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A violência está aí: e agora professor?

Marta Nascimento Marques *

publicado em 03/12/2009 como <www.partes.com.br/educacao/aviolencia.asp>

Marta Nascimento Marques é especialista em Ciência do Movimento Humano pela UNICRUZ e em Esporte Escolar pela UNB; Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS; Mestranda em Educação – UFSM. martinhanm@yahoo.com.br
Hugo Norberto Krug é Doutor em Educação pela UNICAMP/UFSM e Doutor em Ciência do Movimento Humano pela UFSM; Professor Adjunto do MEN/CE/UFSM; Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (GEPEF). hnkrug@bol.com.br

Resumo: No mundo atual vivemos no enfrentamento de profundas desigualdades sociais e um grande avanço no nível de violência as quais são refletidas direta ou indiretamente nas condições de vida da nossa infância e adolescência e também na grande maioria das escolas. Dessa forma estas crianças acabam sendo as grandes vítimas da exploração de mão-de-obra, maus-tratos e dos mais diversos tipos de violência. Trata-se de um tipo de violência estrutural, advinda de uma sociedade marcada pela dominação política e de classes e caracterizada por grandes desigualdades na distribuição das riquezas.

Palavras-chave: infância, adolescência, violência, maus tratos, escolas.

Abstract: In today’s world we live in the face of deep social inequalities and a major advance in the level of violence which are reflected directly or indirectly on the living conditions of our childhood and adolescence and also in most schools. Thus these children end up being the main victims of the exploitation of labor force, abuse and various types of violence. This is a kind of structural violence, coming from a society marked by political domination and class and characterized by great inequalities in wealth distribution.

Keywords: childhood, adolescence, violence, abuse, schools.

 

Nesse contexto histórico-social da violência e maus tratos contra seres humanos entende-se a violência como uma ausência de valores, desrespeito ao direito dos outros, etc. Nesse sentido, Abramovay e Rua (2002) associam atos violentos a fatores como: gênero, idade, etnia, família, ambiente externo, insatisfação/frustração com as instituições e a gestão pública, exclusão social e exercício do poder.

Nesse meio, também está inserido o grande problema que é a violência sexual, que sobre tais prevalece uma forte discriminação social, econômica, de gênero e de raça. Dessa forma o paradigma de uma sociedade com direitos rompe com padrões antigos, mas ao mesmo tempo exige a construção de uma nova cultura de proteção e defesa aos direitos humanos da criança e do adolescente.

Temos o conhecimento de que a violência sexual contra crianças e adolescentes é um problema que afeta todo o mundo e sendo assim têm mobilizado diversos segmentos sociais, no sentido de se pensar formas de enfrentamento desta cruel forma de violação de direitos dos menores.

Dessa forma a escola tem compromisso ético e legal de encaminhar às autoridades competentes casos suspeitos ou confirmados de maus-tratos, que inclui a violência sexual, pois diante da gravidade que acarreta todo o tipo de violência para a criança e para o adolescente a escola deve ter como objetivo garantir a qualidade de vida em seu ambiente para seus alunos, bem como promover a cidadania. Nesse sentido fica bem clara a importância da participação da escola nesse enfrentamento, pois é dever da escola, em especial do professor exercer o trabalho de educar crianças e adolescentes sobre os seus direitos e assegurando dessa forma ações preventivas contra os mais diversos tipos de violência possibilitando que as crianças e adolescentes tenham apoio e sejam protegidos com ações educativas, sendo preparados para a autodefesa, à conscientização e à valorização de suas etapas de crescimento. Também é de extrema importância que se trabalhe com os temas transversais, principalmente os referentes à educação afetivo-sexual.

Diante disso cabe ressaltar a importância que a formação do professor esteja fundamentada nos princípios da educação para a cidadania e dos direitos humanos, para poder desenvolver melhor o seu trabalho e responder às necessidades dos alunos e aos objetivos de uma educação democrática. Sendo assim, as leis de proteção à Infância e Adolescência devem ganhar espaço no ambiente educacional e serem contempladas na formação inicial e continuada de todo docente, pois as mesmas contém elementos indispensáveis ao conhecimento do formador para que este possa contribuir mais diretamente para a vivência da cidadania de seus alunos, pois estas leis tratam de valores essenciais como a dignidade, o respeito, a liberdade, enfim sobre valores fundamentais para a vida da pessoa humana.

De acordo com Silva (2000), valores como solidariedade, humildade, companheirismo,  respeito, tolerância ainda precisam ser mais estimulados nas práticas de convivência social, quer seja na família, na escola, no trabalho ou em locais de lazer. A inexistência dessas práticas dá lugar ao individualismo, à lei do mais forte, à necessidade de se levar vantagem em tudo, e daí a brutalidade e a intolerância.

Sabemos que a família e a escola são os pilares fundamentais de sustentação desses valores e conceitos morais e sociais para as crianças e adolescentes, no entanto as famílias vêm enfrentando grandes problemas de desestruturação como o desemprego, alcoolismo, dupla jornada de trabalho dos pais, sobrando pouco tempo para dar atenção aos filhos. Também nas escolas, enfrentamos problemas como a desmotivação dos profissionais pelo baixo salário e desvalorização do seu trabalho, uma pedagogia ultrapassada, falta de incentivo por parte do governo, falta programas de esporte, cultura e lazer, dessa forma acabam passando para os estudantes a situação de ausência de perspectiva social e de uma vida mais digna.

Nesse sentido, faz-se necessário que família e escola exerçam um papel de comprometimento juntas, cada uma fazendo sua parte, pois o importante é educar as crianças para a vida, criando espaços e oportunidades para que aconteça o diálogo na tentativa da resolução de conflitos. Pois sabemos que existem também professores engajados na transformação dessa cultura, que reconstroem novas teorias e práticas na tentativa de evoluir e estarem em constante atualização, para assim crescer juntamente com seus alunos com a finalidade de formar uma sociedade mais harmônica e que acreditam que a mudança está em cada um de nós estarmos envolvidos na tarefa do bem educar.

Para Ortega e Del Rey (2002), em todas as comunidades, qualquer que seja sua cultura, as pessoas têm uma aspiração comum: a busca pela paz, a eliminação definitiva da guerra e da violência, e a luta diária para melhorar a qualidade de vida dos que os rodeiam.

Enfim, vivemos em um país que cada vez mais se luta pela melhoria da Educação para nossas crianças, pela inclusão escolar onde todos possam conviver em um ambiente prazeroso que promova a socialização e desenvolvimento integral e que tenha condições favoráveis para o pleno exercício da cidadania. Para que isso se torne realidade cada um deve fazer a sua parte e promover uma cultura de paz que é o que tanto almejamos.

REFERÊNCIAS:

ABRAMOVAY, Miriam e RUA, Maria das Graças (coords.). Violência nas escolas. Brasília: Unesco, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2002.

SILVA, Aida, M. M. Escola Pública e a Construção da Cidadania: possibilidade e limites. Faculdade de Educação da USP- São Paulo, Tese de Doutorado, 2000.

ORTEGA, Rosario e DEL REY, Rosario. Estratégias educativas para a prevenção da violência. Brasília/DF: UNESCO, UCB (Universidade Católica de Brasília) e Observatório de Violências nas Escolas (UCB), 2002.

* Especialista em Ciência do Movimento Humano pela UNICRUZ e em Esporte Escolar pela UNB; Professora da rede pública de ensino de Santa Maria – RS; Mestranda em Educação – UFSM. martinhanm@yahoo.com.br

 

Como citar este artigo:

MARQUES, Marta Nascimento. A violência está aí: e agora professor? P@rtes (São Paulo). V.00 p.eletrônica. Dezembro de 2009. Disponível em <>. Acesso em _/_/_.

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