legitima no sentido de que é bastante clara a vantagem de poder (econômico e militar) de Israel sobre o povo palestino, pois apesar de todo o mundo árabe ao seu lado, Israel mantém-se em situação facilitada pelo fato de ser uma nação reconhecida internacionalmente.
A questão é relativamente simples: afinal, quem é que tem o direito verdadeiro de ocupar aquelas terras; judeus, palestinos? Uma questão que, parece, ninguém consegue responder. Historicamente, tanto um quanto outro, parecem ter direito – existem teorias, inclusive, de que haveria parentesco étnico entre judeus e árabes. Historicamente parece que as duas partes têm direito; economicamente não se evidencia nenhuma razão mais forte. A questão, de fato, é puramente religiosa e cultural. Os cristãos poderiam entrar na briga também pela reivindicação de Jerusalém, já que também tem significado histórico para o cristianismo.
Mas a questão maior não é quem tem o direito legitimo de domínio de Jerusalém ou da Cisjordânia, etc. A questão é a incapacidade de convivência e negociações entre dois povos de valores e traços culturais diferentes, e a capacidade de seus líderes (com destaque para as lideranças radicais de direita tanto israelenses quanto palestinas) de fomentarem e insuflarem o ódio natural e doentio de um povo contra o outro – com certeza foi essa a razão que levou o jovem israelense a matar o primeiro-ministro Rabin.
Por isso acho que o Natal tem muito a ver com esta questão, não só pelo significado que toda a região do oriente médio tem para o cristianismo, mas porque o Natal é a lembrança do início, do nascimento; e esse tipo de lembrança – que é a importância desta comemoração – suscita parada e reflexão sobre questões como acolhimento, humildade, escuta e tudo aquilo que representa coexistência, que é exatamente o que não se consegue de forma alguma entre árabes e judeus. Será que só com intervenção divina? E a capacidade do perdão?
Sebastião Salgado diz que “as crianças refugiadas (…) são vítimas de ferimentos mais difíceis de curar do que o trauma do deslocamento físico. Quando elas e os pais são vítimas de limpeza étnica, por exemplo, o desejo de vingança não é uma reação natural? Quanto submetidas a exílios prolongados, as crianças crescem sabendo (e sentindo) que têm um inimigo; quando um pai foi assassinado, que mãe pode ensinar os filhos a perdoar? Não é surpreendente que os campos de refugiados se transformem em centros de recrutamento para forças armadas de “libertação”. (…) os rebeldes palestinos utilizaram campos de refugiados no Líbano com o mesmo objetivo. As crianças refugiadas aprendem depressa que a derrota acarreta responsabilidades ”.
A capacidade do perdão está, com certeza, muito fragilizada. Arafat e Barak têm um imenso desafio. Este desafio talvez não seja só destes dois líderes, mas do mundo todo e, do ponto de vista político, especialmente das Nações Unidas, apesar de toda força e fragilidade que ela possui (Kosovo, Bósnia, Tchetchênia, etc.). Política e historicamente, portanto, a capacidade do perdão, da humanidade, está nas mãos dos líderes. Oxalá os líderes eternos conspirem a nosso favor.
Paulo de Abreu Lima é psicólogo
O construtor e o jardineiro
A Arquidiocese de Niterói oferece este artigo para reflexão: Cada pessoa, em sua existência, pode ter duas atitudes: construir ou plantar. Os construtores podem demorar anos em suas tarefas, mas um dia terminam aquilo que estavam fazendo. Então param, e ficam limitados por suas próprias paredes. A vida perde sentido quando a construção acaba. Mas existem os que plantam. Estes, às vezes sofrem com as tempestades, as estações, e raramente descansam. Mas, ao contrário de um edifício, o jardim jamais para de crescer. E, ao mesmo tempo que exige a atenção do jardineiro, também permite que, para ele, a vida seja uma grande aventura. Os jardineiros se reconhecerão entre si, porque sabem que na história de cada planta está o crescimento de toda a terra.