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Assédio moral – Sequestro da Alma

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Assédio moral – Sequestro da Alma
Ana Parreira (*)

Vamos falar aqui de um assunto espinhoso e tabu: as perseguições sofridas por funcionários no local de trabalho. Na verdade, quando comecei a estudar esse comportamento perverso que acontece nas empresas, fui movida pela necessidade de encontrar um sentido para uma situação dolorosa que eu mesma vivia no meu ambiente de trabalho.
No entanto, aos poucos, esse assunto foi me convidando a um aprofundamento. Tal como um quadro, uma pintura misteriosa, que emite um chamado cheio de desafios para dentro dela. Uma vez tendo sentido na pele os efeitos do assédio moral, é praticamente impossível ficar de fora, apreciando o quadro, como um visitante de passagem por uma exposição. Quando menos se espera, a pessoa está mergulhada na situação, só que ela não se dá conta disso.
Aqui, vamos entrar no ambiente do assédio moral conscientemente, o que faz uma diferença. Vamos entender o que é o assédio, as consequências que ele provoca, os afastamentos por doença, o alto custo que acarreta para a dignidade, a autoestima e a reputação profissional do trabalhador ? e também os prejuízos que o empregador terá, ao permitir e tolerar os abusos entre funcionários no seu ambiente laboral.
Este é um assunto que não tem como ser visto na superfície, o que implicaria em banalizar a violência e sofrer, com isso, os seus resultados. Assim, sugiro que o leitor recorte este e outros artigos para ter uma real noção do que é o assédio moral, na infortunística no trabalho. Muita coisa ainda vem por aí. É bom ficar atento, seja empregador ou empregado, pois a melhor forma de combater o assédio moral é a prevenção.

O assédio moral, hoje, infelizmente, é um quadro que está diante de todos os trabalhadores, sejam os jovens do primeiro emprego, os estagiários, os executivos, as mulheres, os funcionários mais velhos, os empregados qualificados. É um tipo de discriminação, cruel, velada e quase invisível. Ninguém está imune a sofrer assédio moral, que, muitas vezes, inclui no seu cardápio indigesto o assédio sexual como uma das táticas de controle.
Mergulhando nesse quadro, é possível ver que o objetivo final do assédio moral é a demissão. Muita gente sofre no trabalho e não sabe o motivo, nem o que fez de errado. A vítima perde um tempo precioso se perguntando: “Por que eu?” E, desse momento em diante, ela perde o sossego ao ficar remoendo as humilhações.
O assédio moral não é um ataque súbito, isolado e evidente. É um lento e premeditado sequestro da alma, um caldo amargo que é cozido em fogo lento, repetidas vezes, no qual a vítima fica assustada e com medo, sem saber de que a acusam e sem encontrar uma saída.
Como um pesadelo, a vida de uma vítima de assédio moral se enche de um clima de horror, o que leva para longe a imagem de quem ela era e deixa sua alma deixa vagando, a querer voltar para casa.
O assediador começa aos poucos a manipular a vítima (e o ambiente) ao introduzir uma implicância aqui, um olhar de desprezo ali, um comentário irônico, um documento desviado para induzir o funcionário a erro, a transferência para outro setor, ou sobrecarga de trabalho.
Com o tempo, o assediador aumenta a perseguição e adota outras atitudes perversas, por exemplo: diminuir o subordinado, provocar seu isolamento, excluir a pessoa das reuniões, humilhar em público. Em geral, outros funcionários seguem o chefe, temendo perder o emprego ou o cargo. Eles também passam a isolar a vítima e a tratá-la com deboche, desprezo. O empregador, este faz vista grossa para não criar conflitos. A vítima se atormenta.
Sua alma é tomada de angústia. Adriana Falcão, em Mania de Explicação, diz bem: “Angústia é um nó muito apertado, bem no meio do sossego”.
Existe resgate para a vítima de assédio moral? Sim, mas é preciso que ela seja teimosa, é preciso reagir e não se calar. A lei do silêncio é a maior aliada dos sequestradores, dos pedófilos, dos assediadores, da corrupção. A vítima necessita trazer sua alma de volta, a fim de tornar a se ver como gente, tornar a viver com dignidade. Então, ela precisa lutar (mesmo que a demissão aconteça e que as lembranças traumáticas continuem). E para reagir, a vítima de assédio moral precisa ter uma resposta à pergunta: “Por que eu?”.
Quem responde é Tim Field, especialista no assunto, em uma frase, como ele mesmo
diz, curta e grossa:
“Só os bons são perseguidos”.
Ou seja, geralmente, a vítima de assédio moral incomoda porque, em razão de ser
diferente em um ambiente onde todos são tão iguais, pode ter sido uma pedra no caminho de alguém sem escrúpulos. Quando a vítima resgata sua autoestima, ela começa a tomar sua alma de volta. Para começar a puxar a alma outra vez para perto de si, a primeira coisa a fazer é escrever um diário.

(*) Ana Parreira autora de “Assédio Moral – Um Manual de Sobrevivência”, edit. Russell –
Contato com a autora: anaparreira@uol.com.br

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