Gilberto da Silva
Este texto é uma retomada de uma reflexão feita há dez anos, em muitos aspectos tudo permanece igual. Exceto meus cabelos – que sobraram – brancos.
As barreiras físicas – ideológicas caíram com o ruir das pedras de Berlim. Com os restos dos cascalhos germânicos, iniciou-se a guerra ideológica dada desde o seu princípio como “ganha” pelos adeptos do neoliberalismo.
Um direto de direita
A “direita” ri e exclama. O marxismo ruiu! Mais que depressa açodados pelos ventos do Leste europeu, determinam o fim da História.
Os intelectuais a serviço dessa ideologia – se bem que com raras exceções eles concordem em se denominar pensador de direita, proclamam os vários fins: “o fim da luta de classes; o fim das tiranias: o capitalismo venceu!”
Está aberta a temporada de caça, marxistas de um lado, neoliberais de outro (Claro, não esquecer os que não tem lado nenhum…).
Picaretas em mãos: os muros desabam. Pedra sobre pedra. Um peso e um silêncio inquietante e intranquilo. Não há mais meio termo: seja democrata e pronto! Até ai, tudo bem.
Na realidade tem muita gente que precisa de um direto de direita. Há gosto para tudo…
Vá ser gauche na vida!
Dentro da esquerda um debate logo se inicia, pensa-se em mudanças radicais, mudar os rumos, adaptar-se ao curso social democrata da história. Quantos não esboçaram um sorriso de felicidade ao ver o “Príncipe” tornar-se presidente? Os mais “radicais” esboçam reações: “Isto é uma ofensiva da burguesia, devemos resgatar o marxismo, recuperar a tradição crítica, humanista e revolucionária de Marx.” Os debates florescem, adeus… às armas e adeus aos sonhos. Temporada aberta para debates…
Criam-se partidos com a finalidade de unir a esquerda, que dividida trabalhava para reunir as forças de oposição, que dividida não elabora uma tática – ou será estratégia? – para tomar o poder. Tomar o poder? Mas que expressão mais antiquada! – exclamam os adeptos do novo.
Como uma onda no mar
A onda neoliberal invade as praias brasileiras, encanto radical, perspectivas pós-moderna. Instaura a “ansiosidade” do novo (tudo é novo, até o velho reveste-se de novo – percebem como o brasileiro, além do “jeitinho” adora o que é novo), preparam-se imagens-produtos de homens sérios e competentes (?). É impressionante elegemos um elemento que cheirava novo e exalava podridão. Novo e bonito e não feio, sujo, malvado. Afinal, já disse o Joãozinho Trinta: “pobre adora luxo, intelectual é que gosta de pobreza”.
Infelizmente parece que o “bom” é ser autoritário. O Brasil é a própria expressão dessa face: nem capitalista, nem democrata, um país com a vontade de ser grande, Primeiro Mundo. Estagna-se um sonho… Perpetua-se o regime da desigualdade e da miséria, quietos, mudos, impassíveis fingimos que somos felizes.
Mas, espera aí, dirão muitos, isto é muito pessimismo: afinal um frango já pode ser repartido em muitas casas, a moeda está estável, caminhamos lentamente para a modernidade, condenamos violentamente a violência – só contra os políticos, por que nós povinho estamos sendo violentados todos os dias – , etc.
Enquanto essa massa amorfa ilude-se com dramalhões mexicanos, ou ficam pasmos ao se identificarem com “O dono do mundo” (como o texto é re-eleitura, de um re-eleitor, digo: Terra Nostra). Os ideólogos de plantão re-pensam os conceitos. Re-examinam tanto, tanto que esquecem de se examinarem a si próprio.
Reinventando
Fala-se em reinventar a política. Para quê. Por quê? Voltam as alternativas culturais: “preciso iniciar um processo pedagógico”. Pedagógico para quê e quem? Fala-se em ética. Muito bem ética é fundamental. Mas que ética?
O fazer política, hoje, passa por um questionamento do modo de vida, do corpo, do tempo, das relações pessoais, etc… Enquanto estes questionamentos não são feitos, cresce no cenário internacional o racismo e a beligerância.
Como lidar com categorias tais como revolução, luta de classes… (veja: Minorias e maiorias) Revolucionar o que? Para quem? Perguntas. Perguntas… acrescentem perguntas.
Seria sustentável a contraposição entre “modernos” e “ortodoxos”? Mas se o “socialismo morreu”? escafedeu e se o “neo” e “old” liberalismo só destrói utopias e esperanças, que fazer?
Que motivo tem os totalitários para rirem, tentarem se reerguer? Força física para enfrentar a desigualdade? Há esperanças num mundo marcado pela falta de democracia, da liberdade e da VERDADE?
Mas, “se tudo que‚ sólido desmancha no ar”, de que riem de os democratas? Miremos: Fujimori, massacres, violência, fome, drogas, golpes militares, eleições fraudulentas…… e uma lista interminável que cabe a você caro leitor completá-la.
Gilberto da Silva, editor de Partes, jornalista e sociólogo