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Anemia Gestacional: relação com o baixo peso do bebê ao nascer e a prematuridade

Amanda de Paula Pereira

publicado em 04/10/2007 como <www.partes.com.br/emquestao/anemiagestacional.asp>

Amanda de Paula Pereira é nutricionista formada pelo Instituto Macapaense de Ensino Superior, pós graduanda em Nutrição Clínica pela UNIJUÍ e pós graduanda em Acupuntura pelo CBES.

O peso ao nascer é um dos mais importantes parâmetros relacionados à morbidade e mortalidade infantil. A Organização Pan-Americana – OPAS estima que pelo menos 30% das gestantes sofrem de anemia e que há uma maior probabilidade dessas mulheres terem bebês de baixo peso. Partindo destas premissas, foi realizado este estudo tendo como objetivo geral identificar a prevalência de anemia em gestantes, atendidas no Hospital da Mulher Mãe Luzia (HMML), que pariram no período de setembro a outubro de 2006 e como desdobramento deste, identificar o perfil dessas gestantes relacionando à presença de anemia, relacionar características da atenção pré-natal à presença de anemia e a presença de anemia na gestação com o peso do recém-nascido ao nascer e com partos prematuros.

Trata-se de uma pesquisa quantitativa, documental, exploratório e seccional. Para a coleta de dados utilizamos um formulário adaptado do prontuário da gestante. A amostra foi composta por 108 mulheres cujos partos ocorreram nos meses de setembro e outubro de 2006, no Hospital da Mulher Mãe Luzia (Macapá-Ap). O processamento dos dados foi realizado com o auxílio do software Epi info, versão 6.04 e apresentada em forma de tabelas e gráficos. Os resultados mostram que a maioria das mulheres, 79 (73,1%), estava na faixa etária de 18 a 33 anos, 15 (13,9%) não realizaram nenhuma consulta pré-natal e 75 (69,4%) tiveram de 1 a 6 consultas. A anemia acometeu 69 (63,9%) das mulheres estudadas. Constatou-se que das mulheres que tiveram anemia, 81,2% dos bebês (56) foram de baixo peso e que 84,8% tiveram partos prematuros, reforçando a relação significativa entre: anemia e baixo peso, anemia e prematuridade. Esses resultados foram discutidos e avaliados, tendo como base dados epidemiológicos e hipóteses que foram formuladas na discussão desses achados.

A gestação compreende uma fase de grande vulnerabilidade para a gestante, em face das várias transformações sofridas em seu corpo em função da gravidez.
Existem muitos fatores que podem interferir no crescimento fetal. Estudos demonstram que a carga genética, o ambiente em que vive a gestante e algumas características maternas – tais como, a idade, o peso, a estatura, a paridade, a saúde e o nível socioeconômico – têm ligação direta com o crescimento e o desenvolvimento do feto durante a gravidez.
Por esta razão, ressalta-se a importância de uma alimentação equilibrada durante o período gestacional. Nesta fase a quantidade de energia, proteína, vitaminas, sais minerais, precisam ser ajustadas a fim de atender as necessidades requeridas para o desenvolvimento do feto e formação da estrutura materna (placenta, útero, glândulas mamárias e sangue).
Uma alimentação deficitária acarretará uma gravidez de risco, tanto para mãe, quanto para o filho, expondo-os a doenças que provavelmente irão deixar sequelas, por vezes, muito sérias.

A importância do conhecimento desses fatores de risco para gestação reside, em parte, na possibilidade de reestruturar a atenção pré-natalínica considerando as situações regionais, vislumbrando uma atenção individualizada e contextualizada. Atenção esta que refletirá nos indicadores de saúde maternos e infantis.
A alimentação ideal para uma mulher em seu período gestacional e o aumento de energia requerido durante este período para que o feto se desenvolva saudável, apresenta-se como objetivo principal da importância de uma nutrição equilibrada no período gestacional, e quais são as complicações para a gestante e seu futuro bebê, caso esta, não receba este tipo de alimentação.
O desenvolvimento deste estudo é de suma importância para a saúde da gestante, e para o entendimento de como a nutrição materna influência no crescimento e desenvolvimento do feto, através da ingestão de alimentos ricos em macronutrientes e micronutrientes, essenciais para este período, em especial a ingestão e absorção do ferro.
O ferro é um nutriente essencial para o organismo, já que está envolvido em diversos processos metabólicos vitais, destacando o transporte de oxigênio e a produção de energia.

Para que a alimentação garanta o fornecimento adequado desse micronutriente é fundamental conhecer os vários fatores dietéticos, fisiológicos, patológicos e interação droga-nutrientes que interferem na sua biodisponibilidade .
Considerando que a taxa de absorção depende do estado de ferro individual, conforme refletido pelo nível das reservas de ferro, quanto menores as reservas de ferro, maiores serão as taxas de absorção. Indivíduos com anemia por deficiência de ferro absorvem aproximadamente 20 a 30% de ferro na dieta, em comparação com 5 a 10% absorvido por aqueles sem deficiência de ferro.
O déficit prolongado do consumo de ferro na alimentação, produz uma carência específica, que pela sua origem é chamada anemia ferropriva. E essa anemia causada pela deficiência de ferro da dieta pode ser mais observada na infância, adolescência e gravidez, períodos cujas necessidades nutricionais de ferro estão aumentadas.
A anemia ferropriva no período gestacional pode acarretar problemas para o binômio “mãe – filho”, particularmente prematuridade e baixo peso ao nascer (WHO, 2001). Também tem sido referido aumento da mortalidade materna por complicações obstétricas, aumento da mortalidade perinatal, e recém-nascidos com baixos estoques de ferro (UNICEF, 1998).

Segundo PUFFER (1987), o peso ao nascer é um dos mais importantes parâmetros relacionados à morbidade e mortalidade infantil, uma vez que o peso e as condições de bem-estar do recém-nascido dependem das condições biológicas, sociais e ambientais, as quais a mulher se expõe durante a gestação. Assim, podemos pensar que o estado de saúde/doença da gestante durante o pré-natal, corrobora para o nascimento de um recém-nascido saudável ou não.
Para Burroughs (1998), entre os vários fatores que podem prejudicar o desenvolvimento normal do feto estão: as mal-formações, os efeitos genéticos, a rubéola materna, a ingestão de drogas pela mãe, a anemia e a desnutrição materna.
Reforçando as ideias antes mencionadas, Vasconcelos (2002 apud BURROUGHS, 1995), ressalta que os problemas enfrentados durante uma gravidez podem afetar o desenvolvimento fetal, a captação precoce para o pré-natal, a avaliação e o manejo dos problemas são de vital importância para o bom desfecho da gravidez e o bem-estar do feto.
Neste sentido, uma abordagem mais eficiente e um compromisso maior na solicitação e análise dos exames de hemoglobina e hematócrito, principalmente na identificação da anemia e consequente tratamento durante o pré-natal, pode minimizar o nascimento de recém-nascido de baixo peso, sejam eles pequenos para idade gestacional ou prematuros, e principalmente, reduzir o risco de mortalidade perinatal, bem como melhorar a qualidade de vida da mãe no período gestacional e pós-parto, situação que denota a relevância deste estudo.

Diante da perspectiva de resgatar a importância da atenção pré-natalínica e medidas preventivas da anemia, é que se pretende abordar o tema já citado, com a intenção ainda, de contribuir para o aprimoramento da atenção saúde-doença da mulher e seu bebê.
A importância do conhecimento desses fatores de risco para gestação reside, em parte, na possibilidade de reestruturar a atenção pré-natalínica considerando as situações regionais, vislumbrando uma atenção individualizada e contextualizada, atenção esta que refletirá nos indicadores de saúde maternos e infantis.
Poucas pesquisas sobre a prevalência de anemia em gestantes se têm desenvolvido na cidade Macapá, contudo, percebeu-se a importância do estudo na medida em que a anemia na gestação se tornou um dado de relevância tanto para a ocorrência de prematuridade, com consequente aumento da morbimortalidade neonatal.
Todas as informações coletadas ao longo do trabalho nos colocam diante de uma reflexão de que mesmo tendo uma significativa cobertura do pré-natal, ainda é preciso aprimorar a qualidade, no que diz respeito ao acesso as consultas e principalmente a acessibilidade aos exames. Esperamos que este ensaio contribua para uma avaliação da atuação pré-natalínica realizada na cidade de Macapá, abrindo caminho para prevenção e controle da anemia gestacional, considerando as implicações descritas neste estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACCIOLY, E.; SAUDERS, C.; LACERDA, E. M. A. Nutrição em obstetrícia, Rio de janeiro; Cultura Médica, 2002.

BODINSKI, L. H. D. Dietoterapia: princípios e prática. São Paulo: London: Jesus & a. Churchill, 1995.
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BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº. 196/96. Decreto nº. 93.9333 de janeiro de 1987. Estabelece critério sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Bioéticas, v. 4, n. 2, supl. 1996.

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GUERI, M. Nutrição da mãe e da criança In: ações de saúde materno-infantil a nível local: Segundo as metas da cúpula mundial em favor da infância. Organização Pan-americana da Saúde. Washington, 1997.

GUYTON, A. C. Fisiologia humana. 6ª edição. Editora Guanabara Koogan, 1984.

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