FHC não entende nada de futebol


Juares Soares

Edson Arantes do Nascimento, mineiro de Três Corações, cidadão brasileiro, está profundamente magoado. Da mágoa para a revolta foi um passo. Bastou uma entrevista, uma pergunta. Pela primeira vez, o brasileiro Edson pediu socorro a uma outra entidade que ele incorpora há quase sessenta anos. Gritou por Pelé. Claro que Pelé baixou e, na mesma hora, bronqueado, defendeu o parceiro.

Pelé disse com todas as letras que o responsável pelo caos no futebol brasileiro é o presidente Fernando Henrique Cardoso. Para o maior jogador do mundo, FHC desfigurou a lei que o cidadão Edson, enquanto ministro, tinha elaborado, dando-lhe o nome de Lei Pelé.

Pediu ardorosamente que não coloquem o nome (Pelé) na Lei que para ele não existe. A redação inicial e suas intenções foram desfiguradas, mutiladas a pedido de dirigentes, conhecidos por suas falcatruas. Os senadores e deputados federais, pressionados como sempre acontece, atenderam aos conchavos. Só que no Congresso Nacional não existe ninguém inocente.

Foram mesmo mal intencionados. Para Edson Arantes do Nascimento, o jogador de futebol, que poderia ser livre com o passe na mão, foi omisso. Teria liberdade para ir e vir, trabalhar onde fosse melhor, exercer sua força de trabalho de acordo com suas conveniências e convicções.

Pelé sabe melhor que ninguém ser o jogador de futebol, no Brasil, um preguiçoso político, que não age e não pensa (com raríssimas exceções). Quem ganha bem, os milionários, pouco se importam com os colegas bóia-frias, que ignorantes de seus direitos, se acomodam.
Desde a época em que Pelé jogava era assim. Ele mesmo, em declarada autocrítica, afirmou que também fazia o mesmo. Agora, mais velho, sofrido, sabendo como é o circo político, muda de opinião. Pelé afirmou que Fernando Henrique Cardoso não entende nada de futebol, mudou uma lei que dava certo. Foi submisso ao lobby feito por Eurico Miranda, Havelange, Ricardo Teixeira. Gente que dispensa comentários. Ao contrário de milhões de brasileiros, nem de futebol Fernando Henrique entende.

As declarações de Pelé surgem no momento em que o chamado “Clube dos Treze”, que reúne os maiores clubes do Brasil, organiza a Copa João Havelange, sinônimo de incompetência e desorganização.

Tentando voltar ao tempo da escravidão, os dirigentes dessa entidade querem proibir a contratação de jogadores que recorram à Justiça do Trabalho. Os cartolas fizeram um acordo. Jogador que brigar pelos seus direitos ficam fora do mercado de trabalho.

Claro, o jogador que tem passe livre, como propunha a Lei Pelé, negocia seus contratos sem interferência do dirigente, que sempre leva enorme vantagem financeira em negócios feitos de forma obscura.

A dança dos milhões, agora de dólares, continua no futebol de forma frenética. O dinheiro sai aos borbotões, entre os compradores que dirigem os clubes.

Todo mundo sabe que existe a falcatrua. Um dia vai chegar, em que algum jogador, mais consciente, vai fazer a denúncia e mostrar as provas.
Fará a grande revolução do futebol.

Ainda lembrando Pelé, ele disse que os jogadores deveriam se unir, reivindicar seus direitos, fazer uma greve, mostrar sua força. Pelé acordou. É isso aí companheiro!

Juares Soares é jornalista 

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