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Em tempos de cibercultura: as tecnologias nas práticas pedagógicas

 

Em tempos de cibercultura: as tecnologias nas práticas pedagógicas

 

Rossana Cassanta Rossi*

RESUMO:

Inegavelmente, as tecnologias estão cada vez mais não só fazendo parte do nosso cotidiano como estão se tornando em uma parte de nós mesmos, nos transformando em ciborgues. Devido a tal importância que assumem nas nossas culturas, torna-se necessário refletir sobre as possíveis contribuições dessas não só na esfera cotidiana, mas especialmente na esfera pedagógica, sobre como estamos lidando com suas possibilidades pedagógicas.

PALAVRAS-CHAVE: cibercultura, práticas pedagógicas, tecnologias, sujeitos pós-modernos.

ABSTRACT:

Unquestionably, the technologies are not only part of our everyday life as they are becoming a part of ourselves, transforming ourselves into cyborgs. Due to such importance they play in our cultures, it is necessary to reflect on the possible contributions not only in the everyday sphere, but especially in the educational one, about how we are dealing with their educational possibilities.

KEYWORDS: cyberculture; pedagogical practices; technologies; postmodern subject.

Em uma cultura na qual as tecnologias se tornam cada vez mais centrais no cotidiano dos sujeitos, a discussão sobre seus usos bem como suas possibilidades pedagógicas devem se tornar mais frequentes. Inegavelmente, as tecnologias estão cada vez mais não só fazendo parte do nosso cotidiano como estão se tornando em uma parte de nós mesmos, nos transformando em ciborgues. Como afirma Haraway (2000, 292): “Pelo final do século vinte, nosso tempo, um tempo mítico, nós somos todos quimera, teorizados e fabricados de híbridos de máquinas e organismos. Em resumo, nós somos ciborgues.” Nessa perspectiva, as tecnologias não são vistas como uma extensão do corpo; ao contrário, o que ocorre é uma hibridização entre o orgânico e a máquina.

Importante salientar, como afirma Levy (1997), que elas não são de outro planeta, mas são produzidas por nós: “não só as técnicas são imaginadas, fabricadas e reinterpretadas para uso dos homens, mas que é a própria utilização intensiva das ferramentas que constitui a humanidade como tal (juntamente com a língua e as instituições sociais complexas)” (idem, s/p). Portanto, segundo Levy (idem), não cabe falar em “impacto das tecnologias”, como se elas viessem de fora de nossas culturas e tivessem sido arremessadas dentro delas, produzindo um choque (cultural) – mesmos que para alguns sujeitos pareça que as tecnologias sejam mesmo de “outro mundo” por não se sentirem incluídos ou não se adaptarem à cultura tecnológica. O autor expõe que já que as tecnologias são uma produção cultural, o foco deve ser para os seus usos, uma vez que elas não são boas nem más por si, nem tampouco neutras: dependem do uso que fazemos delas.

Na esfera pedagógica, destaca-se um dos pontos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) que afirma: “indiscutível a necessidade crescente do uso de computadores pelos alunos como instrumento de aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em relação às novas tecnologias da informação e se instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e futuras” (grifo do autor) (BRASIL, 1997, p. 68). Contudo, é importante ressalvar que a abordagem do tema não deve ser meramente tecnicista, ou seja, não apenas ensinar os modos de usar as ferramentas (instrumentalizar), mas ir além, explorando o contexto sociocultural em que estão inseridas bem como suas características pedagógicas, levando, assim, a uma abordagem mais crítica. Isso porque as tecnologias são artefatos culturais e, como tais, são portadoras e produtoras de sentidos e significados; são parte de nossa cultura e modelam nossas práticas culturais. Devido a tal importância que assumem nas nossas culturas, torna-se necessário refletir sobre como estamos lidando com suas possibilidades na esfera pedagógica.

As redes sociais, por exemplo, podem ser um ponto de análise. Essas já não são um mundo virtual à parte da esfera pedagógica, uma vez que se pode encontrar diversos exemplos de professores e alunos interagindo através delas, tanto como um meio de aprendizagem como forma de relacionamento além da fronteira escolar. Esse contexto aponta para o desmoronamento dos tradicionais modos de interação professor-aluno-práticas pedagógicas. Outro ponto de análise que vai nessa direção são as wikis, nas quais o conhecimento não é centrado no professor, mas sim colaborativo – uma característica das novas gerações da web 2.0 –, pois permite edições, compartilhamentos e discussões entre os pares da comunidade, podendo ser utilizadas como ferramentas pedagógicas atrativas para os sujeitos dessa geração. É importante destacar que esses exemplos vão além de apontar as possibilidades e contribuições das tecnologias nas práticas de ensino; eles nos mostram os novos contextos culturais que têm emergindo através delas, as novas necessidades sociais, tais como o compartilhamento, a colaboração, rapidez, relacionamentos virtuais, borramento de fronteiras, liquidez, entre outros. Tais aspectos “atingem” a tradicional instituição escolar, abalando suas estruturas, uma vez que os sujeitos que vão para as salas de aula são exemplares dessa condição cultural pós-moderna (GREEN; BIGUM, 1995).

 Indo em direção a isso, os PCNS afirmam que é preciso estar “preparado para poder lidar com novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos ritmos e processos” (BRASIL, 1997, 28); porém, acrescenta-se: deve-se estar preparado para lidar com as lacunas, com problemas culturais e sociais que emergem devido à centralidade das tecnologias. Como ressalta Porto (2006, p. 43):

Nunca tivemos tantas alterações no cotidiano, mediadas por múltiplas e sofisticadas tecnologias. As tecnologias invadem os espaços de relações, mediatizando estas e criando ilusão de uma sociedade de iguais, segundo um realismo presente nos meios tecnológicos e de comunicação.

Isso porque, apesar da centralidade das tecnologias na nossa cultura, estar dentro dessa cultura implica condições econômicas e socioculturais o que gera uma desigualdade nesse âmbito, produzindo os incluídos e os excluídos da cultura tecnológica. Isso é um outro aspecto que precisa ser considerado nas práticas pedagógicas a fim de atender as demandas desse novo contexto cultural.

É preciso, portanto, avaliar as implicações tecnológicas nas práticas pedagógicas, os modos como elas têm (re)conduzido como também reconfigurado – e por vezes desestabilizado – as formas de ensinar e aprender e, muitas vezes, também o nosso saber docente. Em tempos em que as tecnologias se tornam cada vez mais centrais em nossas culturas, pensar sobre suas implicações se torna uma tarefa constante e inacabada; isso porque outras emergem nos propondo outras formas de pensar, de sentir e de estar no mundo. Também o mesmo acontece em nossas práticas pedagógicas: um constante repensar e uma constante reconfiguração a partir dos significados que damos e do modo como nos relacionamos com as tecnologias.

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.

GREEN, Bill; BIGUM, Chris. Alienígenas em sala de aula (Trad. Tomaz Tadeu da Silva). IN: SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Alienígenas em sala de aula. Petrópolis RJ: Vozes, 1995. Pg. 206-43.

HARAWAY, Donna (2000). A Cyborg Manifesto: Science, Technology and Socialist-Feminismin the late Twentieth Century. In: BELL, DAVID & KENNEDY, BARBARA M. The Cybercultures Reader. London, New York: Routledge. Pp. 291 – 324.

LEVY, Pierre. O inexistente impacto da tecnologia. Folha de São Paulo, [5]: 3, 16

ago, 1997.

PORTO, Tania Maria Esperon. As tecnologias de comunicação e informação na escola: relações possíveis… relações construídas. Rev. Bras. Educ.,  Rio de Janeiro,  v. 11,  n. 31, abr.  2006 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1413-24782006000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em mar. 2012.

Como citar esse artigo:

ROSSI, Rossana Cassanta. Em tempos de cibercultura: as tecnologias nas práticas pedagógicas. P@rtes, São Paulo, 2013. Disponível em <xxxxx>. Acesso em xx/xx/xxxx.

* Mestre em Educação (UFRGS). Licenciada em Letras, Port./Ingl. (UFSM). E-mail: sanarossi@yahoo.com.br

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