Eduardo Paulo Berardi Junior
Minorias? Maiorias?
Negro. Mulher. Indígena. Judeu. Muçulmano.
Homossexual… Heterossexual… Passivo… Ativo…Travesti… Transexual …G.L.S…
Lenta e morbidamente, como um câncer, vivemos a tentativa – ou seria preferível dizer, a tendência? – da diluição da consciência de classe como parte fundamental da luta de classes através de mecanismos muito sutis. Estruturalmente, a economia globalizada, e a proposta de um mundo sem fronteiras, distancia o sujeito – detentor do poder econômico – do objeto, trabalhador, detentor da força de trabalho. Tornados iguais como consumidores, tornamo-nos massa, sem sermos classe, sem nem identificarmos os sujeitos e os objetos.
Ao invés do “Trabalhadores do mundo, uni-vos!” cunhado por K.Marx temos hoje o Consumidores do mundo, consumi! sem que se possa, ao menos, gravar uma autoria.
A queda do muro de Berlim e tudo o que representou contribuiu sobremaneira para a composição do comportamento geral destes tempos. O mastro erguido não possui bandeira a tremular, criando um vazio ideológico que serve como uma luva ao crescimento do individualismo e de sua defesa pelos mais diferentes meios (seja por parte do Estado com, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor; seja por parte de ONGs; seja por inúmeras associações; seja pela mídia; Procon e tantos e tantos outros).
Quem se colocaria contra esses mecanismos de defesa? Ninguém, afinal a luta pelos Direitos Humanos é uma luta da Humanidade.
Entretanto, paralelamente, muitas lutas das denominadas minorias, sutilmente têm cumprido o papel de enfraquecer e não fortalecer tais lutas. Seria possível outra via?
As mulheres, por exemplo, lutam pela igualdade dos direitos frente aos homens. Pouco importa que sejam mulheres proletárias ou burguesas? Afinal, quem são “os homens”? Quem são “as mulheres”?
Os negros, lutam pelos seus direitos, contra as discriminações. Há negros e negros. Há negras e negras. Há trabalhadores e patrões.
Os gays, lutam pelos seus direitos, igualmente contra as discriminações. Há gays negros e não negros. Há trabalhadores e patrões.
As lésbicas, lutam pelos seus direitos, igualmente contra as discriminações. Há lésbicas negras e não negras. Há empregados e patrões.
Índios. Ecologistas. Crianças e Adolescentes. Meninos e Meninas de Rua. Portadores de Necessidades Especiais. Aposentados. Prostitutas. Toxicômanos. Roqueiros. Metaleiros. Pagodeiros. Rapers. Corintianos. Palmeirenses. Há empregados e há patrões.
As classes sociais podem ser “classificadas” com as mais diferentes denominações ao longo da História, mas sempre é possível identificar dois polos contrários, antagônicos e contraditórios. De um lado, o explorador e do outro o explorado. Escravo, servo ou operário guardam entre si a mesma característica, qual seja a de ceder sua força de trabalho em proveito do outro – senhor, industrial, banqueiro – que enriquece. Um não existe sem o outro. Seus interesses sempre são opostos. Um domina o poder político e o outro é submetido. Caia o muro de Berlim ou não, haja a globalização ou não, haja minorias ou não, classes sociais sempre existirão e portanto sempre haverá a luta de classes como afirmava Marx, mesmo quando nos informam que a História acabou. Como poderia? Como pretenderia o homem conter a dialética, sem exterminar a sociedade e as classes que a constituem? A quem interessa dissimular a luta de classes?
A nosso ver as ideologias que defendem o modo de produção capitalista atuam de forma sofisticada, sutil, investindo em formas as mais variadas de divisão das classes antagônicas, trabalhadoras, desse modo retardando o enfrentamento. O caminho socialista não sucumbiu. O sonho da igualdade entre os homens permanece. Nem porque desabou o muro de Berlim, desabou com ele nossa racionalidade sustentada pela concepção dialética da história. A História se faz no tempo e para o tempo não há finitude, não existe limite…
Nesse sentido, seria interessante que as correntes de pensamento e ação (partidos, sindicatos, associações diversas) inscrevessem em seus programas e objetivos o acolhimento às diferentes minorias numa dimensão de luta de classes e não como categorias à parte, dissociadas das relações de produção, como se ser negro fosse a condição primeira para ser explorado. É na pobreza que as diferentes minorias se tornam uma só. Por que então dividi-las? A quem convém a atomização das forças de oposição?
A mais recente divisão a contribuir para essa atomização das forças, é a dos sexos.
Bem… mas seria melhor deixarmos esse assunto para o próximo número…
Eduardo Paulo Berardi Junior é professor de História