Cultura música

Sensibilidade e arte

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Wandir Marques Gonçalves

No lumiar de um novo século, oramos pela nobreza de seus versos, que tantos e a todos estes artistas narrou em suas canções, tem até quem diga: “Chico Buarque é um grande artista e poeta”, mas sim um grande músico, suas melodias soam corretas em nossos ouvidos, é como uma manequim nua, com suas curvas e suavidades, linda de se admirar. Logo em seguida vem suas vestes, e faz com que a mesma manequim linda e nua se torne linda e maravilhosamente vestida.

Homem de grande sensibilidade que une ação, força e a realidade num mesmo frasco, como se a química já estivera pronta pôr si própria.

Sua arte nos dá profundidade, buscando-nos no mais profundo sentimento de igualdade, a cada canção ele está mais à frente, mais atrás, mais ao meio, enfim ele nos encontra em todo momento.

Salve Chico Buarque!

 

Em filme sobre FHC não!

 
Chico disse que não está satisfeito com o governo do Fernando Henrique Cardoso e que não deixaria que sua obra, a música “O que será?”, fosse associada à atual gestão. Chico vetou o uso de um trecho da sua música no filme e na videoinstalação “Pessoas do Brasil”, de Tadeu Jungle e Carlos Rennó, produzidos especialmente para serem exibidos na mostra Expo 2000, de Hannover, Alemanha.

 

Chico de Hollanda, de aqui e de alhures

Aqui, mais um trecho da carta do amigo Ruy Guerra ao velho amigo Chico

“Parceiro de euforias e desventuras, amigo de todos os segundos, generosidade sistemática, silêncios eloqüentes, palavras cirúrgicas, humor afiado, serenas firmezas, traquinas, as notas na polpa dos dedos, o verbo vadiando na ponta da língua – tudo à flor do coração, em carne viva… Cavalo de sambistas, alquimistas, menestréis, mundanas, olhos roucos, suspiros nômades, a alma à deriva, Chico Buarque não existe, é uma ficção – saibam.
Inventado porque necessário, vital, sem o qual o Brasil seria mais pobre, estaria mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção.”

 

Curiosidade

Chico Buarque é filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e de dona Maria Amélia

 

Nesta edição, a letra da canção Pedro Pedreiro, letra e música de Chico feita em 1965, boa viagem e até mais amigo leitor

Pedro Pedreiro 
Chico Buarque/1965

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficando pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Desde o ano passado
Para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande no bilhete pela federal
Todo mês
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro
Está esperando um filho
Pra esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro está esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo
Espera alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar
Mas pra que sonhar
Se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
Sem ficar esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também
Esperando a festa
Esperando a sorte
Esperando a morte
Esperando o norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito do trem

Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem, que já vem, que já vem (etc.)

Wandir Marques Gonçalves, é artista plástico

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