Roberta Celestino Turismo

A relação turismo receptivo e hospitalidade em Teresina

Jaciara Karolyne Bezerra da Costa (1); Roberta Celestino Ferreira (2)

 

publicado em 02/10/2010 como <www.partes.com.br/turismo/rocelestino/receptivo.asp>

 

RESUMO

Objetiva-se através deste realizar uma análise acerca da hospitalidade como atrativo para desenvolver o turismo receptivo em Teresina. Percebe-se que a prática desse segmento na região ainda é muito tímida, mas que possui um potencial significativo devido à boa receptividade e o calor do povo teresinense que se constitui hoje como umas das características mais marcantes da cidade.

Palavras-chave: Hospitalidade, Turismo receptivo, Desenvolvimento.


ABSTRACT

It aims to achieve this through an analysis about the hospitality, attractive to develop the inbound tourism in Teresina. It is perceived that the practice of this segment in the region is still very shy, but that has significant potential because of the good reception and the warmth of the people that Teresina is today as one of the most striking features of the city.

Key-words: Hospitality, Inbound tourism, Development


  1. INTRODUÇÃO

Ao considerar o turismo como uma das atividades mais promissoras do século XXI, e que traz reais benefícios às comunidades receptoras, os governos e empresários das várias regiões do país e do mundo investem milhões em equipamentos e infraestruturas para receber turistas, o que acaba provocando um crescimento que muitas vezes acontece sem planejamento e consequentemente gerando uma má qualidade dos produtos e serviços oferecidos, principalmente no atendimento ao consumidor.

Nessa perspectiva o turismo e a hospitalidade estão intrinsecamente ligados, justamente pelo ato de recepcionar, característico da atividade turística, que engloba um complexo grupo de atividades econômicas e profissionais bastante inter-relacionadas entre si, a ponto de serem consideradas setorialmente ou, mais frequentemente, como uma só, sob diferentes denominações – turismo e hotelaria, turismo e hospitalidade, hotelaria e gastronomia, indústria hoteleira, hospedagem, turismo de negócios e eventos, lazer e recreação, viagens e turismo, trade turístico.

Conforme Walker (2002, p. 04-05) “a hospitalidade deriva de hospice (asilo, albergue) antiga palavra francesa que significativa dar ajuda/abrigo aos visitantes.” Também pode ser entendida como uma ação de acolher em casa por caridade ou cortesia. Com o incremento do comércio, e consequentemente das viagens, fez com que o aparecimento de alguma forma de acomodação para passar a noite se tornasse uma necessidade absoluta. Por conta da lentidão das viagens e das longas e árduas que o viajante era obrigado a encarar muitos contavam somente com a hospitalidade dos habitantes das regiões onde passavam.

Nos impérios grego e romano, estalagens e cavernas espalharam-se por toda parte. Os romanos construíram hospedagens requintadas e bem equipadas em todas as principais estradas. Esses estabelecimentos eram muito luxuosos e sofisticados. (WALKER 2002 p. 05).

A atividade comercial associada à hospitalidade é tão antiga quanto o comércio, havendo evidências de locais especializados que ofereciam repouso e acomodação. Em geral os serviços envolviam a oferta de bebidas alcoólicas, embora houvesse hospedarias que proporcionavam apenas acomodação. (LASHEY, 2004, p. 80)

A hospitalidade propicia a troca e o benefício mútuo para anfitrião e hóspede e implica numa dádiva que se constitui em toda prestação de serviços ou de bens efetuada sem garantia de retribuição. Conforme Camargo, “Toda hospitalidade começa com uma dádiva que desencadeia o processo de hospitalidade numa perspectiva de reforço do vínculo social” (CAMARGO, 2004, p.19).

Em um sentido mais amplo, ela é interpretada como uma ação recíproca entre visitantes e anfitriões. Portanto, ela esta associada à relação social, aos vínculos, e mais especificamente, à dádiva.

Para Dencker (2004, p. 189), “a hospitalidade manifesta-se nas relações que envolvem as ações de convidar, receber e retribuir visitas ou presentes entre indivíduos, podendo ser considerada assim como a dinâmica do dom.”

Faz-se necessário a aplicação deste estudo em Teresina, pois percebe-se que a hospitalidade é um dos aspectos mais marcantes da cidade, através da boa receptividade dos moradores da região, se constituindo um fator positivo para o desenvolvimento e aprimoramento do turismo receptivo local.


    1. METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho utilizou-se a pesquisa bibliográfica e documental em livros, revistas, artigos, e em sites oficiais que discutem a questão da hospitalidade e sua relação com o turismo, a fim de fornecer as bases essenciais e fundamentação teórica. Segundo Gil (2009) “esse levantamento bibliográfico preliminar pode ser entendido como um estudo exploratório, posto que tem a finalidade de proporcionar a familiaridade do aluno com a área no qual está interessado, bem como sua delimitação.”

As informações coletadas nos livros, artigos e outros documentos foram selecionadas analisadas criteriosamente a fim de descobrir possíveis falhas, incoerências ou contradições que esses dados possam fornecer, conferindo-os cuidadosamente, oferecendo maior veracidade ao trabalho.

Utilizou-se o método de observação e a sistematização de informações adquiridas através conhecimento empírico. A interpretação, também utilizada, ligou-se à análise e consistiu em expressar o verdadeiro propósito do material apresentado, estabelecendo uma relação causa-efeito na temática hospitalidade e desenvolvimento do turismo receptivo na localidade Teresina. Assim, espera-se que este estudo que sirva de base para futuros trabalhos na área de turismo e hospitalidade.


    1. TERESINA, HOSPITALIDADE E DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

É comum limitar a hospitalidade à hotelaria pelo fato do hotel se “constituir” como uma segunda casa para os turistas, o que dá ideia de acolhimento, mas essa visão se torna reducionista, pois o turista deve ser bem recebido em todos os segmentos que fazem parte do turismo, afinal, é uma atividade que trabalha especificamente com serviços, o que faz do processo de comercialização um pouco mais complexo, pois envolve expectativas e experiências, elementos intangíveis, mais difíceis de serem monitorados.

O turismo em Teresina ainda se desenvolve de uma forma tímida, mas possui um grande potencial para crescer e prosperar, através do seu principal atrativo que são os negócios e eventos, não esquecendo os outros segmentos existentes que também estão em expansão e são importantes para a constituição da oferta turística da região.

Teresina ganha destaque principalmente no seu jeito caloroso de receber os visitantes que chegam. Eles se surpreendem quando se veem uma cidade planejada, limpa, e um povo hospitaleiro, superando assim suas expectativas e expandindo seu nível de satisfação.

Como já foi mencionado anteriormente, um fator positivo que se destaca na cidade é a hospitalidade do povo, o espírito acolhedor e o calor humano que se torna o diferencial da atividade e é um forte elemento propulsionador do turismo receptivo que não é praticado de forma efetiva na região o que torna importante pelo fato de criar um sentimento de satisfação e bem-estar ao turista, que acaba por retornar ao destino por vários motivos, em muitas outras oportunidades, além de levar uma imagem positiva do lugar à amigos, parentes, despertando assim o interesse de conhecê-lo.

Segundo Lashey (2000), há uma série de motivos que justificam a existência da hospitalidade na sociedade, são eles, a saber:

A consideração pelo outro, incluindo o desejo de agradar a terceiros, proveniente da amizade e da benevolência por todos ou da afeição por certas pessoas, a preocupação ou compaixão, isto é, o desejo de satisfazer a necessidade dos outros e a obediência ao que se consideram deveres da hospitalidade. (LASHEY, 2000, p.59).

O bem receber é uma das características essenciais do turismo, pois ao se deslocar o turista deseja encontrar lugares com pessoas agradáveis, bons atrativos, segurança, conforto, bem-estar, e boa receptividade. Dessa forma é dada atenção especial por parte dos profissionais da área a essa temática tão importante para o desenvolvimento da atividade.

Assim, passa a ser exigido das empresas o aprimoramento dos funcionários com relação as competências de comunicação e de qualidade no atendimento, e algumas características específicas como um bom relacionamento interpessoal e grupal, de autonomia, de iniciativa, de criatividade, de cooperação, de solução de problemas e de tomada de decisões, para que possa suprir de maneira satisfatória as necessidades dos clientes, podendo assim, alcançar sua fidelização.

De acordo com Vergueiro (2002, p. 37) “buscar a qualidade de um produto não é a mesma coisa que buscar a qualidade de um serviço, embora haja uma proximidade entre ambos, no que diz respeito ao resultado desejado.”

Diante dessas considerações, torna-se imperativo de se investir em uma educação voltada para a cultura da hospitalidade, questão esta que interfere, de forma vital, no futuro da atividade turística. Ainda tem que se observar o fato da dinamicidade turística, que faz com que os profissionais estejam sempre atentos aos novos segmentos e exigências da demanda, adaptando seus negócios e sua maneira de acolhimento ao cliente.

Conforme cita Walker (2002, p.28), “alguns dos valores da hospitalidade medieval ajustam-se aos dias de hoje, tais como o serviço amigável, a atmosfera amena e a abundância de comida”. A hospitalidade atual está voltada também para os sentimentos de todos os envolvidos no meio turístico. A preocupação vai além da qualidade dos serviços e com o conforto do turista, buscando a satisfação total do visitante.

Ao visitar Teresina, muitos trazem consigo uma visão estereotipada, pois tem uma idéia de que não irão encontrar uma cidade bem desenvolvida e que oferece poucos atrativos, limitada apenas ao segmento de negócios e eventos. Mas ao chegarem, encontram uma boa estrutura física, bons hotéis, uma gastronomia espetacular e principalmente uma receptividade e um acolhimento singular, o que faz uma das marcas da cidade.

De acordo com pesquisas realizadas pela Fundação CEPRO (2008), a taxa de retorno do turista é analisada a partir de dois componentes disponíveis: o primeiro, de caráter “ex ante”, expresso na proporção de respostas afirmativas dos turistas que pretendem regressar de Teresina; e o segundo, de caráter “ex post”, correspondente ao número de entrevistados que afirmaram não ser a primeira vez que visitavam Teresina. Este segundo componente, por sua vez, é utilizado para indicar se a política de atração de turistas do Estado está tendo êxito. A maioria (81,3%) dos turistas entrevistados já esteve em Teresina mais de uma vez. Quanto à taxa de retorno, 93,6% deles demonstraram pretensão de voltar, sendo que 91,0% a recomendariam a outras pessoas.

Através das informações obtidas, pode-se dizer que ao visitarem a cidade, os turistas saem com uma boa impressão e com intenção de retorno, o que implica afirmar que foram bem recebidos e gostaram do atendimento do hotel onde se instalaram, do restaurante que realizaram refeições e dos possíveis atrativos que visitaram, fato que faz com que eles também recomendem a outras pessoas.

De maneira gradativa, as impressões iniciais vão se dissipando em uma velocidade surpreendente, e insistentemente a cidade vem conquistando admiradores por sua forma simples de receber e contagiante de conviver. A visão do visitante mudou, pois ele encontra muitas razões para permanecer, e consegue dar maior valor à sua visita pelas facilidades, equipamentos confortáveis e preços competitivos. Diariamente a capital teresinense dispõe de shows musicais, exposições de arte, lançamentos de livros, peças de teatro, cinema, feiras e muitas outras opções culturais para o entretenimento.

Mas esse acolhimento não deve ser exercido apenas pelos profissionais hoteleiros ou donos de restaurantes, por exemplo, deve ser efetivado por todas as pessoas da cidade e principalmente pelos moradores que, sobretudo são os maiores representantes e o espelho da própria imagem da região. Tem ainda que se atentar para a diferença entre um ser bom hospedeiro (aquele que apenas exerce o ato de receber) e ser bom hospitaleiro (aquele que dá uma atenção mais especial ao hóspede, com uma colhida mais calorosa), e os motivos pelos quais levaram a ter essa atitude gentil com certas pessoas. Segundo Lashey:

O comportamento genuíno hospitaleiro requer um motivo adequado. Mas para alguém ser considerado hospitaleiro isso não depende só de seu motivo, mas também de quão frequentemente ocorre esse comportamento. (LASHEY. 2004, p. 54).

No mundo atual, a tecnologia distancia o homem das relações afetivas com o próximo. O atendimento está cada vez mais mecanizado, realizado através de máquinas e da tecnologia da informação, há necessidade de calor humano e uma maior proximidade entre as pessoas, por isso a hospitalidade é fator tão determinante nesse processo.

Percebe-se que a capital piauiense tem hospitalidade suficiente para oferecer aos visitantes que vem seja para turismo de negócios e eventos, seja para lazer ou simplesmente visitas a familiares e amigos, mas é claro que ela precisa ser melhor gerenciada para dar base ao turismo receptivo, que ainda é falho na localidade. Há carência de guias turísticos, de empresas de montagem de pacotes de city tour, passeios e que trabalhem especificamente com serviços de receptivo.


    1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tendência atual é que haja um crescimento das viagens de forma considerável, surgindo a necessidade de aperfeiçoamento e qualidade na prestação de serviços, especialmente na atividade turística que é tão dinâmica e sensível aos fatores externos. A boa receptividade é fundamental para o desenvolvimento do turismo e é fator preponderante nas relações humanas.

Aos poucos os turistas e os próprios moradores vão descobrindo que Teresina possui potencial para ser efetivamente um destino turístico. Por não praticar o segmento de Sol e Mar, a cidade desenvolveu bastante a área de eventos, e cresceu culturalmente muito mais do que a grande maioria do que os municípios vizinhos. O turista chega com muitos compromissos e negócios a tratar, compras a realizar e amigos a visitar ou a fazer. O cenário da cidade se modificou, pois hoje ela passa a oferecer algo que é tão singular e próprio da sua estrutura: boa receptividade, excelente culinária e muitas opções para quem quer ocupar o tempo.

O novo perfil de cidade turística traz muitas vantagens, pois os governos passaram a admitir que o turismo é um fator de valor significativo para a cidade. O desenvolvimento do turismo em Teresina ajudou a criar uma consciência nos órgãos públicos para a importância de sua inclusão na pauta administrativa, pois inicialmente não era dada nenhuma atenção para essa atividade.

Portanto, o novo conceito de crescimento turístico mostra a população é a principal beneficiária direta do turismo, daí a necessidade de cuidados especiais que as administrações públicas, empresários e a própria população devem ter ao lidar com os visitantes. A hospitalidade na cidade existe e isso é um fato comprovado, mas ainda é preciso que ela seja modelada para ser efetivada de maneira adequada e assim poder ser um elemento essencial no incremento do turismo receptivo da região.


REFERÊNCIAS

CAMARGO, L. O. L. Hospitalidade. São Paulo: Aleph, 2004.

DENCKER, A. F. M. “Considerações Finais: hospitalidade e mercado”. In: DENCKER, A. (Coord). Planejamento e Gestão em Turismo e Hospitalidade. São Paulo: Thomson, 2004.

FUNDAÇÃO CEPRO. [Informações dispersas]. Disponível em: <www.cepro.pi.gov.br/pesqturistica. php>. Acesso dia 24 ago 2010.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4° ed-11. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009.

LASHEY, Conrad. MORRISON, Alison (Orgs.). Em busca da hospitalidade: perpectivas para um mundo globalizado. Tradução de Carlos David Szlak. Barueri. São Paulo. Manole, 2004.

PIAUÍ TURISMO. [Informações dispersas]. Disponível em: <www.piauiturismo.com>. Acesso dia 13 Jun. 2010.

VERGUEIRO, Waldomiro. Qualidade em serviços de informação. São Paulo. Arte e Ciência, 2002.

WALKER, John R. Introdução à hospitalidade. Tradução Élcio de Gusmão Verçosa Filho. Barueri: Manole, 2002.

[1] Jaciara Karolyne Bezerra da COSTA

Acadêmica do 8º Bloco do Curso de Bacharelado em Turismo, da Universidade Estadual do Piauí – UESPI

C.V.: http://lattes.cnpq.br/2765420308512427

E-mail: jacikarolyne@hotmail.com


[2] Roberta Celestino FERREIRA

Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPI/TROPEN/PRODEMA

C.V.: http://lattes.cnpq.br/2617714669449640

E-mail: robertacelestino_the@hotmail.com

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