Em questão

Feiras livres: um lugar democrático

Por M.ª Amélia Andrade; M.ª Gilcélia Pinheiro; Saulo Rondinelli X. da Silva.*

publicado em 13/02/2008 como <www.partes.com.br/emquestao/feiraslivres.asp>

 

M.ª Amélia Andrade; M.ª Gilcélia Pinheiro; Saulo Rondinelli X. da Silva (foto) são graduados em Geografia – UESC (Ilhéus, BA); Especialistas em Educação Geoambiental – FACSUL (Itabuna, BA.); Professores de Geografia da Rede Estadual de Educação – SEC-BA.

RESUMO: Este artigo procura analisar feiras livres como espaço de relações para os feirantes que em sua maioria são migrantes vindos do campo para a cidade. Neste ambiente os feirantes se identificam pois a feira possui os elementos do espaço rural, criam uma relação de apego e por se tratar de um espaço democrático, passa a ser um lugar para essas pessoas.

PALAVRAS-CHAVE: Feira, Lugar, Feirante, Cidade, Campo

 

MARKET PLACES: A DEMOCRATIC PLACE

ABSTRACT: This paper analyzes market as a local of relationships for marketers that come from the country to city. In this site the marketers feel very well because there are many things from farms and it is democratic. Then they people makes many friendships.

KEY-WORDS: Market, Place, Marketer, City, Country.

 

 

 

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Segundo Carlos (1996), “o lugar é o mundo do vivido, é onde se formulam os problemas da produção no sentido amplo, isto é, o modo como é produzido a existência social dos seres humanos”, sendo assim as feiras livres é um lugar público, muitas vezes descoberto, onde se expõem e se vendem mercadorias, sobretudo, legumes e frutas, sendo realizadas em dias fixos, e é considerada pela população como meio mais barato e acessível de adquirir gêneros alimentícios.

 

Segundo Singer (1987), “a economia de mercado é muito antiga. Desde os pródomos da história, diferentes sociedades organizavam sua vida econômica sob forma de produção especializada de bens que eram intercambiados em feiras sazonais de mercados permanentes”. As feiras eram realizadas ora em mercados locais (comércio de curta distância) ora em feiras periódicas ou fixas, as quais atraíam caravanas de mercadores.

 

2. POUCOS VIVEM SEM AS FEIRAS LIVRES

 

Há quem acredite que as feiras livres é coisa do passado e que em algumas cidades só trazem mais transtornos do que benefícios. A realidade mostra o engano de quem defende esta posição e prova que não inventaram um substituto à sua altura. As feiras livres são ainda imprescindíveis para o abastecimento da população e sua longevidade está plenamente garantida.

 

Mantendo basicamente as mesmas características há centenas de anos, as feira têm conseguido a concorrência de modernos supermercados. Não existindo tecnologia ou eficiência nos caixas de supermercados que substituam o contato direto entre vendedores e compradores, o calor humano, as amizades que nascem do convívio semanal, entre uma barraca e outra.

 

É por se manter em oposição da frieza e da falta de sociabilidade do mundo moderno e informatizado, que a feira livre tem seu lugar garantido nas ruas das cidades de todo o mundo, pois são democráticas, todos são iguais, tratados com a mesma atenção e respeito, e todos prezam essa simplicidade. Haja visto a feira do Centro Comercial de Itabuna, onde os feirantes conhecem seus fregueses, suas preferências e necessidades.

 

 

 

3. FEIRANTES DE ITABUNA, QUEM SÃO?

 

A decadência da economia rural, provocada pelo declínio do cacau na região Sul da Bahia gerou um aumento na população urbana. Para viver, o “ex” homem do campo, agora morador da cidade, busca no contato com o urbano encontrar uma forma de trabalho. E nesse momento a feira constitui-se o elo que liga o homem do campo à cidade.

 

A má fase do cultivo do cacau, sustentáculo da agricultura regional, estabeleceu um caráter específico para os migrantes, os novos moradores da área urbana de Itabuna. As feiras livres se tornam por força das circunstâncias, um espaço acolhedor para viver um trabalho autônomo que não exige muitos pré-requisitos.

Segundo Souza (1930), ” os primeiros contatos com a cidade, com a vida urbana, realizada pelo homem do campo, se dá por intermédio das feiras livres onde estabelece a principio uma relação comercial.” Portanto, a feira livre de Itabuna constitui-se como a primeira referência da cultura e cotidiano urbano par ao homem do campo de costumes rurais, que migra para esta cidade. Isso significa que feira foi o palco de comunhão cultural entre o viver urbano e viver rural. O campo apego a cultura rural foi fator determinante para integração cultural gerada no ambiente das feiras, pois o trabalhador do campo passou não só a relembrar seus costumes mais também a praticá-los, expressá-los.

 

A feira propiciou par o cotidiano de seus trabalhadores um contato com o novo, o homem do campo cujo via suas ações limitadas ao que necessitava da produção do cacau tinha agora um dia-a-dia intrínseco na feira.

 

 

4- AS FEIRAS LIVRES TÊM FUTURO?

 

A feira dá um suporte ao camponês até mesmo porque nela ele tem, quase sempre, toda sua família empregada, ela é uma empresa de caráter familiar e é considerada pela população como o lugar mais acessível e barato para adquirir gêneros alimentícios.

 

Alguns produtos que são comercializados na feira são oriundos do mesmo município, outros precisam de uma relação que inclua as cidades adjacentes. O que estabelece o laço de interdependência entre cidades de uma mesma região.

 

Além da feira se caracterizar também por uma forma de subemprego, onde até crianças trabalham no “carrego” de produtos adquiridos até o carro, ou até mesmo, à casa de quem realiza as compras. Para satisfazer a todos, a feira deve se instalar em locais isolados para este fim, ao reduzir o seu espaço de instalação, o feirante deve estar atento em não minimizar o seu raio de atuação, a fim de não contribuir para o fim das feiras livres.

 

As feiras livres só terão fim se permitir que outros estabelecimentos influenciem os habitantes de sua área de abrangência. E hoje em dia, o comércio está bem diversificado nesse sentido. Visando sempre fornecer o que é típico das feiras, então cresce a concorrência nesse tipo de mercado. A maioria dos moradores que, nos dias específicos, convivem com as feiras nas proximidades de suas casas, não tem uma queixa comprometedora contra as feiras livres e sim as elogiam e estabelecem um laço afetivo com os feirantes, e com aqueles fregueses assíduos que nunca deixam de usufruir de uma feira.

 

 

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A feira livre é um ambiente onde o camponês se realiza na cidade. Amadas ou odiadas, podem até acabar, mais vai levar algum tempo. Apesar das queixas, mínimas diga-se, de quem tem uma na porta de casa e despertado, ainda de madrugada, pelo barulho dos caixotes sendo descarregados, de quem se incomoda com o cheiro de peixe, com lixo espalhado pela rua, e com os transtornos do trânsito e de quem odeia as gritarias dos vendedores, não há sinais de fim da feira, mesmo porque nela o cidadão pode apreciar o frescor daqueles alimentos com direito a escolha diante de um vendedor que tem uma história de vida, pois geralmente quem planta é quem vende.

 

 

6- BIBLIOGRAFIA

 

CARLOS, Ana Fani A . O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996.

 

SINGER, Paul. O capitalismo: sua evolução sua lógica e sua dinâmica. São Paulo: Moderna, 1987.

 

SOUZA, Edinélia Maria O. Memórias e tradições: viveres de trabalhadores rurais do município de Dom Macedo Costa – Ba (1930-1960).

 

 

* Graduados em Geografia – UESC (Ilhéus, BA.);

Especialistas em Educação Geoambiental – FACSUL (Itabuna, BA.);

Professores de Geografia da Rede Estadual de Educação – SEC-BA.

E-mail: geoilheus@hotmail.com

Home-page: http://geoilheus.tripod.com

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